Nascido no Estado do Paraná, no ano de 1957, Austregésilo Carrano Bueno foi um dos grandes nomes do cenário político e cultural do Brasil, principalmente na interface entre saúde mental, cultura e direitos humanos. Militante do Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, Carrano elaborou uma das mais fortes críticas às práticas de tortura que eram cometidas no interior dos manicômios brasileiros, os quais ele denominava de chiqueiros psiquiátricos. Carrano sofreu na pele toda a violência da psiquiatria e, após uma série de internações, passou a denunciar constantemente o uso abusivo de eletrochoque e todas as formas de violência contra as pessoas com transtorno mental. Carrano sofreu vinte e uma sessões de eletrochoques e passou a sua vida a lutar contra essa prática nos manicômios brasileiros.
Sua luta política teve grande repercussão através do livro Canto dos Malditos, publicado em 1987. Carrano passou a ser perseguido por denunciar o médico responsável pelas aplicações de eletrochoque. Tendo sido processado e condenado a pagar uma multa todas as vezes que falasse em público o nome do médico. Além disto, Carrano teve seu livro censurado e retirado de circulação.
A história de Carrano foi contada ainda pela cineasta Lais Bodansky no filme Bicho de Sete Cabeças, que traduziu para as telas o livro Canto dos Malditos. O filme foi um dos mais premiados na história do cinema nacional. O filme contribuiu ainda para levar para a sociedade a discussão das práticas que ocorriam no interior dos manicômios brasileiros. Carrano foi homenageado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva quando do lançamento do Programa De Volta para Casa, que passou a promover um retorno à sociedade das pessoas que passaram anos presas nos manicômios brasileiros.
Reconhecido nacionalmente, Carrano passou a escrever sobre outras formas de discriminação que ocorriam no Brasil. Entre seus escritos, encontram-se poesias e peças de teatro.
Sobre os Hospitais Psiquiátricos, dizia Carrano, na 5ª. edição do livro Canto dos Malditos:
Chamo a essas instituições de extermínio, pois, os pacientes sendo sedados em massa, como vem acontecendo, têm reduzido o seu tempo de vida, que varia entre cinco a dez anos no máximo. Com raras exceções duram mais. Os casos crônicos que descrevi no livro, todos já estão mortos (Carrano, Austregésilo; 1989: 134).
Na gestão do Gilberto Gil, no Ministério da Cultura, foi criado o Prêmio Loucos pela Diversidade, com o objetivo de fomentar e difundir a produção artístico-cultural das pessoas com sofrimento psíquico. A primeira edição do prêmio recebeu a denominação de Austregésilo Carrano, e contemplou 55 iniciativas culturais que receberam o prêmio das mãos do Ministro Juca Ferreira.
Austregésilo Carrano Bueno PRESENTE!