VIOLÊNCIA NO CAMPO

Tortura e morte no campo

 

As Ligas de Camponeses Pobres (LCP) são resultantes e continuação das históricas lutas pela terra no país de uma forma geral e, particularmente, da luta combativa dos camponeses de Rondônia, desde os anos de 1970. Lutas cujo desenvolvimento culminou com a histórica batalha de Santa Elina (também conhecida como Massacre de Corumbiara) que, em agosto de 1995, estabeleceu um divisor de água na luta pela terra não só em Rondônia, mas também em todo país.

Em 9 de agosto de 1995, no município de Corumbiara, 600 famílias, que ocupavam parte da fazenda Santa Elina, foram atacadas na madrugada pela polícia militar e por pistoleiros dos latifundiários, vestindo fardas da PM. Militares e pistoleiros, fortemente armados, cercaram os camponeses matando 11 deles, entre os quais a menina Vanessa de 11 anos. Centenas de famílias foram feitas prisioneiras e grande número de camponeses foram barbaramente torturados, por muitas horas. Dentre os camponeses que resistiam ao ataque, o companheiro Sergio Rodrigues, após ser ferido por tiros da polícia, foi espancado e, posteriormente, sequestrado do meio dos demais. Levado por pistoleiros para uma fazenda da região, seguiu sendo cruelmente torturados até a morte. Seu corpo, com as marcas das sevícias, foi encontrado 18 dias depois à beira de um riacho no município vizinho de Chumpiguaia.

Da luta de Santa Elina surgiu o MCC (Movimento Camponês Corumbiara) no propósito de seguir sustentando a herança da luta de Santa Elina. Com o tempo, após uma série de divergências no seio do MCC, e do avanço da luta combativa no Norte de Minas Gerais surgiu a LCP. Enquanto organização independente e combativa dos camponeses, as LCPs se fortaleceram e expandiram pelo país, sendo fundadas as LCPs do Pará e Tocantins e as LCPs do Centro-Oeste e Nordeste.

Ao longo destes 10 anos, as LCPs têm se mostrado incansáveis, mesmo enfrentando toda sorte de dificuldades, de ataques por parte da direita e dos oportunistas, com seus líderes perseguidos pela justiça, polícia e pistoleiros, sofrendo intrigas e difamações por parte do governo e da grande imprensa.

Em novembro de 2007, mais de mil famílias, organizadas pela LCP, tomaram o latifúndio da  fazenda Forkilha, no sul do estado do Pará. Essa fazenda havia sido interditada pela prática repetida de trabalho escravo. Atendendo ao interesses dos latifundiários, o governo do estado do Pará desencadeou a operação “Paz no Campo”, atacando os camponeses acampados com armas pesadas, helicóptero e tropas com mais de 500 policiais e militares das forças armadas. Foram também mobilizados na operação altos funcionários de órgãos federais do estado como INCRA, IBAMA, Ouvidoria Agrária, ABIN, além de outros de nível estadual. Muitos camponeses foram torturados, crianças de 10 anos tiveram revólveres apontados para suas cabeças, pessoas agredidas e penduradas de cabeça para baixo, com cabelos cortados a golpes de facões. Além da prisão de mais de 200 camponeses, cerca de 30 deles permaneceram presos por 40 dias. Essa ação ficou conhecida pelos camponeses como “terror no campo”. Após essa desocupação, nova campanha de perseguição às lideranças daquela luta foi desencadeada, sendo 13 camponeses da liderança do acampamento assassinados, um por um, ao longo do ano de 2008 e meados de 2009, além de vários casos de prisões seguidas de torturas e maus tratos. A campanha genocida culminou com o assassinato do companheiro Luiz Lopez de Barros, liderança histórica da região sul do Pará e dirigente da Liga dos Camponeses Pobres do Pará e Tocantins.

No início de dezembro de 2009, em Rondônia, no município de Buritis, apesar das reiteradas denúncias da LCP e organizações democráticas sobre as ameaças e ações dos pistoleiros do latifundiário Dilson Caldato, mais um hediondo crime aconteceu. Os coordenadores da LCP-RO Élcio Machado e Gilson Gonçalves foram sequestrados por pistoleiros e depois de horas submetidos a torturas, tiveram seus dentes quebrados a coronhadas, suas unhas arrancadas, tiras de pele foram cortadas das suas costas. Antes de ambos serem executados com tiros calibre 12 na nuca, Élcio, ainda foi ferido por um tiro no braço e teve uma de suas orelhas arrancada.

Ocupando terras e distribuindo-as imediatamente às famílias para desenvolverem a produção, as Ligas estão mobilizando e organizando as massas de camponeses pobres propondo por destruir o latifúndio parte por parte, como única via para realizar uma verdadeira transformação agrária, para entregar terra a quem nela trabalha, entregar terra aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra através do que denominam da Revolução Agrária.

A longo prazo, as LCPs informam que têm como objetivo fortalecer a luta contra todo sistema latifundiário, pela sua destruição e pelo estabelecimento do poder popular para edificar uma democracia nova, conquistar a independência e o progresso da Nação,  construindo uma sociedade socialista.