EDITORIAL

 

Generosidades, Indignações...

“Aos companheiros e companheiras
que, em nossos caminhos comuns,
deixaram todos – os melhores momentos
de sua juventude; quase todos – um
pouco de seu sangue; muitos – e
quantos! a própria vida.”
(Apolônio de Carvalho)

É com este belo texto que Apolônio de Carvalho abre o seu “Vale a pena Sonhar” (Ed. Rocco, 1997). Dedica a seus companheiros(as) este livro, que conta a sua doce e heróica militância.
Com ele abrimos este Editorial, pois temos que continuar teimosa e insistentemente lembrando esses e muitos outros companheiros anônimos que deram, e continuam dando sua juventude, seu sangue e sua vida para pensar, criar novos modos de viver e estar neste mundo. Mundo que, na contemporaneidade, vem sendo marcado pelo poder sobre a vida, nas suas mínimas e mais simples afirmações.
Controle, tutela e “cantos de sereia” acontecem quase que naturalmente e, se não tivermos cuidado, somos engolidos por eles, somos facilmente tragados por uma série de dispositivos criados para nos desqualificar, menorizar, disciplinar e produzir em todos nós o desejo de continuarmos sendo vigiados, controlados e tutelados em nome de nossa própria segurança. Em nome dela, vale tudo!
A famosa doutrina da Segurança Nacional vigente nas ditaduras latino-americanas, nos anos de 1960 e 1970, se faz presente hoje com outras caras, com outras fisionomias.
Daí a importância de atos como a Medalha Chico Mendes de Resistência, de repúdio à naturalização que se faz da tortura e dos desaparecimentos, de “escraches” que apontam para toda a sociedade o que certos torturadores fizeram, onde vivem e se escondem.
Para nós que trazemos – somente do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ – 27 anos de resistências, ameaças, perdas e ganhos, tristezas e alegrias, nos emociona ver a participação ativa da juventude em vários desses atos.
Juventude que vai se apropriando de sua história, sistematicamente silenciada e amordaçada pelos diferentes governos civis desde 1985.
Juventude que repudia a tortura, a ocultação de corpos e que exige nas ruas: investigação, publicização e responsabilização de todos aqueles que cometeram crimes contra a humanidade em nome da “segurança do regime”.
A esta produção de esquecimento respondemos com a afirmação de outras histórias, de muitos testemunhos até então calados.
A esta pontuação da apatia e da passividade respondemos com a generosa participação da juventude, inventando novas formas de fazer política.
Que nosso passado recente possa efetivamente estar no presente de todos nós! Que possa ser conhecido por todos!
Que nossas utopias ativas possam ser reinventadas a cada dia!

Pela Vida, Pela Paz,
Tortura Nunca Mais

Diretoria do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ