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Acervo GNTM/RJ - 5 de maio de 2021

Nota de pesar pelo falecimento de Jesús Paredes

O GTNM/RJ lamenta o falecimento do companheiro Jesús Paredes Soto.

“O companheiro Jesús Paredes Soto fez a Grande Viagem e já se encontra nos Verdes e Floridos Campos de Valhalla onde confraterniza com outros guerreiros, seus pares. Chegou com a sua simplicidade e cumprimentou os presentes…

Jesus Paredes foi mais um vítima de Covid.

Jesús Paredes Soto, Presente!

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Revista Piauí
O OPERÁRIO JESUS

Morreu Jesus Parede Soto vítima da Covid. Em junho completaria 73 anos.

Em abril de 1974, nos anos de chumbo, o operário Jesus Paredes Soto estava encarcerado no DOI-Codi da rua Tutoia, em São Paulo. Lá, os presos eram despertados com cinco metódicas pancadas de cassetete nos rins. “Comunista tem que mijar e cagar sangue”, rugia Pedro Antônio Mira Grancieri, o Pedro Marinheiro, também conhecido como “Capitão Ramiro”, um dos assassinos de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho.

Franzino, Soto mal andava depois das porradas – foram onze meses que o deixaram praticamente demente, sem saber onde estava nem reconhecer os amigos. “Eu sentia que ia morrer, como meus companheiros”, comenta hoje, aos 69 anos.

Foi graças à intervenção do cardeal Paulo Evaristo Arns que Soto escapou com vida. O operário, porém, só saberia disso anos depois, já no presídio político do Barro Branco. Certo dia dom Paulo foi visitar os presos, que se amontoaram para recebê-lo. Em dado momento, perguntou: “Quem é Jesus?” Vinda de quem vinha, a questão poderia soar como brincadeira ou desafio teológico. “Sou eu”, respondeu o próprio, relutante, com a voz baixa de sempre. E então o cardeal lhe contou da visita ao DOI-Codi, quando fez saber aos torturadores que tinha conhecimento de que o operário estava lá, e que botaria a boca no trombone caso ele desaparecesse.

Filho de espanhóis que lutaram contra o franquismo e fugiram para o Brasil com os seis filhos, Jesus, o caçula, deve seu nome por ter nascido num dia de Corpus Christi e para homenagear um tio, apelidado Cristo Rosso, combatente comunista na Guerra Civil Espanhola.

Desde os 16, Soto já militava nas organizações de esquerda em Porto Alegre. Num dia de 1969, na funilaria onde trabalhava com o pai e os irmãos, foi procurado por um rapaz e uma moça de sua organização, que o encarregaram de uma missão fora do estado. (A jovem, então com o codinome “Wanda”, viria a ser presidente do Brasil, 42 anos depois.)

Só descobriu sua tarefa ao chegar ao Rio de Janeiro no dia seguinte: queriam que ele arrombasse um cofre. Desconhecendo técnicas de arrombamento, os companheiros recorreram ao rapaz – familiarizado com maçaricos e martelos, ele saberia como agir.

Mas Soto não sabia. Empenhado na causa, porém, passou a noite matutando. O maçarico, pensou, poderia não cortar o aço e ainda por cima queimar todo o dinheiro, mas seria complicado prescindir dele. A solução que bolou previa o uso de brocas e de uma mangueirinha para jogar água dentro do cofre enquanto o maçarico estivesse em ação.

No dia 18 de julho, uma dúzia de militantes tomou de assalto uma casa em Santa Teresa. Era onde morava Ana Capriglione, amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, que a tratava por “dr. Rui” quando se falavam ao telefone. Na casa havia mais de 2 milhões de dólares guardados, conforme souberam por um sobrinho dela.

O cofre pesadíssimo foi retirado da casa graças a um sistema de pranchas que cobriam a escadaria, engenhoca inventada por Soto, e transportado até uma casinha preparada para parecer uma gráfica de subúrbio. Chegada a hora de agir, primeiro furaram o cofre com a broca para encaixar a mangueira. Ainda com a broca, cortaram então o aço que contornava o segredo, cujas traves ficaram expostas, ao alcance do maçarico. A água, retida entre as muitas camadas de metal, pouco molhou as cédulas – eram cerca de 2,5 milhões de dólares.

A partir dessa operação, Soto passou a ser buscado pela polícia, com sua foto afixada em locais públicos (o que não o impediu de, no ano seguinte, participar do sequestro de um embaixador). Mas Soto não admite ser chamado de terrorista. “Somos humanistas”, protesta com voz calma e gestos contidos.

Ao sair da cadeia, em 1979, Soto fez a autocrítica: “A via que escolhemos não tinha como dar certo. Só haveria mudança junto com as massas de trabalhadores.” Ele procurou na época os metalúrgicos de São Bernardo, onde as coisas começavam a fervilhar…”

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-operario/

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