ARTIGOS

 

Manifesto – A tortura continua...

Carlos Beltrão do Valle

 

 

Venho, através deste manifesto, apresentar minha visão sobre o protesto contra o debate “1964 – A Verdade”, que ocorreu no último dia 29 de março, no Clube Militar, na Av. Rio Branco, centro do Rio de Janeiro. No local, militares da reserva comemoravam a ditadura de 1964, chamada por eles de “revolução”. Outra mentira deles é dizer que o golpe foi dado no dia 31 de março, e não no dia 1º de abril – dia da mentira, por razões propagandísticas óbvias.

 

 

Diante desse cenário absurdo, ao sair de meu expediente, compareci ao protesto, que ocorria em frente ao meu local de trabalho. Fui cumprir com meus direitos de cidadão: pedir justiça pelos crimes contra a humanidade cometidos por esses senhores, que mataram e desapareceram com centenas de pessoas; e torturaram milhares. O Brasil foi condenado pela OEA e já deveria estar cumprindo a sentença (1) Ao invés de estarem presos, estes ilustres senhores celebram anualmente o golpe de Estado e seus crimes. Isso é uma afronta, ainda mais para mim, que tive um tio que foi desaparecido (Ramires Maranhão do Valle, presente!) e pais que foram barbaramente torturados na ditadura.

Como muitos, cerca de 500 presentes ao longo do dia, coloquei o dedo na cara de um desses senhores e gritei: “Golpista, torturador, assassino!”. Ele me deu um tapa na cara e reagi com um chute. Depois dessa humilhação – tomar um tapa na cara de um torturador –, os policiais militares se voltaram exclusivamente contra mim, que tentei fugir. Após correr 500 metros, vendo que seria alcançado, me entreguei. Botei as mãos na cabeça e virei de costas, conforme mandavam. Mesmo obedecendo e já rendido, comecei a ser agredido com golpes de cassetete na cabeça e, mesmo caído no chão, fui chutado e pisoteado na cabeça. Levado à delegacia, constatei que somente eu tinha sido levado para a averiguação e o torturador não. Resolveram me liberar, pois como poderiam me prender, se a “vítima” simplesmente não existia?

 

 

Por que somente eu fui preso? Por que fui espancado, se já rendido (mesmo em plena luz do dia e no centro financeiro do Rio)? Estaria vivo se fosse na Baixada Fluminense, à noite, sem testemunhas? Por que a polícia continua torturando e matando os pobres, mesmo após a ditadura? Por que o Brasil não cumpre a sentença da OEA, prendendo os torturadores e resolvendo o seu passado? Por essas e outras questões não podemos nos iludir. Não vivemos uma democracia, nossa sociedade só aumentou os problemas da ditadura: tortura, assassinato e desaparecimento pelas forças policiais. O que mudou foi o alvo.

 

 

Eu exponho a minha visão, não tenho medo. Sou funcionário da Caixa e estudante da UNIRIO. Gostaria que esse torturador tivesse comparecido à delegacia para prestar sua queixa contra mim. Que saísse das sombras e apresentasse sua versão. Poderíamos inclusive aproveitar a oportunidade para esclarecer sobre seu passado, sobre as pessoas que torturou e assassinou. Talvez meu tio? Quando minha família saberá?

Assista aos vídeos do protesto:


Vídeo oficial do protesto (versão dos manifestantes):
http://www.youtube.com/watch?v=pU08Qu2BjTY&NR=1&feature=endscreen
(errata: nesse vídeo, digo que mataram meu pai. Na verdade mataram meu tio. Nervoso, errei ao gritar)

Versão da Globo:
http://oglobo.globo.com/videos/t/todos-os-videos/v/catalogo/1880891
(errata: nesse vídeo, quando falo, por duas vezes "revolução de 64”, é sarcasticamente, fazendo gestos de aspas com as mãos. A Globo, na edição final, tirou a minha imagem nesses trechos, deixando só o áudio, tentando distorcer os fatos, como se a denominação "revolução" fosse a correta, aceita inclusive por um manifestante. A Globo, que apoiou a ditadura no passado e se referia a ela como revolução, parece não ter mudado nada. Por isso importância da mídia independente)

http://www.youtube.com/watch?v=hVgxHjLUFDA&feature=related
(no final desse vídeo, o companheiro Cinco é atacado covardemente com gás de pimenta)

  1. www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_por.pdf

Em 31 de março de 2012

 

Lembraremos Sempre: de repente olha eu de novo...

Joana D`Arc Fernandes Ferraz
(Profª Adjunta da UFF. Doutora em Ciências Sociais)

Quando um muro separa uma ponte une (...)
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí ...
(Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)

Estamos em 29 de março de 2012, três dias antes de 1º de abril de 2012. Já se passaram 48 anos desde o golpe de Estado que pôs fim à democracia, à defesa dos direitos  inalienáveis da pessoa humana... e que abortou o sonho de várias gerações. Golpe que também pôs fim à luta pela reforma agrária, reforma educacional, reforma fiscal e diversas outras reformas que estavam em curso no País.

Fazendo uma sucinta avaliação destes 48 anos, o que os militares conseguiram, com o apoio do capital internacional, com o apoio da elite econômica deste país, e com o apoio das religiões apartadas do povo, foi este Brasil que estamos vendo nestas imagens expostas na rede sobre o evento. Brasil que até agora não apurou os crimes de mortes, desaparecimentos, torturas, crimes esses que não têm prescrição legal, pois os seus resultados ainda permanecem. Muitas famílias foram atingidas, muitos operários, donas de casa, estudantes, intelectuais, militares da esquerda, religiosos da esquerda, crianças, idosos, ao todo, em torno de 50 mil pessoas neste país foram atingidas (dados oficiais do governo Lula/Dilma).

Até agora os arquivos da ditadura permanecem fechados. Até agora não foram apurados esses crimes. Perguntas básicas nos perseguem há 48 anos: ONDE? QUANDO? COMO? POR QUÊ? POR QUEM? Quem responderá pelos nossos mortos, desaparecidos, torturados, estuprados, abortados? Quem dirá onde estão os nossos mortos e desaparecidos? Muitos dos que executaram estas ações ainda estão vivos e aparecem nestas imagens. Até agora não conhecemos todos os torturadores e todos os colaboradores.

A Lei de Anistia, interpretada de forma errônea, colaborou para que estas perguntas permanecessem sem resposta por quase meio século. Até agora não se fez reforma agrária, reforma educacional e tantas outras. Até agora permanecem as informações que a grande mídia, criada no golpe, quer transmitir. A sociedade cobra, os mortos cobram, os silenciados e os traumatizados cobram.

Hoje, não podemos mais falar somente daqueles que foram atingidos. TODA A SOCIEDADE FOI E É ATINGIDA PELOS REFLEXOS DESTAS ARBITRARIEDADES E PELO DESCASO DO GOVERNO LULA/DILMA. Passados 48 anos permanecemos no velho esquema de mortes, torturas, desaparecimentos. Em cada morro, favela, delegacia, presídio... todos os dias, muitos são mortos, desaparecem, são torturados. A polícia reprime movimentos de protesto em todos os lugares. Mesmo assim, VAMOS CONTINUAR, VAMOS PERMANECER NA LUTA POR UM MUNDO SEM DONOS, NA LUTA PELA TERRA PARA TODOS, NA LUTA PELA EDUCAÇÃO, SAÚDE, TRANSPORTE, LAZER E IGUALDADE PARA TODOS.

Hoje, vamos dormir com o gosto de mais uma Vitória, de uma outra História, de uma outra Memória e de uma outra Verdade. Não queremos Comissão da Verdade composta de militares, como está articulada pelo governo Dilma. Queremos que Outra Verdade, a que dignifique a nossa história e a nossa luta, seja revelada e que os culpados respondam pelos crimes de lesa-humanidade que cometeram. Essa memória não pode ser apagada, escondida e conciliada como o governo Lula/Dilma estão fazendo.
... De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco...  

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Meu nome é medo

 

Frei Betto

Meu propósito é dominar corações e mentes. Incutir em cada um o medo do outro. Medo de estender a mão, tocar em cumprimento a pele impregnada de bactérias nocivas.

Medo de abrir a porta e receber um intruso ansioso por solidariedade e apoio. Com certeza ele quer arrancar-lhe algum dinheiro ou bem. Pior: quer o seu afeto. Melhor não ceder ao apelo sedutor. Evite o sofrimento, tenha medo de amar.

Quero todos com medo da comunidade, do vizinho, do colega de trabalho. Medo do trânsito caótico, das rodovias assassinas, dos guardas que intimidam e achacam. Medo da rua e do mundo.

Convém trancar-se em casa, fazer-se prisioneiro da fragilidade e da desconfiança. Reforce a segurança das portas com chaves e ferrolhos; cubra as janelas de grades; espalhe alarmes e eletrônicos por todos os cantos.

Faça de seu prédio ou condomínio uma penitenciária de luxo, repleta de controles e vigilantes, e no qual o clima de hostilidade reinante desperte, em cada visitante, uma ojeriza ao prazer da amizade.

Tema o Estado e seus tentáculos burocráticos, os pesados impostos que lhe cobra, as forças policiais e os serviços de informação e espionagem. Quem garante que seu telefone não está grampeado? Suas mensagens eletrônicas não são captadas por terceiros?

O mais prudente é evitar ser transparente, sincero, bem humorado. Sua atitude pode ser interpretada como irreverência ou mesmo ameaça ao sistema.

Fuja de quem não se compara a você em classe, renda, cultura e cor da pele; dos olhos invejosos, da cobiça, do abraço de quem pretende enfiar-lhe a faca pelas costas.

Tenha medo da velhice. Ela é prenúncio da morte. Abomine o crescimento aritmético de sua idade. Jamais empregue o termo "velho”; quando muito, admita "idoso”.

Tema a gordura que lhe estufa as carnes, a ruga a despontar no rosto, a celulite na perna, o fio branco no cabelo. É horrível perder a juventude, a esbeltez, o corpo desejado!

Tenha medo da mais terrível inimiga: a morte. Ela se insinua quando você fica doente. Saiba que ninguém está interessado em sua saúde. Em seu bolso, sim. Basta adoecer para verificar como haverão de humilhá-lo os serviços médicos e os planos de saúde.

Não se mova! Por que viajar, abandonar o conforto doméstico e se arriscar num acidente de ônibus, navio ou avião? Nunca se sabe quando, onde e como os terroristas atacarão. Quem diria que numa bucólica ilha da pacífica Noruega o terror provocaria um genocídio?

Meu nome é medo. Acolha-me em sua vida! Sei que perderá a liberdade, a alegria de viver, o prazer de ser feliz. Mas darei a você o que mais anseia: segurança!

Em meus braços, você estará tão seguro quanto um defunto em seu caixão, a quem ninguém jamais poderá infligir nenhum mal, nem mesmo amedrontá-lo.

Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.
Enviado por Carta O BERRO

 

 

O entulho ditatorial da Justiça Militar e o acobertamento do estupro

*Juliana de Oliveira Carlos

Um jovem soldado de 19 anos foi estuprado por quatro companheiros de caserna na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em um caso que, de início, parecia simples.

Após a denúncia feita pelo rapaz que não teve seu nome revelado, e de parecer de especialistas atestando a veracidade de sua denúncia, o Ministério Público Militar decidiu passar por cima das evidências e considerar o estupro como uma relação sexual consentida entre os soldados.

Devido a esta decisão, a vítima passa a ser considerada ré, pois de acordo com o artigo 235 do código penal militar, a “pederastia” é passível de punição: “Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito à administração militar.” Em outras palavras, a homossexualidade é tratada pelo Exército Brasileiro como um crime,  o que se choca frontalmente com a Constituição do país e as liberdades individuais dos cidadãos.

O jovem foi estuprado enquanto cumpria punição disciplinar por supostamente ter faltado a um horário de plantão durante cumprimento do serviço militar obrigatório junto ao Parque Nacional de Manutenção em Santa Maria. Punido com 10 dias de prisão por sua suposta falta, foi estuprado em 17 de maio de 2011, no quinto dia de reclusão e, logo depois, permaneceu mais oito dias internado no hospital da guarnição do município sem que seus pais tivessem direito a qualquer tipo de informação sobre seu estado ou mesmo sobre as razões para sua internação.

Mesmo em relação à punição inicial há controvérsias. Segundo fontes, um colega teria sido escalado e o jovem acabou punido em seu lugar. Além disso, sofreu maus tratos ao ser impedido sequer de trocar de roupa ou de receber uma muda de roupas entregue por sua mãe no quartel.

Hoje o jovem encontra-se em liberdade e, segundo sua família, demonstra comportamento suicida, o que não é  uma surpresa em face de poder virar réu depois de ter sido brutalmente violentado.
Por se tratar de uma investigação sigilosa, pouco saiu na mídia sobre o caso.

Um exame foi feito dez dias após a denúncia e comprovou a violência, porém não foi capaz de recuperar nenhum vestígio genético que pudesse apontar a autoria do abuso.

O Sargento Fernando Alcântara, que ficou conhecido por sua luta pelo fim da criminalização da homossexualidade dentro do Exército, junto a seu companheiro, o também Sargento Laci Marinho, está acompanhando o caso.

Fernando, que nas últimas eleições foi candidato a deputado federal pelo PSB e comanda a ONG Instituto SER de Direitos Humanos, cujo objetivo é o de denunciar abusos dentro das Forças Armadas, protocolou  uma representação junto à Procuradoria Geral da República pedindo acompanhamento do caso por um Procurador Federal do Rio Grande do Sul, porém o Ministério Público Militar logo denunciou a vítima e os quatro estupradores como réus baseado na tese do “sexo consentido”.

Ele ainda acrescenta que pelo menos 20 testemunhas do estupro, que estavam presentes no alojamento onde tudo ocorreu, estão sendo silenciadas pelo medo.  Todos eles juraram estar dormindo durante a sessão de pelo menos 30 minutos de estupro que ocorria em um dos cantos do alojamento.

Uma petição ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) está sendo preparada para tentar conter o Ministério Público Militar, em sua tentativa de criminalizar a vítima. Paira ainda a suspeita de acobertamento por parte do exército que, ao trasladar a vítima (agora possível réu) ao hospital, procurou um médico, um infectologista, para que este aplicasse injeções contra doenças sexualmente transmissíveis no rapaz, frente ao que o médico recusou, afirmando que só o faria depois de uma consulta com o paciente.

O exército ainda dificultou qualquer exame comprobatório do estupro,  isolando o jovem de sua família e impedindo a coleta de material até que nenhum vestígio que pudesse indicar os culpados fosse encontrado. Como era de se esperar, o jovem foi igualmente ameaçado para se calar e, em seu primeiro depoimento à justiça militar, não teve o acompanhamento de um advogado. No segundo interrogatório o jovem não pôde conversar com seu advogado, com antecedência, lhe sendo negados direitos básicos.

Não bastasse o exame comprobatório da violência contra o jovem, o advogado da família da vítima ainda apresentou às Forças Armadas um laudo comprovando que o jovem sofre de deficiência mental moderada, ainda que não estivesse explícita a extensão da deficiência. De qualquer forma, isto seria suficiente para impedir o ingresso do jovem recruta no serviço militar e comprova a falha no processo de admissão.  Ademais, impediria qualquer tipo de processo, pois o jovem passa a ser considerado inimputável, por não ter plenas condições mentais.

A família da vítima também diz que foi ameaçada pelo exército,  o que demonstra um modus operandi perverso para tentar abafar o caso – no que o exército tem sido bem sucedido até o momento.

A discussão, no entanto, vai além do acobertamento do estupro de um jovem e da tentativa da justiça do exército de aplicar sua legislação ultrapassada e preconceituosa, mas recai sobre a própria existência de um Ministério Público Militar e de uma justiça paralela, com leis próprias diferentes das que regem os civis do Brasil.
Não é aceitável a existência de uma justiça paralela, independente apenas para garantir a sobrevivência de preconceitos e abusos de poder e para manter funcionando uma hierarquia perversa. É preciso fazer valer a Lei 8.429 de 2 de junho de 1992 que reza sobre os crimes cometidos por agentes públicos para que toda a hierarquia do Exército ligada a este acobertamento seja julgada, incluindo-se o atual comandante do Parque de Manutenção do Exército em Santa Maria/RS e o próprio General Sérgio Etchegoyen, comandante da 3ª Divisão de Exército.

*Juliana é socióloga. Militante do GTNM/RJ

 

Carta para a filha de Rubens Paiva

*Maysa Machado

Querida Eliana

Não tenho palavras. Convivi com o Rubens num tempo tão intenso quanto breve.

Ali, no sobrado em que vocês moravam, na Delfim Moreira, acompanhando meu sogro Raul, ou vendo os dois caminharem na areia molhada perto do mar. Lembro da mesa de ping-pong, da algazarra da criançada. O sorriso da Eunice. Uma família em uma casa feliz.

Encontrava-o indo para a praia, e ele voltando. Atencioso, parava, iniciava uma breve conversa. O jeito bonachão, sorriso no rosto, o corpo muito branco, calção largo. Seu pai era um senhor agradável, educado e muito amigo dos amigos. 

Como os tempos mudaram! Era um senhor aos meus olhos mais jovens, e tinha a mesma idade que meus dois filhos têm, hoje. O Luiz Antonio, jornalista, 42, e o mais novo, Carlos Eduardo, professor, vai fazer 41, em junho. Estava grávida, de quatro meses, do meu segundo filho, e como não havia, àquela época, os exames por imagem, nem sabia se seria menino ou menina.

Ele adivinhava, brincando com meu estado: – Vai ser um menino. E concluía divertido... Tomara, assim vocês (Eu e Luiz Carlos) não vão precisar alugar outro apartamento!. Com dois meninos podem continuar no ap. de sala e dois quartos. Nós morávamos, num pequeno apartamento na Urca, mas estávamos com frequência na casa de Raul e Beatriz, no Leblon.

Li o jornal O Globo, de sexta, e assisti o Doc. da Globo News, Espaço Aberto Miriam Leitão, mais o Doc. realizado em S. Paulo, para a exposição "Não tens epitáfio pois és bandeira". Fico muito comovida... e triste por tanta violência e arrogância, acompanhada de impunidade, que permanece neste mundo. Hoje, a lembrança se mistura com a esperança de que a justiça não falhe, pois vem tardando.

Minhas lembranças... a convivência com o Rubens, num tempo tão intenso quanto breve, repito, são tristes. Um homem suave e alegre, morto pela violência dos que estavam certos da impunidade.

Porém, ao ler e ver o tal Gal. senti que é alguém desprezível, com argumentação fraca sob aparência da lógica e em suposições da hierarquia militar. A Comissão da Verdade não mudará as regras da Anistia que foi negociada. Saber a Verdade deve doer para os familiares dos torturadores tanto quanto dói para as famílias e amigos dos mortos e desaparecidos – o luto em suspenso. Não ter o morto para chorar, não poder encerrar o ciclo é tortura que os familiares ainda sofrem.

A discussão central é sobre a violência de Estado cometida. A violência com que os militares e civis, em nome do Estado Brasileiro agiram. Sem nosso conhecimento, em nome dos cidadãos, torturando, matando e desaparecendo com os corpos. Não há justificativa, sob qualquer aspecto que se observe. Saber a verdade permanece como um direito do povo brasileiro e de cada familiar/amigo.

Admiro o promotor Otávio Bravo que rejeita a tese que há dois lados a serem investigados. E ele é filho e neto de militares, por certo progressistas. O fato do Brasil ter sido condenado na Corte de DDHH, por omissão na apuração, sobre o caso da Guerrilha Araguaia, foi determinante para que tentasse um novo caminho jurídico.

Não vamos esmorecer, vocês – os filhos de Eunice e Rubens – são nosso melhor exemplo.

Faço parte do GTNM-RJ e, nossa luta histórica pela abertura dos arquivos da Ditadura nos faz compartilhar com inúmeras famílias vítimas da violência do Estado Brasileiro, no período do Regime Militar.

Um carinhoso abraço em cada um de vocês.

Saibam que alguns brasileiros sofrem pelo desaparecimento de homens dignos e que são motivo de orgulho e resistência para continuarmos querendo justiça e respeito aos Direitos Humanos.

Pela Vida pela Paz Tortura Nunca Mais

Maysa é professora e escritora. Militante do GTNM/RJ

 

Continua a luta pelo fim do despejo da área de Canaã, em Rondônia

Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental – LCP

Reproduzimos nota da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental sobre a resistência dos camponeses e as tentativas da "justiça" de Rondônia de despejá-los de suas terras, na área Canaã. No dia 19 de março, os camponeses fizeram grande mobilização a fim de suspender a expulsão. Camponeses de outras áreas, comerciantes e caminhoneiros se juntaram ao protesto.

Em 19 de março, antes das 5 horas da manhã, cerca de 150 camponeses fecharam a ponte sobre o rio Jaru exigindo a suspensão imediata do despejo da área Canaã, ordenado pelo juiz José Augusto Alves Martins, de Ariquemes. Estenderam faixas, empunharam bandeiras vermelhas, gritaram palavras de ordem, queimaram pneus. As mulheres e crianças estavam presentes na linha de frente, pois serão as mais prejudicadas se o despejo ocorrer. As ferramentas de trabalho e uma pequena amostra da produção camponesa exposta na estrada deixavam claro que era um protesto de trabalhadores.

A maioria dos manifestantes eram das áreas vizinhas a Canaã e Raio do Sol. Alguns camponeses de outros lugares que estavam em Jaru também somaram-se ao protesto, assim como os caminhoneiros, trabalhadores e comerciantes da cidade, jornalistas honestos e pessoas de todo estado que escreveram comentários de apoio na internet.

A BR ficou interditada por mais de 10 horas, causando um engarrafamento de mais de 15 quilômetros. Ao final do protesto, os produtos camponeses foram distribuídos para a população.

A principal conquista dos camponeses foi a divulgação da injustiça que estão sofrendo por parte do velho Estado.

Durante o protesto, o Ouvidor Agrário Nacional Gercino da Silva ameaçou pessoalmente os camponeses por mensagem eletrônica e por telefone: “(...) se os trabalhadores rurais sem-terras não liberarem imediatamente o quilômetro 423 da BR-364, no município de Ariquemes, não haverá a reunião com os proprietários da fazenda Arrobas/Só Cacau, no dia 20 de março de 2012, e, em consequência, haverá o cumprimento da reintegração de posse com o ‘despejo’ dos trabalhadores rurais sem-terras que ocupam a mencionada propriedade rural.”

Quando é para defender um direito dos camponeses, o Sr. Ouvidor Agrário só ouve e diz que não pode fazer nada além de ofícios inúteis. Mas quando é para combater um protesto justo das famílias ele tem poder de despejar as famílias! Na reunião de terça-feira com Flávio Ribeiro, novo superintendente do Incra, os camponeses não conseguiram nada de novo nem de concreto, só promessas. Ele chegou a propor que os camponeses saíssem das terras e aguardassem uma solução, absurdo que as famílias já tinham rejeitado veementemente outras vezes.

Mais dois exemplos de como o governo Dilma (PT) é contra o justo e sagrado direito dos camponeses pobres terem uma terra para trabalhar.

Juiz José Martins ordena também o despejo dos camponeses da área Raio do Sol

O juiz de Ariquemes, José Martins também ordenou o despejo da Área Raio do Sol a partir do dia 26 de março. Lá vivem quase 40 famílias desde 2005. O estranho é que  Galhardi, que se diz dona da área, está em São Paulo tratando da saúde do filho e seu nome não aparece como solicitante desse despejo. O mesmo ocorreu na última ordem contra o Canaã onde não aparece o nome de João Arnaldo Tucci, que se diz o dono da área. É como se o juiz José Martins estivesse movimentando sozinho os processos. O que ele estaria ganhando em troca?

Tudo leva a crer que a Sra. Ângela Semeghini está por trás de tudo. O nome dela não aparece em nenhum processo do Canaã ou Raio do Sol, mas ela é quem está à frente de todo o tormento contra os camponeses. Ângela Semeghini é dona de cartório em Ji-Paraná e todos sabem a máfia que existe em Rondônia envolvendo latifundiários e donos de cartórios. É gente deste tipo que o juiz José Martins está protegendo.

“Quem gosta de nós somos nós e aqueles que vêm nos ajudar”

Os camponeses não têm mais ilusão com a justiça nem com a Ouvidoria Agrária e Incra, órgãos da gerência Dilma (PT). As famílias estão certas de que não conquistarão suas terras sem luta combativa. Sabem que só podem contar com elas mesmas, com os camponeses pobres de todo o estado e com quem ajuda sem interesse. Por isso, mais uma vez conclamam o apoio ativo dos camponeses, estudantes, trabalhadores e comerciantes da cidade e democratas.

Fim imediato dos despejos das áreas Canaã e Raio do Sol!
O povo quer terra, não repressão!
Terra pra quem nela vive e trabalha!