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- 2 de dezembro de 2013

Gustavo Buarque Schiller

1985

 

Filiação: Yedda de Paula Buarque e Sylvio Brandon Schiller

Data e local de nascimento: 19/11/1950, no Rio de Janeiro

Organização política ou atividade: VAR-Palmares

Data e local da morte: 22/09/1985, no Rio de Janeiro

 

Gustavo Buarque Schiller nasceu no Rio de Janeiro e iniciou sua participação como estudante secundarista. Integrou um pequeno agrupamento chamado Núcleo Marxista Leninista e depois se incorporou ao Colina, que em 1969 se transformaria em VAR-Palmares. De uma família rica, era sobrinho de Ana Capriglione, conhecida amante do corrupto governador paulista Adhemar de Barros, que a chamava em código de “Doutor Rui”.

Gustavo forneceu a Juarez Guimarães de Brito, dirigente da VAR, a informação de que na residência de um irmão de Ana Capriglione existia um cofre guardando dinheiro originário da corrupção comandada por Adhemar, morto poucos meses antes. Em 18/07/1969, a organização ocupou a referida residência, levando embora o referido cofre, em cujo interior estavam depositados 2,6 milhões de dólares.

Depois dessa operação, Gustavo foi deslocado para Porto Alegre, onde integrou o comando regional da organização. Documentos policiais o apontam como participante do assalto a uma agência do Banco do Brasil em Viamão, em conjunto com as organizações M3G e VPR, e também dos preparativos do sequestro do cônsul norte-americano em Porto Alegre. Foi preso em 30/03/1970, sendo torturado, tanto no DOPS gaúcho quanto no Rio de Janeiro, numa intensidade que resultou em danos psicológicos irreversíveis.

No livro Verás que um filho teu não foge à luta, o ex-preso político gaúcho João Carlos Bona Garcia, que hoje é juiz auditor na Justiça Militar estadual do Rio Grande do Sul, faz referência a Gustavo na prisão: “Passei assim o primeiro dia. No segundo, tiraram o capuz e vi na minha frente o Bicho, um meninão de 19 anos chamado Gustavo Buarque Schiller, que era da VAR. Estava todo inchado, de nariz quebrado, os lábios rachados. Tinha levado socos, pauladas, o que eles imaginavam”.

Outro ex-preso político, Luiz Andrea Favero, escreveu depoimento relatando ter visto Gustavo no DOPS de Porto Alegre: “Na sala estavam três policiais que depois eu soube serem do DOPS de Porto Alegre e do CENIMAR do Rio de Janeiro e estava também Gustavo Buarque Schiller, que apresentava hematomas e marcas de queimaduras por todo o corpo e se mantinha em pé com certa dificuldade. Neste momento foi ele que passou a receber choques elétricos para confirmar que me conhecia e que havíamos praticado ações subversivas. Esta sessão de torturas e interrogatórios durou mais ou menos 30 minutos”. E resume também um diálogo mantido com ele alguns dias depois: “Gustavo nos relatou que havia sido muito torturado, assim como outros companheiros nossos e nos mostrou marcas de queimaduras pelo corpo que haviam sido feitas com pontas de cigarros acessos. Mostrou-nos também que seu nariz havia sido fraturado e ainda estava muito inchado. Além das marcas de queimaduras pudemos ver hematomas e outros sinais de pancadas nos braços e nas costas”.

Dez meses depois, Schiller foi um dos 70 militantes banidos e enviados ao Chile em troca da liberdade do embaixador suíço, sequestrado no Rio de Janeiro, em 07/12/1970. Passou a sofrer de crises depressivas, causadas pela intensidade das torturas sofridas.

Quando morreu, Gustavo era casado com Lúcia Souza da Rocha, que conheceu em Paris, três anos antes. Tinham uma filha, Joana, que na época de sua morte tinha 1 ano e oito meses. Lúcia relata que Gustavo continuava se ‘auto-exilando’ durante a permanência em Paris, embora tivesse conseguido a nacionalidade francesa. Na Sorbonne, cursou Filosofia, Sociologia e Economia. Com a Anistia de 1979, tinha voltado ao Brasil, indo morar na Ilha de Marajó, em Salvaterra, em uma praia. Ali nasceu Joana, mas suas crises depressivas se intensificaram, tendo tentado o suicídio inúmeras vezes.

Em 1985, foi para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar no estaleiro Mauá, como pesquisador, onde ficou até 21 de setembro. Na madrugada do dia 22 de setembro, cometeu suicídio, jogando-se da janela do apartamento em que morava na avenida Nossa Senhora de Copacabana.

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