CULTURA

 

CINEMA

 

Ascensão do Capitalismo de Desastre

Uma aula de história imperdível

Vídeo histórico de NAOMI KLEIN

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Naomi Klein é uma ativista política e abre com esse filme as entranhas do capitalismo selvagem. Vemos hoje as crises propagarem-se na Europa: Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha. A questão fundamental mostrada por ela é a Doutrina do Choque aplicada na população em geral para adotá-la sem críticas, aceitando-a pacificamente.

Convém ressaltar que em 1951, o psiquiatra Eduard Cameron foi o mentor dessa Doutrina do Choque com objetivo de apagar o cérebro, transformando os pacientes em verdadeiros zumbis. Tratamentos de choque eram aplicados sem nenhum critério e consistia em um verdadeiro segredo de Estado. Tudo era feito secretamente.

Donald Rumsfeld e Milton Friediman utilizaram a Doutrina de Choque Econômico. Criaram uma escola em Chicago formando os chamados “chicagos boys”, alguns sul- americanos que receberam bolsas (chilenos e brasileiros) e formavam-se professores para um mercado livre, capitalista e selvagem.

Todos os governos: Kennedy, Lindon, Johnson, Nixon, Reagan, nos Estados Unidos e Margareth Tatcher – a Dama de Ferro – na Inglaterra, fomentam esta Doutrina do Choque.

Em 1970, Allende vencia as eleições no Chile e Nixon usou toda sua força para que ele não assumisse o cargo, pois as multinacionais ITT gás eram americanas. Era necessário destruir a economia chilena. O golpe foi dado com todo apoio e repressão do governo americano. O horror perpetrado no Chile levou 13.000 encarcerados ao célebre Estádio, câmara de terror e morte de milhares de chilenos.

O Chile se viu diante de uma economia desastrosa com aumento dos impostos, desempregados e inflação de 375% ao ano.

A Terapia de Choque beneficiava os ricos e empobrecia ainda mais os pobres. As torturas, o desaparecimento de corpos, fortaleciam o governo Pinochet. O regime de terror instalado deixava a população à mercê dos militares. Convém ressaltar que o Brasil foi o primeiro a sofrer o golpe e a exportá-lo para outros países do Cone Sul: Argentina, Chile e Uruguai. Digamos que o Brasil foi a alavanca que proporcionou outros regimes de terror na América Latina.

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Criou-se nos Estados Unidos a Escola das Américas que foi a grande mentora dos ensinamentos e técnicas de torturas, onde diversos militares brasileiros receberam seus ensinamentos.

A Doutrina do Choque chegou a ser aplicada na Inglaterra por Margareth Tatcher, que sufocou a greve geral dos mineiros. Resultado do programa de privatizações de gás, água, eletricidade e petróleo.

A Doutrina Keynesiana entrou em vigor e utilizava os mesmos métodos. Em 1991, a Rússia (URSS) se dissolve e adota o livre mercado. Foi um choque sem terapia. Teve como consequência milhões de russos na pobreza mais absoluta, sem salários, etc. Moscou tornou-se um centro de milionários e mafiosos.

Tudo isto nos mostra Namoi Klein em seu vídeo. Vale a pena vê-lo, divulgá-lo e debatê-lo.

 

O Dia que Durou 21 anos

Quem tem medo da democracia?

Filme de Camilo Tavares com depoimentos de Flávio Tavares, Plínio de Arrede Sampaio, Lincoln Gordon (embaixador dos EUA no Brasil), seus assistentes e outros.
Pequi Filmes, exibido na TV Brasil em 3 capítulos.

Lincoln Gordon e Kennedy achavam que o Brasil poderia ser uma segunda Cuba. Sendo uma grande potência, os Estados Unidos julgavam-se – como ainda se julgam – “donos” dos países da América Latina.

O golpe civil-militar já estava sendo arquitetado desde o governo de Getúlio Vargas (1950-1954). Entretanto, com o suicídio de Vargas houve uma reviravolta política e o golpe só foi perpetrado 10 anos depois. Com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, João Goulart, que era vice-presidente, deveria assumir. Entretanto, as restrições a seu nome eram grandes nos meios militares e empresariais brasileiros.

De agosto de 1961 a 1º de abril de 1964, o país viveu em permanente sobressalto. Kennedy não levou a cabo seus intentos, pois foi assassinado em 1963. L. Johnson e outros presidentes como Nixon e Reagan foram os grandes mentores do golpe civil-militar de 1964 no Brasil.

As pressões nesse sentido eram feitas principalmente pelo Programa Aliança para o Progresso, do governo norte-americano, com a justificativa de auxiliar a América Latina. Este Programa alimentou financeiramente duas entidades: o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Estas entidades propagandeavam seus objetivos golpistas alardeando uma defesa intransigente do que chamavam “postulados democráticos”, criticando as Reformas de Base propostas pelo governo de João Goulart. Estas eram vistas como vinculadas aos movimentos influenciados pelo “comunismo internacional”.
Naquele período, Brizola, no Rio Grande do Sul, havia encampado a International Telephone & Telegraph (ITT) produzindo mais reações conservadoras às reformas propostas pelo governo federal.

O grande Comício de 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, em frente à Central do Brasil, ao lado do Ministério da Guerra, em apoio às reformas de base, aguçou ainda mais os ânimos conservadores e golpistas. Esta reação não se fez esperar. Em São Paulo, ocorreu a Marcha com Deus pela Liberdade, assim como em outras cidades brasileiras.

João Goulart ainda se encontrava em território nacional quando, em 31 de março de 1964, o cargo de presidente foi declarado vago e R. Mazzilli assumiu o governo. Na realidade, eram os militares que estavam no comando do golpe. A partir daí, implantou-se no Brasil um regime de terror, sendo o primeiro presidente militar Castelo Branco que contava com apoio integral e simpatia total do governo norte-americano. Este, segundo os documentos mostrados no filme “O Dia que Durou 21 Anos”, respaldou financeira e ideologicamente o golpe civil-militar de 1964. Tanto que os Estados Unidos já estavam preparando uma grande esquadra para vir ao Brasil, caso houvesse alguma reação por parte dos apoiadores das reformas de base.

Vejam, divulguem e debatam com seus alunos, amigos, filhos e netos este filme tão importante para se conhecer o que aconteceu no Brasil naqueles anos de trevas.

 

 

La dictadura en el cine

 

 

Homenagem a Zuzu Angel – 31 anos depois
Filme: ZUZU ANGEL, de Sergio Rezende

Angélica (1977)
Miltinho e Chico Buarque
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar

Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar

Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar

A história recente no Brasil, que vem sendo mais amplamente conhecida, analisada, retratada nas últimas décadas após o fim do regime de ditadura militar (1964 a 1985), tem revelado inúmeros exemplos de coragem, dedicação, desprendimento de militantes políticos que lutaram, deram o melhor de si - e muitos a própria vida - para transformar a realidade de opressão e exploração capitalista em que vive o povo brasileiro.

Zuzu Angel não foi uma dessas militantes, era a mãe de um deles – Stuart Angel Jones. Ele iniciou sua participação política no movimento estudantil, quando era aluno da Faculdade de Economia da UFRJ, e passou a atuar no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e na resistência armada à ditadura militar. Era casado com a militante Sonia Moraes (também assassinada posteriormente). Aos 26 anos, Stuart foi seqüestrado, torturado barbaramente e assassinado pelos órgãos de repressão em 1971. Stuart não forneceu informações a seus algozes. Na tortura final, na Base Aérea do Galeão, foi arrastado por um jipe, amarrado ao cano de descarga do veículo, obrigado a “cheirar fumaça de óleo diesel”, como denunciou Chico Buarque em sua canção “Cálice”, intoxicado até agonizar.



“Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar”


Zuzu, à época estilista de renome internacional, soube das torturas e do assassinato do filho por uma carta de Alex Polari, também do MR8 e preso na Base Áerea do Galeão. Desde então, corajosamente, fez de tudo para denunciar as torturas, a morte e a ocultação do cadáver de seu filho, no Brasil e no exterior. Como Stuart tinha cidadania norte-americana levou a denúncia à imprensa no exterior e entregou uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado de Governo dos EUA, quando este estava em visita ao Brasil.

Incansável nessa luta, Zuzu fez também um desfile-denúncia, que ela classificaria como a primeira coleção de moda política brasileira - em que utilizava imagens de anjos amordaçados (alusão a Angel), meninos aprisionados, jipes. O desfile foi levado aos EUA, onde tinha entre suas clientes, artistas como Liza Minelli, Kim Novak, Joan Crawford.

Num momento de ampla censura, opressão e limitação das liberdades democráticas, sua atuação corajosa que denunciava a existência de tortura e de desaparecidos políticos no país ameaçava o regime. Passou a sofrer intimidações, ameaças, perseguições. Deixou cartas, mensagens, inclusive a Chico Buarque, a quem conhecia, afirmando que se acaso aparecesse morta “por acidente”, na verdade teria sido assassinada.

“Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”

E foi o que ocorreu na madrugada de 14 de abril de 1976, quando seu carro foi abalroado na saída do Túnel Dois Irmãos (Rio de Janeiro), que hoje leva o seu nome. Para ela, Chico Buarque compôs a canção “Angélica”.

 

 

RELEMBRANDO UM IMPORTANTE FILME:
15 FILHOS

Filhos de guerrilheiros brasileiros falam de suas vidas em meio à ditadura

São pouco mais de 18 minutos de afirmação de uma história interrompida: pais e filhos que tiveram suas vidas invadidas e destruídas pela ditadura. Filha que tinha que fingir desconhecer o pai. Sobrinho que "nunca tinha visto" a tia. Filha que não reconheceu o rosto da mãe, totalmente desfigurada pela tortura.

Infância, adolescência, vida familiar roubadas, por aqueles que, em 1964, se utilizaram do salário, treinamento, fardas, armas que lhes eram fornecidos pelo Estado para derrubar um governo democraticamente eleito.

O filme é de 1996, gravado em Hi-8, com direção de Maria Oliveira e Marta Nehring, que também dão seus depoimentos.
"15 Filhos" é um "documentário que retrata a época da ditadura militar através da memória de infância dos filhos de militantes presos, mortos ou desaparecidos. Esses depoimentos, dentre os quais se incluem os das diretoras do vídeo, mostram um ângulo pouco conhecido da violência política no Brasil. Foi projetado em vários países – Argentina, Chile, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, entre outros – e também em festivais internacionais e em universidades, escolas e em reuniões de diretos humanos. Desde seu lançamento, em 1996, o vídeo recebeu numerosos prêmios.
Consta no catálogo da Unicef de Filmes sobre Direitos Humanos: "A broadcaster's guide to children's rights" e no "Panorama do Vídeo Brasileiro 1995-2001", editado pelo Ministério da Cultura.
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POESIA

Carta a Mãe África

 

Vídeo de Rafael Bessa, poema de GOG

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Ilustrações: tecidos africanos

As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora… /
Evoluíram para a prisão da mente agora
.

É preciso ter pés firmes no chão
Sentir as forças vindas dos céus, da missão…
Dos seios da mãe África e do coração
É hora de escrever entre a razão e a emoção
Mãe! Aqui crescemos subnutridos de amor
À distância de ti, o doloroso chicote do feitor…
Nos tornou! Algo nunca imaginável, imprevisível
E isso nos trouxe um desconforto horrível
As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora…
Evoluíram para a prisão da mente agora
Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual
Continua caso raro ascensão social
Tudo igual, só que de maneira diferente
A trapaça mudou de cara, segue impunemente
As senzalas são as antissalas das delegacias
Corredores lotados por seus filhos e filhas…
Hum! Verdadeiras ilhas, grandes naufrágios
A falsa abolição fez vários estragos
Fez acreditarem em racismo ao contrário
Num cenário de estações rumo ao calvário
Heróis brancos, destruidores de quilombos
Usurpadores de sonhos, seguem reinando…
Mesmo separado de ti pelo Atlântico
Minha trilha são seis românticos cantos
Mãe! Me imagino arrancado dos seus braços
Que não me viu nascer, nem meus primeiros passos

O esboço! É o que tenho na mente do teu rosto
Por aqui de ti falam muito pouco
E penso… Qual foi o erro cometido?
Por que fizeram com a gente isso?
O plano fica claro… É o nosso sumiço
O que querem os partidários, os visionários disso
Eis a questão…
A maioria da população tem guetofobia
Anomalia sem vacinação.
E o pior, a triste constatação:
Muitos irmãos, patrocinam o vilão…
De várias formas, oportunistas, sem perceber
Pelo alimento, fome, sede de poder
E o que menos querem ser e parecer…
Alguém que lembre, no visual você.
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra

A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra
Os tiros ouvidos aqui vêm de todos os lados
Mas não se pode seguir aqui agachado
É por instinto que levanto o sangue Panto-Nagô…
E em meio ao bombardeio
Reconheço quem sou, e vou…
Mesmo ferido, ao fronte, ao combate
E em meio à fumaça, sigo sem nenhum disfarce
Pois minha face delata ao mundo o que quero:
Voltar para casa, viver meus dias sem terno
Eterno! É o tempo atual, na moral
No mural vedem uma democracia racial
E os pretos, os negros, afro-descendentes…
Passaram a ser obedientes, afro-convenientes.
Nos jornais, entrevistas nas revistas
Alguns de nós, quando expõem seus pontos de vista
Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos
E eu penso como os dias têm sido dolorosos
E rancorosos, maldosos muitos são,
Quando falamos numa miníma reparação:
– Ações afirmativas, inclusão, cotas?!
– O opressor ameaça recalçar as botas..
Nos mergulharam numa grande confusão
Racismo não existe e sim uma social exclusão
Mas sei fazer bem a diferenciação
Sofro pela cor, o patrão e o padrão
E a miscigenação, tema polêmico no gueto
Relação do branco, do índio com preto
Fator que atrasou ainda mais a autoestima:
– Tem cabelo liso, mas olha o nariz da menina
O espelho na favela após a novela é o divã
Onde o parceiro sonha em ser galã
Onde a garota viaja…
Quer ser atriz em vez de meretriz
Onde a lágrima corre como num chafariz
Quem diz! Que este povo foi um dia unido
E que um plano o trouxe para um lugar desconhecido
Hoje amado (Ah! muito amado...), são mais de quinhentos anos
Criamos nossos laços, reescrevemos sonhos
Mãe! Sou fruto do seu sangue, das suas entranhas
O sistema me marcou, mas não me arrebanha
O predador errou quando pensou que o amor estanca
Amo e sou amado no exílio por uma mãe branca
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra.

 

 

Usina de Belo Monte

Nando Poeta





No crime de Belo Monte
Lula puxou o gatilho
Do Xingu tira seu brilho
Veneno joga na fonte
Ofuscando o horizonte
Um presente para empresa
Que mata a natureza
E povos dessa floresta
Pancada leva na testa
Bioma não tem defesa.
Não bastasse o São Francisco
Com sua transposição
Exército de arma em mão
Impondo à força o confisco
O rio caindo em risco
E vida de pescadores
Sem peixe, água, e com dores
Florestas sendo alugadas
Por gringos são devastadas
Os seus fiéis predadores.
Os índios do rio Xingu
Perderão pesca e a caça
Jogados vão à desgraça
Não come mais o pitu
Também não tem o tatu
Ficando sem o alimento
É pleno seu sofrimento
Moradores da floresta
Que não cala, mas contesta
Tem força seu argumento.
Que se constrói a usina
O rio vai perder vazão
Ribeirinho fica na mão
A tribo de índio afina
É fim d’água cristalina
O peixe nada pra a morte
Fauna, flora sofre corte
E o nosso pulmão do mundo
Sumirá em um segundo
E a mata fica sem norte.
A força de um leilão
Governo é truculento
Fazendo engajamento
Com a classe do patrão
Fez conchavo e união
Mas sempre Lula dizia
“goela abaixo não faria”
Apertando foi o IBAMA
Desse órgão fez a cama
Investe em Norte Energia.
Consórcio que é vencedor
Arrebata no pregão
Promete fim do apagão
Com governo torcedor
Dele é financiador
Passou por cima de lei
Atua só com sua grei
Aniquila o rio Xingu
Diz que tudo é um tabu
Impondo como um rei.
No Estado do Pará
Terceira maior do mundo
Deixando rio moribundo
O Belo Monte até lá
Lucrar vai ser bê-á-bá
Enriquecendo os patrões
Empapando seus bilhões
E na mata o habitante
Tenta fazer o levante
Quebrando vãos seus grilhões.
A construção da usina
Sabemos do resultado
Ave, planta, índio afogado
De Tucurui, Balbina
Cidades caem na ruína
A índia Kaiapó Tuira
Em seu momento de ira
Com facão quase dá corte
Em chefe da Eletronorte
Na cidade de Altamira.
A luta já é antiga
Contra essa construção
Kararaô é contramão
E que obra é inimiga
Faz estrago e muita intriga
Usina de Belo Monte
Não é construir a ponte
Entre a mata e a cidade
Ao contrário, é falsidade
Pra floresta é desmonte.

 

“Luto contra Belo Monte há 30 anos”, disse o bispo da prelazia do Xingu, dom Erwin Kräutler, - Medalha Chico Mendes de Resistência de 2007 - na terceira coletiva de imprensa, realizada em Aparecida (SP). O bispo reafirmou mais uma vez a sua opinião contrária à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo erguida no rio Xingu, no estado do Pará.

“Desde o Governo passado a causa indígena não é levada a sério. Pelo que percebo, a atual presidência também não está ligando muito, pois ignora insistentemente os nossos apelos e as nossas cartas. Desde 1982, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do qual sou presidente, é o braço indigenista da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Graças a Deus estamos lutando pela causa indígena, e a CNBB nos apoia e endossa a nossa luta, porque é uma instituição que valoriza a vida”, disse dom Erwin citando o apoio da CNBB contra a construção de Belo Monte.

 

 

Letras bélicas



Roger Rodriguez*

Les voy a disparar consonantes
y me guardaré todas Ias vocales
para que.se atraganten leyendo
y no puedan murmurar su lenguaje
La "a" Ia usaré para que aprendan,
Ia "e" para que sepan escuchar,
Ia "o" para que no haya olvido
y Ia "u" para mantener Ia Utopía.
Les qafillàré "eles" para que vean
que el artículo conduce ai sujeto
Les teledirigiré "pes" y "cúes"
para que respondan ai por qué.
Lanzaré terminaciones con "ene",
para que Ia tilde los sobrevuelen
O palabras finalizadas con "ese"
así saben que somos un plural.
Después, les arrojaré el diccionario,
con sus sinónimos y antónimos,
Ia sintaxis y regias gramaticales,
diptongos y una paráfrasis verbal,
Lanzaré ai aire muchas "be",
largas como sus orejas,
y "ces" de mi compromiso
y "des" para demostrárselo.
Y Ia esbelta fuerza de Ia "efe",
Ias gordas ganas de Ia "ge"
para querompan el silencio
de sus huérfanas "haches".
Porque a Ia "i" de su impunidad
le sigue Ia "jota" de Ia justicia
Y por kilómetros sentirán su peso
como "cães", que Iloverán por kilos
No dejaré que me quiten Ia "em e",
por mi madre y por Ia Muerte.
Y menos les entregaré Ia "etíe",
a Ia que le tengo tanto cariüo.
Ante el redoblar de Ias "eres" y "erres"
correrán a refugiarse dei repudio.
Lle.gará Ia transparencia de Ia "te",
sin que Ia "ve" busque venganza.
Que Ia "dobleve" Ia pidan ai norte,
donde les explicaron el "is silence"
y los tatuaron con celtas "exis"
La "ye", vayan a copularia a Grecia
Yo cerraré mi ataque con Ia "zeta",
para que definitivamente los marque,
por Zelmar, y porque en ella
debe terminar Ia palabra ai final.

* Jornalista uruguaio, Medalha Chico Mendes de Resistência em 2011.

 

LITERATURA

 

À flor da pele

Autora: Leila Domingues
Capa: Carla Luzzatto
Editora Sulina/Sul Editores
139 páginas

Temos aqui um livro que fala sobre os sentidos. Assim como pode, a partir do cinema, para questões que envolvem a subjetividade, do cinema à ética, do cinema à clínica, também, é um livro que lê a subjetividade como produção de sentidos, que lê a ética que perpassa os modos de vida. Leila Domingues nos presenteia com a sensibilidade de trazer a voz dos que lutam contra os controladores artificiais de sentidos, dos controladores morais de sentidos. É um livro que, como diz a autora, faz experimentar a leitura por todos os lados, então, faça o seu. Não um alerta contra males vindo de poderosas indústrias de produção de sentidos e conceitos manufaturados para o mundo. É um livro que age no sentido contrário da letargia ou das euforias artificiais, que vai da leitura para a descoberta do texto.

À Flor da Pele é um livro sem bula, sem receita, mas com a diversidade dos benefícios que a leitura traz em sua profundidade de temas tão importantes na atualidade. O leitor encontrará a abertura para outros sentidos. A linguagem contém as palavras, mas não os dizíveis, diz a autora.

A autora: Leila Domingues é graduada em Psicologia (USU), mestre em Teoria Psicanalítica (UFRJ), doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP) e pós-doutora em Psicologia Social (UERJ). É professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional (UFES), coordenadora do LIS/CNPq – Laboratório de Imagens da Subjetividade.

 

Crimes da Ditadura Militar

Crimes da Ditadura Militar

Crimes da Ditadura Militar
Autores: Ivan Luís Marques da Silva e
Karinna Fernández Neira
Organizadores: Luiz Flávio Gomes e Valério de Oliveira Maznoli
Editora: Revista dos Tribunais
336 páginas
Ano: 2011


Uma análise à luz da jurisprudência atual da Corte Interamericana de Direitos Humanos: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai

As violações que ocorreram nos regimes militares e que estão sendo discutidos na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Argentina, Chile e Uruguai já estão à frente na investigação e publicização dos militares responsáveis pela prática de crimes durante a ditadura. Tais crimes são imprescritíveis e representam um crime de lesa humanidade.

A busca de verdade e o ocultamento do destino dos desaparecidos, a troca de identidade e apropriação de crianças nascidas na prisão retratam tão bem o horror dos crimes cometidos.

O Brasil tem obrigação de cumprir a Sentença da Corte Interamericana, pois foi declarado responsável pelo desaparecimento de dezenas de pessoas.

Os colaboradores: André de Carvalho Ramos, Beatriz Affonso, Belisário Santos Jr., Cesar Augusto Baldi, Flávia Piovesan, Gabriel Adriasola, Guillermo J. Yacobucci, Ivan Luiz Marques, Karinna Fernández Neira, Marlon Alberto Weichert, Tarciso Dal Maso Jardim e Viviana Kasticevic

 

Nuvens de chumbo sobre o Cambaí
A Queda de João Goulart, um campo de concentração em Itaqui

 

<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO LOBO SCALETSKY

Crédito: Arte Pedro Lobo Scaletsky

Autor: Iberê Athaide Teixeira

Jornalistas não costumam resenhar livros de dois anos antes. Nada como andar na contramão. Recebi só agora "Nuvens de Chumbo sobre o Cambaí – a Queda de João Goulart, um Campo de Prisioneiros em Itaqui", de Iberê Athaide Teixeira. É uma história incrível e documentada com papéis do inquérito policial militar e do processo. Palavras do autor: "No hangar do aeroclube de Itaqui, devidamente cercados por arame-farpa eletrificado e sob a mira de fuzis com baionetas caladas, ao lado do prefeito e do seu vice, dos vereadores e seus suplentes, também os líderes camponeses e estudantes, sindicalistas, médicos, advogados, cerca de 40 pessoas, que integravam a fina flor da liderança local, mesmo sem mandato eletivo, se viram garroteados em sua liberdade física e moral por cerca de longos e intermináveis 111 dias, no período de 31 de março a 06 de agosto de 1964". Dá para acreditar?

Não foi em Palomas, mas em Itaqui. O tenente-coronel Caetano Pinto Rocha, comandante da Guarnição do 1º Regimento de Cavalaria, mandou prender todo mundo sob acusação de "crimes contra o Estado e seu patrimônio, à ordem política e social, bem como atos de guerra revolucionária". Entre os prisioneiros estavam o então prefeito da cidade, Gil Cunegatto Marques, que tomara posse três meses antes, seu vice, Otoni Monteiro Píffero, vereadores e outros terríveis "subversivos". Os sargentos Pacífico Berne e Catelan foram encarregados da vigilância do campo eletrificado. No lugar do prefeito, foi instalado o fazendeiro Júlio Santiago. A nova Câmara de Vereadores pagou o mico de remeter ofício ao comandante da guarnição e de propor a cassação dos mandatos dos prisioneiros.

Em ofício de 17 de abril de 1964, endereçado ao presidente do IPM, a Câmara de Vereadores rotulou os prisioneiros do campo de "verdadeiros filhos do diabo", determinados a levar a cabo um "processo de comunização do país", um "plano diabólico" do qual não podia estar fora o município de Itaqui.
Não parece coisa de Gabriel García Márquez?

Iberê Teixeira descreve a vida dos prisioneiros: "Segundo lembrança de um dos remanescentes da época do ''campo'', as necessidades fisiológicas mais primárias, como defecar e urinar, eram feitas em uma latrina de madeira, sem cobertura e com apenas três paredes, como aquelas ''casinhas'' plantadas no fundo dos quintais da periferia: um buraco sem assento, feito rés do chão, e o preso ali, acocorado e de calças arriadas, com as vergonhas à mostra, tendo na porta escancarada um soldado empunhando um calibroso fuzil de baioneta".

Não é realismo-fantástico?
O banho, com uma lata de querosene, exigia uma pessoa para segurar o chuveiro improvisado sobre a cabeça do banhista e outra para enchê-lo. Houve tentativa de suicídio e desespero. Alguns permaneceram mais de 40 dias sem acusação formal. Que "crime" haviam cometido? Terem apoiado um plano de reforma agrária envolvendo uma grande fazenda chamada de Mata-Fome. Pertencerem ao PTB de Leonel Brizola. Terem lançado um manifesto "ao povo itaquiense" propondo uma "frente de mobilização popular" em apoio às "reforma de base" do presidente João Goulart. Uma novela surrealista.

Juremir Machado Da Silva
juremir@correiodopovo.com.br


 

EXPOSIÇÃO

Carlos Vergara

Exposição de Carlos Vergara “Liberdades” no Parque Laje, inaugurada em 21 de maio de 2011, seguida de mesa redonda composta pelo Dr. Nilo Batista, Vera Malagutti, Tecio Luis e Silva e Julita Lemgruber sobre a questão do “Grande Encarreramento”.

Questão amplamente debatida onde devemos ver a prisão como uma forma de punição que na verdade não socializa nem reduz a criminalidade, ou melhor, é uma “pós-graduação em crime”. Nunca poderíamos imaginar que a demolição do Presídio desse essa belíssima exposição chamada “Liberdade”. Parece um contrassenso, mas não é, é uma forma de podermos respirar, pensar e encontrar soluções, apesar de um tema sufocante. Ali estiveram presos Graciliano Ramos, Maria Werneck, Apolônio de Carvalho, Nise da Silveira, Mário Lago, Olga Prestes.

Divulgação Artista exibe duas exposições em paralelo sobre a mesma temática: a implosão do complexo da Frei Caneca

O livro de Graciliano representa um testemunho vivo dos horrores da prisão durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. “Terei forças para continuar enfrentando homens humanos que constroem celas e homens divinos que tecem destinos?” (Graciliano Ramos).

“Não existe boa prisão. A prisão brutaliza, inferioriza e deteriora. A prisão foi um fenômeno estrutural da sociedade capitalista. Era preciso controlar os inúteis”. (Nilo Batista).

"A prisão em si não tem sentido. Os índices de reincidência são muito parecidos no Brasil e na Suécia... A criminalização da população pobre sempre foi uma constante na sociedade brasileira”. (Vera Malagutti).

Liberdade, de Carlos Vergara merece ser vista e revista para pensarmos com clareza e sem preconceitos o que é uma prisão e o que ela faz com os seres encarcerados.

 

 

TEATRO


Centenário de Lélia Abramo

A que civilização pertence Lélia Abramo?


Lélia Abramo representa para a Cultura Nacional, com certeza, a manifestação viva de um mundo que mesmo esfacelado ainda insiste em recompor-se. Ela nada tem dos personagens de Nelson Rodrigues, nada tem de decadente, nada tem de doentio, ela é a mais completa expressão trágica. Trágico, no sentido de um povo que atingiu a sua perfeição. E a qual povo pertence à atriz e militante da qual falamos?

Há alguns anos atrás, Lélia Abramo heroicamente tentou impedir que dois senadores da República emprestassem o seu prestígio participando de mais uma cena da “Vida como ela não é”. Mas, apesar do seu empenho era tarde demais, não conseguiu evitar mais um vexame nacional, no horário das oito.  Falamos de uma participação de Eduardo Suplicy e Benedita da Silva na novela, "O Rei do Gado", da tevê Globo, quando os dois se prestaram a misturar a ficção com a realidade confundindo ainda mais o cenário dos temas nacionais. Apesar de toda a bajulação em torno dessa novela, ela não tratou corretamente a questão da Reforma Agrária e muito menos sobre o movimento dos sem-terra.

Com Lélia Abramo é diferente, como grande atriz que é, ela conhece muito bem o fio da navalha entre a realidade e a ficção, assim como conhece também a natureza humana. Quanto mais o tempo passa, melhor ela percebe a vida e a história dos homens, como o velho vinho italiano que gosta de presentear seus amigos queridos. Nesse furtivo caso “telenovelesco”, citado acima, Lélia Abramo mais uma vez revelou que como poucos tem consciência dos tempos difíceis em que vivemos. Ela tentou interferir, procurando quem naquele momento tinha voz ativa para orientar, mas estes estavam muito ocupados resolvendo mais uma questão intestinal partidária. No dia seguinte, essas cenas já faziam parte da história. E, por falar em história, é de Lélia Abramo a frase que “em política, você não pode errar”. Mas, não pensem que ela não interferiria mesmo se esses senadores não pertencessem ao partido de sua predileção; ela o faria com a mesma paixão e respeito que tem pela história da humanidade e o seu compromisso com a decência.

No teatro brasileiro, a atriz Lélia Abramo despontou na década de 50, pelas mãos de José Renato quando participava de um grupo de imigrantes na região do Brás e da Mooca, em São Paulo. Nessa época, apresentou-se para o Brasil interpretando a personagem, mãe, na peça de Gianfrancesco Guarnieri, "Eles não usam Black-tie", no Teatro de Arena. No cinema, sua magnífica contribuição foi nos filmes "Vereda da Salvação" e "Caso dos Irmãos Naves". Filmes que projetaram o Brasil como um país emergente, que os inimigos da humanidade fizeram o favor de destruir. A perseguição que sofreu, ao longo dos anos, por ser mulher, atriz, militante sindical, filha de Abramos (aqui, o sobrenome ganha contornos de adjetivo) fez dela um Samurai. Sua história é a história do século que terminou recentemente e, por essa razão, sua vida e seus escritos precisam ser lidos e estudados, sempre.

Sua participação em televonelas foi decisiva, acrescentando minúcias na arte de representar até o momento em que foi colocada na “geladeira” sofrendo um dos mais cruéis boicotes. Seu personagem chegou a ser cortado da novela da tevê Globo, “Pai Herói”, em razão de suas ideias. Na sociedade em que vivemos, não há espaço para "Mãe Coragem", muito menos para "Rosa de Luxemburgo".  Participou também da minissérie, "O Tempo e o Vento", porém, em novelas, nunca mais, após o episódio globo. É curioso o papel que Lélia Abramo sempre representou para sua categoria profissional – os artistas de teatro, televisão e cinema. Todos nós sabemos que ela é uma pessoa extraordinária, uma atriz excepcional, uma lutadora incansável, e por que então esse pouco caso em relação a ela ao longo de todos esses anos? Falamos, pelo menos retroagindo 25 anos atrás, quando efetivamente a conhecemos. O caso que se segue, em semelhança e intensidade repetiu-se por diversas vezes, cada um que a conhece de perto por certo terá um caso desses para contar.

Dia era 27 de Outubro de 1975, cenário o Teatro Paiol, em São Paulo, a comunidade de artistas e intelectuais estava perplexa com mais uma brutalidade, dessa vez explícita, da Ditadura Militar que escandalosamente arrogantemente anunciou: MATARAM VLADO. Dois dias antes, Vladimir Herzog que se dirigiu espontaneamente até as dependências do II Exército para prestar depoimento sobre colaboração financeira a uma organização política, proscrita, duas horas depois estava morto barbaramente foi torturado e barbaramente assassinado. Era o começo do fim, o ato falho dos comandantes, o início do terceiro ato de peça trágica brasileira. Mas, voltemos ao Teatro Paiol. Nesse dia, prosseguiam leituras dramatizadas de peças premiadas pelo Serviço Nacional de Teatro, e Lélia Abramo participava como atriz. A multidão, acotovelando-se na entrada no teatro e também na plateia aguardava ansiosa e apreensiva que alguém dissesse alguma palavra sobre o que havia acabado de acontecer porque naqueles tempos era possível obter qualquer tipo de informação e do dia-a-dia, somente através dos jornais, devido à ditadura. Lélia Abramo, como não poderia deixar de ser, foi a pessoa que falou sobre o sentimento daquela comunidade que precisava desabafar. Ela disse exatamente essas palavras, "a classe teatral rende aqui a sua homenagem ao jornalista, Vladimir Herzog, agradecendo o seu expressivo apoio ao teatro quando dirigiu a revista Visão". Em seguida, veio um silêncio sepulcral. Como ninguém, ela sabia dosar revolta com oportunidade. Uma pessoa menos preparada faria o contrário, discursaria contra o Regime sob os olhares atentos dos agentes do Dops e da Polícia Federal, infiltrados na plateia. E o resultado seria desastroso.

Fica aqui a pergunta: será que o passado nos assusta tanto? Será que este passado nos faz ver o presente, como verdadeiramente ele é? Agrava-se este passado, quando temos uma testemunha viva? Respondendo à pergunta inicial, a qual civilização pertence Lélia Abramo? Ela faz parte de um povo que não se curva e não desmorona diante do tirano. Apesar do seu corpo enfermo, sua cabeça ainda pensa, e isso é o suficiente para surgir uma outra civilização. Quanto ao resto? Bem, o resto é silêncio!

Amanhã ouviremos versos de Neruda, Drumonnd, ou mesmo Allen Ginsberg num toca-disco de uma loja de móveis antigos, na voz forte e fogosa de Lélia Abramo. Será o verdadeiro legado que o século e a civilização passada nos deixou.

Jair Alves – Dramaturgo