Uma psicanalista dedicada às luzes
MÁRIO MAGALHÃES
Jornal Folha de São Paulo da Sucursal do Rio
Nem as dores do câncer impediram a psicanalista Maria Beatriz Sá Leitão de se debruçar na revisão dos três artigos dos quais é coautora e que estão em “Clínica e Política 2 – Subjetividade, Direitos Humanos e Invenção de Práticas Clínicas”. Ela não viveu para ver o livro.
Coautora de outros quatro livros, Beatriz dedicou a vida a amalgamar psicologia e direitos humanos. Como disse a colega e amiga Cecília Coimbra, “Bia pensava uma psicologia crítica, implicada com a realidade brasileira”.
Em 1989, ela integrou a equipe que enviou à ONU o projeto da Equipe Clínico-Grupal Tortura Nunca Mais. O programa dá assistência psicológica a vítimas da violência do Estado, em qualquer tempo, dos anos de ditadura a hoje. Beatriz presidiu a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia-RJ.
Pianista amadora, ela cultuava samba e jazz. Ontem de manhã, no cremat rio do cemitério do Caju, no Rio, os amigos a homenagearam ao som de “Always Say Goodbye”, de Charlie Haden.
Os jovens que a conheceram na década de 80 não esquecem a beleza solar e a generosidade de compartilhar a sabedoria com os amigos do filho -sempre pelas luzes, contra o obscurantismo.
Viúva, ela morreu ao 65. Deixou o filho Sérgio e o neto Henrique, 3. Sua nora Luísa faria ontem à tarde o segundo exame para acompanhar a gestação do bebê que será o segundo neto de Beatriz.
Olá, companheiros!
Recebi, com imensa tristeza, enorme pesar, a notícia do falecimento da Beatriz Sá Leitão, que foi, durante mais de dois anos, terapeuta do meu filho. Ainda nem tive coragem de dar a notícia a ele. Recebi somente agora esta triste notícia, portanto, não pude comparecer ao seu sepultamento, não houve tampo, já aconteceu! fico triste de não ter podido ir, portanto, queria lhe pedir, Zélia, e a vocês, companheiros do grupo, o grande favor de me enviar por e-mail o dia da missa de sétimo dia, se houver, ou culto ecumênico, ou qualquer outro tipo de celebração ou homenagem, pois faço questão de estar presente, assim como tenho certeza de que meu filho irá também querer comparecer.
Abraços a todos do grupo, solidária na dor da saudade e na tristeza da perda desta grande companheira! que o seu exemplo de luta – mulher tão aguerrida que sempre foi – nos acompanhe na caminhada!
Fátima
Meus Inestimáveis Amigos do Tortura Nunca Mais
Esta notícia me deixa consternado e muito pesaroso, pois sempre desejei (no mais profundo de mim) que esta doce e afetuosa amiga pudesse nos ultrapassar em nossas termináveis e intensas vidas. Sempre desejo que os amigos nobres e verdadeiros aliados, como a “Beatriz Sá Leitão”, possam e pudessem nos fazer muitos de nossos elogios póstumos (todos merecidos por nossa defesa intransigente dos Direitos Humanos e contra todas formas de discriminação e torturas).
Foi essa gentil e sempre companheira Beatriz que nos oferecia sua casa, seu apartamento, para que lá nos reunissemos, inclusive com nossos supervisores, lembrando que foi lá que Guattari nos brindou um dia com uma brilhante orientação/exposição, nos tempos instituintes do Núcleo de Psicanálise e Análise Institucional. Essa mulher sempre alegre e alerta para as posições deformadoras do conhecimento psi e das produções de subjetividade…, lutando contra a homogeneização, a naturalização e a supervalorização da identidade nas práticas psi… vivia trocando com todos, com toda sua doce suavidade, seus conhecimentos e suas descobertas. É essa pessoa singular e de multiplas capacidades/multiplicidades que perdemos.
A mim que com ela aprendi algumas muitas coisas e, entre todas a mais preciosa: o quanto podemos ao respeitar o Outro, dignificando e re-conhecendo suas diferenças, com ele aprender e desejar TRANSVER O MUNDO, como ela dedica em poesia de Manoel de Barros, ao final de seu artigo com uma de suas/nossas parcerias, Cecília Coimbra. Transvisão que agora em seu devir-borboleta, pela suavidade e leveza, me traz uma coincidencia (agor