PROJETO MEMÓRIA


GUERRILHA DO ARAGUAIA

 

DIÁRIO DE MAURÍCIO GRABOIS

Por Victória Grabois

A revista Carta Capital, em 27/04/2011, ano XVI, nº 643, publicou uma matéria de autoria do jornalista Lucas Figueiredo sobre um suposto diário de Maurício Grabois, comandante da Guerrilha do Araguaia. Segundo o autor da reportagem, o diário começou a ser escrito 18 dias após o início dos combates na região do Araguaia (sul do Pará ao norte de Goiás), até o Natal de 1973, quando o líder guerrilheiro é considerado desaparecido.

O citado jornalista relata que a revista obteve uma “cópia inédita e integral” do referido diário apreendido pelo Exército brasileiro há 38 anos.  Figueiredo faz uma análise leviana do relato de Grabois: o desenvolvimento da luta, o comportamento dos combatentes, do armamento precário, do apoio dos camponeses, e, sobretudo, do homem sonhador em detrimento do comandante militar.

O mais chocante é a afirmação de Figueiredo, que a Guerrilha foi um “devaneio na selva” comandada por Maurício Grabois. Seria importante ressaltar que Grabois entrou para o Partido Comunista em 1932, antes de completar 20 anos. Desde então, dedicou sua vida por inteiro à atividade partidária. Tomou parte ativa na luta contra o nazi-facismo, na Aliança Nacional Libertadora e atuou na Juventude Comunista, dedicando-se inteiramente às tarefas do Partido. Em 1934, foi designado para atuar no setor nacional de agitação e propaganda da Juventude Comunista. Maurício foi eleito deputado pelo PCB nas eleições de dezembro de 1945, tornando-se líder da bancada do Partido, na Câmara Federal, de 1946 a 1948. No dia 7 de janeiro de 1948, entretanto, depois de sete horas de debates e exatamente oito meses depois da cassação do registro do PCB, os mandatos dos comunistas foram também considerados ilegais por 169 votos contra 74.

Como deputado constituinte e líder da bancada do PCB, foi considerado um dos mais brilhantes constituintes na defesa dos princípios ideológicos do proletariado. Fato marcante de seu caráter e sua coerência com seus princípios revolucionários: entregava ao PC 90% do seu provento como deputado. Entre os diversos projetos apresentados por ele como constituinte, o mais inusitado foi contra a invocação da “Proteção de Deus”, no preâmbulo da Constituição. Um dia após a cassação dos mandatos, ele encontrava-se gravemente enfermo com mononucleose, quando agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) chegaram a sua casa e o levaram à força para o presídio da Rua da Relação, no centro do Rio. Após sair da prisão entrou para a vida clandestina.

Em 1956, viajou para a União Soviética, chefiando a delegação brasileira ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Após o Congresso, as divergências no âmbito partidário brasileiro vêm à tona e, nesse clima, de grande turbulência política e de posições revisionistas do PCB, Maurício manteve-se coerente na defesa dos princípios marxista-leninistas. Na luta contra Prestes e seus seguidores, obteve lugar de destaque, até ser expulso do PCB.

Entre 1961 e 1962, Maurício trabalhou intensamente, tanto no campo político como no ideológico, na reconstrução do Partido, ao lado de João Amazonas, Lincoln Oest, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Kalil Chade e cerca de 100 outros companheiros. A reorganização do PC do B se efetivou em 18 de fevereiro de 1962, durante a Conferência Nacional Extraordinária em São Paulo, e Maurício (re)funda o jornal a “Classe Operária”, tornando-se diretor-responsável.

Maurício Grabois, após o golpe militar, voltou a viver na clandestinidade, teve seus direitos políticos cassados e foi condenado à revelia em diversos processos das Auditorias Militares do Exército. Em 1967, iniciou os preparativos de um movimento guerrilheiro na região do Araguaia, no sul do Pará. Em 1972, o Exército descobriu o núcleo insurgente e enviou tropas à região, eliminando 59 guerrilheiros, entre os quais, Maurício Grabois.

Em 1980, os familiares, com o apoio do movimento de Anistia, da Ordem dos Advogados do Brasil, setores da igreja, parlamentares de vários estados e da imprensa, organizaram uma caravana que chegou no dia 22 de outubro a Belém e percorreu, durante 15 dias, a região onde se desencadeou a luta armada nos anos de 1972/1975. A caravana constatou que o regime de exceção desencadeou ações violentas contra a população da região. Antes da chegada dos familiares e seus parceiros, o Exército visitou inúmeras famílias e intimidou com ameaças as pessoas que se dispunham a prestar esclarecimento à caravana sobre o ocorrido nos anos de 1972/75.

Os integrantes da caravana sentiram a presença ostensiva de elementos do Exército por onde passavam. Mesmo assim, os moradores da região prestaram significativa solidariedade aos familiares através de muitos abraços e lágrimas, demonstrando imenso carinho e respeito pelos combatentes do Araguaia.

As afirmações que confirmam a aceitação dos moradores à luta guerrilheira podem ser concretizadas através de um trecho da carta de Maurício:

“(...) Seu ponto mais alto é o trabalho de massas. Visitou até o dia 22/11, 100 famílias. Destas, 11 dão apoio ativo aos guerrilheiros (fornecem alimentos, informações, abrigo e fazem propaganda de nossa luta); 84 revelam simpatia e prestam ajuda eventual; 2 são vacilantes; e 3 são contrários. (...) Numa visita à zona nova, onde nunca desenvolveu atividade, seus combatentes foram recebidos calorosamente pelos camponeses que, além de comida, lhes deram alguns presentes. A propaganda inimiga vem sendo, assim, desmascarada.”

Durante a Guerrilha nessa área, o governo desenvolveu projetos especiais de ajuda à população como ACISO e o GETAP. No entanto, o povo continuava a viver no mais completo abandono e extrema miséria, o que atestava a falta de interesse da parte do governo, em uma efetiva ajuda aos habitantes da região.

Maurício foi um dos mais atuantes comunistas brasileiros e sempre lutou contra as injustiças sociais.  Junto com outros companheiros do PC do B, deu o melhor de suas energias revolucionárias na preparação da luta e na resistência armada do Araguaia. Foi comandante da Guerrilha e desapareceu nas matas do sul do Pará, em 1973, junto com seu filho André.

Entretanto, para que os fatos históricos sejam revelados, faz-se necessário uma campanha nacional e internacional para a abertura dos arquivos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Visto que o ônus da prova dos fatos ocorridos durante o regime militar sempre recaiu sobre as famílias. Tal fato é inconcebível. O Estado é o responsável pelas mortes e desaparecimentos dos opositores da ditadura militar e cabe aos seus representantes mostrar a verdade.

O Grupo tortura Nunca Mais / RJ tem envidado esforços no sentido de ampliar uma campanha pela abertura dos arquivos junto a outras entidades nacionais e internacionais de Direitos Humanos, principalmente, com a Federação Latino-americana de Familiares de Presos e Desaparecidos (FEDEFAM) e o Centro Internacional pela Justiça (Cejil).

O Brasil, comparado aos demais países da América Latina, ainda não estabeleceu uma política coerente de Direitos Humanos. É o único país desta região, que nunca processou e nem acatou nenhuma decisão judicial em relação aos atos de tortura, de desaparecimentos e de assassinatos cometidos por militares e civis.  Nessa área, as ações governamentais se mostram muito tímidas.

O povo brasileiro precisa conhecer o que realmente aconteceu, o que foi a Guerrilha do Araguaia. Reportagens como essa nada acrescentam, além de omitir os fatos e confundir o povo. 

 

 

Busca e apreensão em casas do Major Curió


Major Curió foi prefeito de Curionópolis (PA) cidade
que fundou quando esteve em missão no Araguaia

A 1ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal acolheu pedido formulado pelo Ministério Público Federal - MPF/DF e deferiu ação de busca e apreensão em duas residências do oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura – o Major Curió –, um dos membros da repressão da Guerrilha do Araguaia (1972-1975).

Conforme informações do MPF, os mandados foram cumpridos em 29/03 e apreenderam documentos, um computador e uma arma de fogo sem documento. Ambas as casas de Curió são localizadas em Brasília (DF).

A procuradora da República Luciana Loureiro, autora do pedido de busca e apreensão, explicou os motivos da ação contra o major da reserva: “as buscas e apreensões são uma tentativa de localizar documentos que possam revelar o paradeiro de corpos de militantes políticos que participaram da guerrilha do Araguaia”, apontou.

Depoimento – Espontaneamente, Curió prestou novo depoimento à Justiça Federal e ao MPF. Após as declarações, Curió foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal, onde foi lavrado auto de prisão em flagrante por porte ilegal de arma.

Sebastião Curió Rodrigues de Moura, ou apenas Major Curió, foi um dos líderes da repressão à Guerrilha do Araguaia. Em entrevista concedida ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2009, Curió admitiu que, pelo menos 41 militantes, foram executados após serem rendidos pelo Exército durante a Guerrilha do Araguaia.

Todo o material recolhido nas operações de busca e apreensão na residência do major será encaminhado pela Justiça Federal para análise do MPF/DF

Notícias Jurídicas
30/03/2011

 

 

Guerrilheiro do Araguaia
Dr. João Carlos - "As mãos desse homem são abençoadas"

Fortunato Macedo

Esse refrão, repetido em todos os cantos de Porto Franco, é a maior lembrança que tenho do Dr João Carlos. Suas mãos tinham tato de bondade e de justiça. Eu era criança, era muito curioso. É muito prazer, eu conheci o Dr João Carlos! Não se sabia de onde ele vinha, quem era e o que queria, não se sabia de sua família. Foi bem melhor assim, pois os seus atos dispensaram qualquer pergunta. Ele foi perfeito. Jamais Porto Franco viu tanto silêncio e paz como na sua chegada. Mas também nunca se viu por aqui tanto barulho, clamor, saudade e tanta consternação na sua saída. No fim daquela concentração na porta do posto de saúde/hospital – na Praça Getúlio Vargas, em cima daquele caminhão que serviu de palanque – o silêncio foi total. Na verdade, foi o silêncio mais ensurdecedor que ouvi até hoje – o Dr João Carlos iria embora. Que pena!!! Co mo Dr João Carlos deixou saudades!!!

Vejo até agora o Expedito botando água para o Dr João Carlos, lavando e engraxando sua bicicleta Monark Barra Circular – aquela bicicleta azul, bonita e novinha em folha. Eu morria de vontade de dar uma voltinha naquela bicicleta! Mas, por mérito, ele a deixou par o Expedito. O Expedito, não se sabe por que “cargas d´água”, ele trocou a biclicleta com o João Barros por um espingarda calibre 22 – uma fobéia.

Vejo a Dona Dejaci ajudando o Dr João Carlos e a Dona Dedé – parteira/enfermeira de todas as horas – enfermeira/parteira de todos nós. Vejo-o lendo muitos livros de medicina, falando de Hipócrates, Paracelso e outros vultos da medicina. Meu irmão – o Ruy – perguntando tudo – creio que por isso e por ele ter curado o Ruy de uma verminose persistente ele seguiu a profissão do Dr João Carlos. Entre tantas generosidades, agradeço por ele ter resolvido meu problema de hipovitaminose e raquitismo. Foi também por que que tive a oportunidade de casar com a Sinay – ela nasceu pelas mãos do Dr João Carlos e Dona Dedé.

Toda doença desconhecida naquela época era “febre”. Numas dessas febres resistentes, o Colemar Filho(Filho do vereador Colemar e autor do Projeto de Lei que concede o Título hoje comemorado foi salvo pelo Dr João Carlos). Ele foi um defensor do meio ambiente, meu falou muito dos animais e dos alimentos – isto me ajudou a ser médico veterinário. E foi com alguma lembrança sua que me tornei advogado, na busca de prestação jurisdicional para os mais necessitados. Também não posso esquecer as nossas pescarias com Dr João Carlos na Ingarana ou na Pedra do Braga: sempre na companhia do Hélbio (filho do Seu Políbio), do Nélio (filho do Seu Antonio Sá) e do Hélio(meu irmão). Dr João Carlos adorava pescar Mandi Cabeça de Ferro e Piau Cabeça Gorda e depois comer frito no azeite de côco babaçu. Sua fama de bo m médico corria rápido e, como dizia a Dona Branca: “por aqui é Deus e o Dr João Carlos”. Dr João Carlos era bom de baile. Lembro até de duas namoradas dele: a Aidê, uma jovem bonita de Pontalina-GO que passava férias em Porto Franco hospedada na casa da tia Carmelina; e a Cassionilda, que morava/estudava na casa do tio Edeci Santos. Dr João Carlos era participativo e muito integrado na nossa comunidade.

Lembro bem de sua presença lá em casa, contando muita história – era fantástica a sua cultura geral e o gosto pela medicina e pela justiça social. Vejo com muita clareza ele na conzinha lá de casa comendo costelinha de porco com polenta, aliás, a tal da polenta que ele ensinou a mamãe fazer. Foi com ele que aprendi a comer polenta e beber chimarrão. Hoje já não faço mais isto, pois me disseram que polenta tem alta caloria. Dr João Carlos adorava comer banana comprida no leite, mingau de arroz, que ele chamava de arroz doce. Ele apreciava comer bolo cacete e as mangabas feita pela Dona Zeca ou pela Evinha da Lina. A mamãe e a dona Raimunda do Colemar mandavam a gente levar os bolos. Eu, o Hélio(meu irmão) e o Ernani(meu primo), com muita frequência levávamos pequi, oiti e manga de cheiro para o Dr João Carlos. O Ernani inclusive é afilhado dele – quanto privilégio.

Dr João Carlos gostava de uma boa música, era desportista. Com certeza está hoje vibrando com o título deste ano de campeão gaúcho do seu Internacional, o Colorado. Lembro muito bem o dia que o Dr João Carlos me levou,com o Haroldo, meu irmão, para cortar o cabelo com o seu Mário. Depois fomos várias vezes sozinhos. Seu Mário cortou o cabelo de muito menino em Porto Franco e toda vê repetia: “vou fazer um corte pra deixar você parecido com os galãs do Rio de Janeiro”. Nós virávamos, com muita alegria, apenas galãs do rio Tocantins. Muito tempo depois soube que quem cortava nosso cabelo era o senhor MAUR ÍCIO GRABOIS. Quanta honra pra mim!!!

Nós corremos muito atrás das partidas de futebol pra ver a seleção de Porto Franco jogar. Vimos muitos os amigos do Dr João Carlos, Gilberto e o Zé Carlos – dois sujeitos legais – jogando na seleção de nossa cidade. Gilberto, excelente ponta de lança goleador. Já o Zé Carlos era meio cintura dura, mas um ponteiro direito raçudo. Só tempos depois soubemos que o Gilberto era genro de Maurício Grabois e o Zé Carlos, ou André Grabois, era filho. Interessante quando Dr João Carlos nos fala de história, economia, políticas públicas e conhecimentos gerais. Foi com ele que ouvi pela primeira vez falar de Karl Marx, Mostesquieu, Fran Kafka, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Érico Veríssimo e tantos outros escritores.

Dr João Carlos foi um excelente médico de corpos e médico de gente. Entendi muito bem os seus propósitos, a sua vontade de curar toda a sociedade de feridas profundas, como a pobreza tot al, a fome,a tortura, o analfabetismo, a corrupção e o desemprego. Ele me fez entender, desde cedo, que ainda e sempre há tempo e esperança para combater desigualdades, preconceitos, ditaduras, tiranias e oligarquias. Dr João Carlos nos ensinou que a morte física jamais poderá servir de pretexto para de desistir sempre à morte ideológica. Lamento muito terem sumido aquela foto tirada no batente lá de casa pelo fotógrafo Luis Penca. Era uma bela foto: o Hélio, meu irmão, de um lado e eu do outro, de calção e sem camisa, e o Dr João Carlos no meio, sentado, lendo pra nós Dom Casmurro, de Machado de Assis. Com ele aprendi a entender que só e transforma uma nação pela educação e pela justiça social.

Não esqueci até hoje quando ele cantava bem baixinho pra gente Hasta Siempre Comandante (De Carlos Puebla), Bella Ciao(música italiana de autor anônimo – criação dos combatentes partidários, de 1945) e foi com ele que comecei a gost ar de Pra Não Dizer que Não Falei das Flores(de Geraldo Vandré). Um dia ele nos falou do extraordinário cantor e compositor Lupicínio Rodrigues. Pareceu estranho, pois torcedor COLORADO não costuma falar em autor de hino GREMISTA! Dr João Carlos foi humilde e muito justo.

Foi por ele que pela primeira vez ouvi se falar da UNE. Creio que isto me inspirou a mais tarde pertencer a UNE e de tantas lutas nas escolas e nas ruas. Não posso mais, infelizmente, mostrar os escritos que fazíamos para ele ler e receber o seu visto. Perdemos o seu precioso autógrafo, perdemos fotos e registros preciosos. Também fomos algozes de censuras, mas ficou a doce lembrança de muita coisa que ele fez. Só muito tempo depois entendi que esperança sempre vence o medo.

Seu exemplo me ajudou a entender o que é liberdade política, inclusão e justiça social. Sei que sua inspiração me deu a oportunidade de ter sido vereador, Secretário Municipal, Vice-pref eito, Secretário de Estado e deputado. Fiquei honrado quando, Secretário Municipal d Planejamento e Coordenação Política no primeiro mandato do prefeito Deoclides Macedo, participei da municipalização da saúde e na construção do Hospital sugeri ao prefeito que desse ao Centro Cirúrgico o nome de Dr João Carlos Haas Sobrinho. A homenagem foi providencial e merecida.

Conheço bem a intransigência, o autoritarismo, a perseguição, a injustiça e a falta de oportunidades. Sempre vi os menos favorecidos serem desrespeitados em seus direitos e garantias sociais. Na década de 70, morando em Goiânia, soubemos da morte do Dr João Carlos na Guerrilha do Araguaia. A mamãe chorou muito, o papai chorou muito, nós choramos muito. Parafraseando Bentinho ao falar de José Dias em Dom Casmurro: “Por que hei de negar que chorei por ele???” Por tudo isso, um dia sonhei ver Dr João Carlos cidadão de Porto Franco, cidadão do mundo.

Quis numa épóca, mas o “sistema” não deixou, quis noutra época e o “sistema” não deixou novamente. Mas agora o povo está permitindo, o tempo deixou, a hora é agora, Deus permitiu.

Assim, agradeço a todos os vereadores, em especial o vereador Colemar Rodrigues do Egito, que entendendo não ser intempestiva a minha solicitação, aprovaram a outorga do título de cidadão portofranquino ao Dr João Carlos Haas Sobrinho. Que o Brasil siga esse exemplo.

Agora me resta a dizer, parafraseando Chico Buarque: “Meninos eu vi, juro que um dia eu vi um homem ser feliz”. Meninos, eu vi o Dr João Carlos, eu vi um dos homens mais inteligentes e humanos da minha vida. Dr João Carlos foi perfeito.

Dr João Carlos, que a sua lembrança no seja suave e sábia, que a sua vida seja de muita inspiração e nos aguarde no céu: ainda iremos pra muitas trincheiras e, cobertos pela justiça imputada por Deus, haveremos de fazer muita justiça social e viver muita liberda de política.

Fortunato Macedo Filho
Porto Franco, maio de 2011

 

SAUDADES

 

O Adeus a um Intelectual Emblemático

Morreu Ernesto Sabato aos 99 anos

Julia Costenia diz em sua entrevista no jornal O Globo de 07 de maio de 2011, que ele era um perfeccionista.“Fala ainda de seus amores, obras e personalidade de um homem que tinha cara de dramático, mas era profundamente divertido”. Era formado em Física, mas “abandonou as estruturas rígidas porque queria profundidade. Fez o que quis. Era um sucesso na literatura e na ciência. Seu grande problema foi investigar os crimes da ditadura, mas era coerente e muito corajoso. Era na verdade um homem adorável. Um exemplo para todos nós escritores ou não".

Muitas vezes suas obras não foram fáceis de serem editadas como “O Túnel” publicado por um amigo; “Sobre Heróis e Tumbas”... Pouco estudado na Academia recebeu críticas implacáveis, principalmente de argentinos mais conservadores. Fala neste último livro do importante trabalho na procura de desaparecidos políticos enterrados clandestinamente pela ditadura Argentina.

 

 

Militância negra: Abdias do Nascimento é um 'baluarte'

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A ativista Kika de Bessen, integrante da Executiva Nacional da Conen (Confederação Nacional de Entidades Negras), afirmou que, com a morte de Abdias do Nascimento, o movimento negro perde "um ícone para as gerações passadas e as futuras". "Para nós que somos do movimento negro, ele é um baluarte, esse seria o termo mais correto", disse ela à Folha de São Paulo.

O ex-político, escritor e ativista Abdias do Nascimento morreu, aos 97 anos, na manhã de 24 de maio último. Segundo Kika, Abdias deixa "um legado de reflexão sobre a luta do racismo no Brasil e como a gente pode avançar nela". Para ela, a "produção de pensamento e atitude" do militante negro – que em 1945 sugeriu criminalizar o racismo e, em 1983, propôs o primeiro projeto de políticas públicas afirmativas da história brasileira – servirão como "referência" para quem luta contra o racismo hoje em dia e no futuro.

Abdias criou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro. O político – foi deputado federal e senador –, poeta, escultor, ator e escritor, deixa três filhos. Ele foi professor benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor "Honoris Causa" pelo Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade de Brasília. Recebeu, em 2009, a Medalha Chico Mendes de Resistência, dada pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro.

Como escritor, foi autor de vários livros, como "Sortilégio", "Dramas para negros e prólogo para brancos", "O negro revoltado", e outros.




 

José Renato - O amigo da Arte

 

José Renato Pécora morreu no início da madrugada de 2 de maio último, em São Paulo. Terminada a sessão de "12 homens e uma sentença", ele foi jantar no Planetas e de lá uma amiga o levou ao Terminal do Tietê onde ele pegaria o ônibus para o Rio. Ela o deixou na área de acesso ao terminal e, horas depois, recebeu ligação da enfermeira do Pronto Socorro de Santana, na Voluntários da Pátria, que localizou seu telefone no celular do próprio Zé Renato, comunicando sua morte.

 Paulistano, jornalista, ator, colunista cultural, crítico de teatro, especialista em música popular e cinema, diretor, produtor de vídeo e roteirista.

Zé Renato foi amigo da arte, fundador do Teatro de Arena. Fazia parte do grupo Tapa. Com 85 anos de idade, José Renato Pécora entrou para a enciclopédia do teatro. Passaram por sua direção textos de Giafrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis e Dias Gomes

O ator foi o primeiro aluno da Escola de Artes Dramáticas, em São Paulo. Zé Renato apresentava peças em ginásios e escolas. Administrou ousadamente o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, que hoje vive seus dias de pena. Era um boêmio de músicas, de piadas e de rir delas. Zé Renato completava o verdadeiro “teatro de atores”, era o ator que se impunha ao centro de uma arena para encenar a sua volta, permitia com sua ideia, similar a um picadeiro, que todos pudessem visualizar o espetáculo em todos os ângulos, popularizando a arte da cena.

A saudade fica e também a certeza de que José Renato marcou definitivamente o teatro brasileiro.

 

Javier Torres Cruz - Assassinado ecologista no México

 

Javier Torres Cruz foi um líder comunitário, camponês, ecologista que enfrentou o narco-traficante da área, Rogaciano Alva Alvarez e seu grupo de assassinos. Foi também testemunha chave na investigação do assassinato da defensora dos direitos humanos Digna Ochoa y Plácido.

Em dezembro de 2008, ele foi detido, sequestrado, torturado e desaparecido durante 10 dias por membros do Batalhão de Infantaria 19 do Exército Mexicano e, desde então, sofreu constantes ameaças e intimidações por militares.

No dia 18 de abril de 2011 foi assassinado por um grupo de homens armados, enquanto caminhava por um lugar chamado "Puerto de la Mosca", próximo da comunidade de La Morena, Sierra Petatlan, Guerrero, onde vivia com sua família. Este ataque contra Torres Javier faz parte de uma série de outros ataques, ameaças e intimidações contra ele desde 2007. O desaparecimento e a tortura de Javier Torres Cruz nunca foram investigados.

Associação Nacional de Advogados Democráticos A.C.



Sebastião Ribeiro Hoyos - "Paertiu para outros universos para lutar pela nossa revoluçã"

Por Nelson Serathiuk


Faleceu o camarada Sebastião Hoyos em Genebra, no dia 21 de junho, de um ataque cardíaco. Sebastião Hoyos nasceu no Pará, em 19 de janeiro de 1935. Membro do Partido Comunista, trabalhou na empresa nacional de petróleo na região de Santarém. Em 1964 exilou-se em Cayena, território de ultramar sob dominação francesa.

Em 1971, Sebastião Hoyos foi preso junto com José Barbosa, operário metalúrgico, militante da Ação Popular. Sebastião, José e mais um companheiro foram levados a Paris pela DGST francesa e albergados num Hotel com "residência" vigiada.
(Na época, ainda não existia o bracelete eletrônico!). Da França, com o ajuda dos
independentistas da Guiana, Sebastião, José e seu companheiro pediram asilo
politico em Genebra. As autoridades suíças não queriam aceitar o pedido de Sebastião pelo fato dele ser refugiado politico reconhecido pela França. Porém, Sebastião provou a perseguição politica da parte da polícia francesa. De fato, Sebastião sempre ajudou companheiros/as de todas as tendências politicas que lutavam contra a ditadura para sair e voltar ao Brasil.

Em 1973, Sebastião foi o primeiro militante brasileiro a tomar contato conosco. Refugiados do Chile, o grupo dos 200 aceitos pela Suíça, segundo determinação da politica do Socialista Graber, Conselheiro Federal. A Suíça se limitou a acolher um contingente de 200 pessoas propagandeando que a Suécia havia recebido também 200. Acontece que os 200 uruguaios que Herald Edelstan retirou do Chile foram os primeiros de uma lista de 1.400 perseguidos num primeiro tempo.

Com Sebastião, José e demais companheiros fazíamos entrar os refugiados do Chile provenientes de Buenos Aires com "escala" em Milão. Centenas de companheiros/as chilenos/as e latino-americanos puderam assim atravessar os Alpes clandestinamente e penetrar na Suíça.

Sebastião Hoyos desenvolveu um trabalho de solidaridade de grande valor militante, de solidariedade, sem discriminação de tendências politicas de nossa esquerda.
No final dos anos 80, Sebastião Hoyos foi preso e condenado a 7 anos e meio de prisão na Suíça por haver participado no "assalto do século da União de Bancos Suíços" onde trabalhava como auxiliar de segurança. Ele foi preso 3 meses depois do assalto que levou mais de 20 milhões de francos em divisas estrangeiras cujo peso era de 360 kg. Esse assalto aconteceu num domingo às 9:00h da manhã e ninguém foi testemunha. Os alarmes haviam sido desligados, a câmera de vigia não funcionava, os assaltantes tinham as chaves para entrar no banco e também para abrir os cofres! Logicamente esta massa de dinheiro havia saído por outras vias do banco! Quem, como, quando? Pouco importa, o banco e a "justiça" da República de Genebra tinham o bode expiatório ao alcance das algemas. O Juiz Trembley que havia ido buscar Licio Gelli da Loge P 2 no Rio de Janeiro para Genebra liberando-o por "motivos de saude" foi quem dirigiu o processo contra Sebastião, vociferando nos corredores que ele iria ter a "pele deste comunista". Desfilamos dezenas de testemunhas de moralidade.

Jean Zigler, que assitiu à cerimonia em memória de Sebastião, integrou o comitê de solidariedade com Sebastião. Numa visita que fiz a Sebastião em Champ Dollon, levei para êle o livro de Jean Zigler: A Suíça lava mais branco, sobre o segredo bancário. O Juiz Trembley afirmou no Tribunal, que o comunista tinha na sua cela um livro de um antipatriota suíço!

Sebastião cumpriu metade da pena, saiu da prisão com um câncer, os três filhos sem emprego vivendo da nossa solidariedade, e justo antes de ser inocentado pelo tribunal Federal, foi vítima de um acidente. Uma moto de um agente de segurança o atropelou. Sebastião perdeu a fala, a memória etc. Foram anos de trabalho para que se recuperasse. Os/as companheiros/as latino-americanos e africanos reconstruíram a memória de Sebastião com visitas seguidas, música, histórias, suas participações militantes, fotos etc. Sebastião recebeu, em troco de sua solidariedade e luta pela justiça social, uma segunda memória dos companheiros/as revolucionários.

As cinzas de Sebastião, que faleceu com 76 anos, serão levadas para Santarém e entregues ao seu pai que está vivo. Sebastião Hoyos partiu para outros universos para lutar pela nossa revolução.

 

Elena Bonner - Ex-dissidente soviética

http://4.bp.blogspot.com/-S7YwL2K4fNM/Tf2ic3cFZSI/AAAAAAAADM4/vfiKnqgQLbk/s1600/Elena_Bonner.jpg http://gulaghistory.org/nps/onlineexhibit/dissidents/movement-src/images/bonner_detail.jpg

 

A ex-dissidente soviética Elena Bonner, viúva do físico nuclear Andrei Sakharov, morreu em Boston (Estados Unidos) após uma longa doença. Elena tinha 88 anos.
Bonner, pediatra de profissão, era uma figura de importância histórica.

Sakharov, chamado "o pai da bomba atômica" soviética tornou-se logo um dissidente do regime. Ele morreu aos 68 anos, em 1989.

Elena Bonner recebeu o Nobel da Paz concedido a seu marido durante cerimônia de entrega de prêmios em 1975 em Oslo, depois que Sakharov foi proibido de viajar ao exterior, devido a persistentes críticas que fazia às violações dos direitos humanos na então União Soviética.

Durante muitos anos, Elena Bonner foi o alvo principal da KGB (serviço secreto e polícia política soviética), que evitava atacar de frente seu marido. Nos anos 1970, participou de protestos contra as detenções em massa de outros dissidentes, tornando-se em fonte vital de informações sobre o destino dos detidos e exilados pelo regime soviético.

Em 1980, Sakharov, o principal científico nuclear do país da época, foi confinado em Gorki, atualmente Nizhny Novgorod, por protestar contra a invasão soviética ao Afeganistão. Sua mulher tornou-se o único vínculo de Sakharov com o exterior, até que em 1984 foi condenada a cinco anos de confinamento em Gorki por ter "divulgado sistematicamente informações caluniosas da União Soviética".

Depois da era soviética, Bonner participou de importantes organizações de defesa dos direitos humanos e, em seguida, tornou-se uma ardente opositora de Vladimir Putin, um ex-agente do KGB que presidiu a Rússia entre 2000 e 2008, e é, hoje, primeiro-ministro.