CULTURA

 

LITERATURA

Segredo de Estado: O desaparecimento de Rubens Paiva

Autor: Jason Tércio
Editora: Objetiva
Ano: 2011
332 páginas

Excelente livro de Jason Tércio sobre o desaparecimento de Rubens Paiva. Narra em linguagem simples, a biografia de Rubens Paiva com dados recolhidos pelos parentes, pesquisas de jornais, depoimentos... Não deixa de ser uma história de calafrio e dor, intriga e espanto. Num tempo em que o Brasil vivia em permanente sobressalto e medo. Seu desaparecimento foi a mais controvertida história da segunda metade da década de 70. Foi um desaparecimento e um silêncio total das autoridades militares e dos presidentes posteriores. O autor procura reconstruir a “Verdade com a tessitura da imaginação”.

Uma família com 5 filhos e uma esposa dedicada. Era uma casa alegre, com reuniões de amigos. A descrição dos hábitos familiares lembra uma família comum que politizada conversava abertamente com seus filhos sobre a ditadura, a falta de liberdade, a censura. Seus amigos frequentadores de sua casa eram também perseguidos pela ditadura e com direitos políticos cassados como Waldir Pires, Tito Riff, Bocayuva Cunha, Fernando Gasparian, Almino Afonso e outros.

Ao ser detido para um simples depoimento viu sua prisão se prolongar. Foi levado para o Doi-Codi da Barão de Mesquita e sofreu as piores torturas: a cadeira do dragão, o pau de arara, os choques elétricos, afogamento, ficando com hematomas e fraturas. Seu corpo dilacerado, cheio de dor e sangue... Até hoje não se sabe o que foi feito dele.

“Sai mancha maldita, sai, estou mandando. Será que essas mãos nunca ficarão limpas” (Shakespeare – Macbeth, cap. IV, p.193)

“Por que crime ele recebe tamanha punição?” (Esquilo – Prometeu acorrentado, cap. II, p.115).

 

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Lavechia, um sapateiro contra a ditadura
Autora: Célia Barros 

"– Eu havia sido selvagemente torturado. Como não “entreguei” nada, eles decidiram castigar o Lavechia, na tentativa de me obrigar a abrir a boca. Enquanto apanhava, ele repetia o tempo todo: “Comandante não abra”. Isso irritava os militares, que pegavam cada vez mais pesado. Doía muito em mim o sofrimento dele, mas suportei calado, principalmente diante de sua coragem. Era impressionante a lealdade que ele tinha ao Lamarca e à organização. Algo que não tem preço."

Darcy Rodrigues

Lavechia, um sapateiro contra a ditadura é a história de uma mulher simples e seu ex-marido, um sapateiro humilde do Canindé, São Paulo, que deu a vida pela guerrilha, porque acreditava, que poderia contribuir para a edificação de um Brasil melhor. Eram os idos tempos dos anos 60 quando se conheceram.

Ela, uma nordestina que enfrentou um caminhão pau de arara para tentar a vida em São Paulo. Ele, um homem solitário que tinha por hobby a caçada. Viveram juntos 10 anos, até que eclodiu o golpe militar. Ela ignorava as atividades políticas do companheiro, apesar do entra e sai na sala humilde onde viviam, e onde esteve hospedado, por mais de uma semana, Carlos Lamarca. "Um dia, ele sumiu no mato. Ela passou 44 dias encarcerada. Ele também foi preso, no Vale do Ribeira, onde combatia ao lado de Lamarca. Foi para a Argélia no grupo dos 40. Passou depois por Cuba, Chile e Argentina. Foi morto supostamente ao tentar retornar para o Brasil, e consta da relação oficial dos desaparecidos políticos durante o regime ditatorial", informa a autora.

Além da relação dos dois, o livro retrata a trajetória do sapateiro no exílio, reconstituída graças a depoimentos de ex-companheiros, e revela algumas facetas de um homem muito simples, que ousou sonhar grande sobre o Brasil. Entre os que com ele conviveram, guerrilheiros famosos, como o ex-sargento Darcy Rodrigues, braço direito de Lamarca, e até um poeta que buscou exílio voluntário no Chile de Allende. É através da poesia que ele narra as noites insones do sapateiro na embaixada da Argentina onde se refugiaram com o Golpe de Estado chileno.

Mas que fim teve o sapateiro?

Não há respostas, há especulações. Que visão têm hoje seus ex-companheiros da guerrilha? Nem todo mundo faria de novo o que fez. Informa ainda a autora que “é com tais considerações que se encerra a história de Lavechia. E com um carinho e respeito enorme por quem fez uma guerra a que apenas assisti da janela de minha vida de adolescente”.

 

A autora

 

Sou Feliz, Acredite! 
Autores: Mônica Bernardes e Mauro Tertuliano
Editora: Best Seller
Ano 2011

Sou Feliz, Acredite!, de Mônica Bernardes e Mauro Tertuliano, dois jornalistas que trabalham como editores na TV Globo, narram 13 histórias de superação. Casos de pessoas que passaram por situações dramáticas, souberam enfrentar as adversidades e passaram a ajudar outras pessoas com palestras, doações ou trabalhos sociais em instituições. Todas têm em comum o fato de, apesar do sofrimento, demonstrarem alegria de viver. Os autores também ouviram pensadores de diversos segmentos sobre os motivos que podem levar alguém a ter tanta força e tanto otimismo. Por que certas pessoas entram em desespero e desistem da luta enquanto outras mantêm o vigor e a capacidade de superação?
Os autores esperam, com esse trabalho, inspirar as pessoas a viverem mais felizes.

Entrevistados que opinaram sobre a capacidade de ser feliz:
Zilda Arns, Divaldo Franco, Affonso Romano de Sant'Anna, Ignacio Cano, Dom Estêvão Bittencourt, Dráuzio Varella, Manoel Thomaz, Moacyr Félix.

13 personagens contaram suas vidas. Entre eles a companheira Cléa Moraes – Mãe de Sônia de Moraes, Angel Jones, morta nos porões da ditadura militar brasileira –, que se tornou uma das mais atuantes militantes do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ.

 

CINEMA

Filme: Cães e Homens
Diretor: Elinaldo Rodrigues
Baseado no livro: A Ditadura dos generais
Autor: Agassiz Almeida

Com ampla mobilização dos setores intelectuais, acadêmicos e entidades de apoio à cultura e à memória histórica do nosso país, como a Fundação Joaquim Nabuco, grupo “Tortura Nunca Mais”, Associação dos Anistiados Políticos, Memorial das Ligas Camponesas, foi aprovado pelo Ministério da Cultura, através da Ancine – Agencia Nacional de Cinema, o filme documentário de longa metragem, “Cães e Homens”, baseado no livro, A Ditadura dos generais, do escritor Agassiz Almeida, cuja direção está a cargo do cineasta Elinaldo Rodrigues.

O filme se reporta à ditadura militar instalada no Brasil, com o Golpe Militar de 1964, movimento que começou com a deposição do presidente João Goulart, e terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves. Foi dura a repressão aos opositores da ditadura militar, período durante o qual centenas de prisões, torturas e mortes ocorreram contra os adversários do regime militar .

Enfocando este terrível período da nossa história, diversas obras foram adaptadas ao cinema, como “O que é isso, companheiro”, “Zuzu”, “Pra frente, Brasil”, no entanto, centrado nos acontecimentos na região do Nordeste, este filme, “Cães e Homens”, vem, decerto, preencher esta lacuna. Premiado por dirigir o filme “Zé Ramalho – O Herdeiro de Avóhai,” Elinaldo Rodrigues buscou como elemento estruturante do filme Cães e Homens, o livro “A Ditadura dos generais” no qual o próprio autor é um dos personagens do drama cinematográfico, pois ele foi desterrado à ilha de Fernando de Noronha. Na sua “via crucis”, o encarcerado Agassiz Almeida teve a companhia de Miguel Arraes, Francisco Julião, Gregório Bezerra, Paulo Cavalcante e Seixas Dória.

O filme Cães e Homens se baseia, segundo o seu diretor, numa mistura de documentário com encenações ficcionadas. A ideia é que, a partir de certos personagens, possamos fazer ramificações para alguns subtemas em torno do golpe militar. Por exemplo, destacamos a questão das “Ligas Camponesas”, que foram fundadas por Francisco Julião. Elas levam ao drama emblemático vivido por João Pedro Teixeira e Elizabeth Teixeira, protagonistas do filme,“Cabra marcado para morrer”, do documentarista Eduardo Coutinho.

O início das filmagens está projetado a partir do mês de agosto deste ano, com cenas se desenrolando na Paraíba, em virtude da criação das Ligas Camponesas, em que nelas participaram Francisco Julião, Pedro Fazendeiro, João Pedro Teixeira. A filmagem se estende a Pernambuco e a Ilha de Fernando de Noronha, inclusive o diálogo do prisioneiro Agassiz com os generais Justino Alves Bastos e Ednardo D’Ávila Melo.

 

Teatro

Protestos do Dolores no Prêmio Shell

Muitas são as histórias de protestos que rompem o script das honrosas premiações às artes ao redor do planeta. Uma das mais famosas foi quando o ator Marlon Brando recusou a cobiçada estatueta do Oscar em 1973, pela atuação em O Poderoso Chefão, e enviou em seu lugar uma índia (ou uma atriz se passando por uma índia) que proclamou:

http://www.bacante.com.br/wp-content/uploads/2011/03/marlonbrando_india1.jpg“Meu nome é Shasheen Littlefeather, eu sou uma índia apache e estou aqui representando Marlon Brando que mandou dizer que não aceita o prêmio em sinal de protesto pela imagem falsa que o cinema e a televisão projetaram do índio norte-americano”

Ao fim do discurso, disse que esperava ver Marlon Brando juntar-se aos índios rebelados de Wounded Knee. Foi recebida, obviamente, pelas vaias indignadas dos seletos e endinheirados comensais da academia de cinema estadosunidense.

Em 2011, a mesma premiação escutou o protesto silencioso de Jean-Luc Godard que se recusou a comparecer à cerimônia onde foi homenageado pelo conjunto da obra. Godard, marcado pelo radicalismo e engajamento de seu cinema, simplesmente ignorou todas as tentativas de contato feitas pela Academia. Sua ausência demarcava a contradição da homenagem.

 

http://www.bacante.com.br/wp-content/uploads/2011/03/godard-1.jpgOutro belo protesto foi o de Lars Von Trier quando foi agraciado com o prêmio “Diamante da Paz”, da organização Cinema pela paz, pelo filme Dogville. O diretor não compareceu e enviou um vídeo de agradecimento – obviamente censurado pelos organizadores.

No Brasil, há o almejado Prêmio Shell de teatro. E já no nome o evento mostra sua incongruência. A Shell Petroleum, uma corporação gigantesca, cujos ímpetos de exploração brutal – seja de recursos naturais, seja de trabalhadores – ao redor do planeta não são segredo nenhum, resolve, sabe-se lá por que, premiar artistas do terceiro mundo e lhes presentear com, nada mais nada menos, o logotipo da marca Shell !

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(Montagem que lembra o enforcamento na Nigéria em 1995 de nove ativistas ambientais que protestavam contra a atuação da Shell no país – ”Quando as engrenagens da propriedade e da exploração estão ameaçadas o sistema recorre à barbárie”)

 De fato há poucas coisas mais esdrúxulas que este Prêmio, e uma delas – não poderia deixar de ser – é o deslumbre dos artistas teatrais paulistanos premiados, os quais contabilizam a “concha de ouro” como o ápice do reconhecimento de seus talentos sublimes.

 

http://www.bacante.com.br/wp-content/uploads/2011/03/00barrilshell.jpgMas não bastasse a alienação festiva da categoria (afinal “a arte é mais!”, já diriam), tornaram-se – sob liderança do emérito humorista (tão socialmente preocupado) Sr. Marcelo Tas – defensores entusiastas da “ordem” na premiação. E receberam com vaias e desconforto o protesto que marcou a cerimônia paulistana de 2011.

Nesta 23º Edição do Prêmio, o Coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes foi premiado na categoria Especial, e já no palco, enquanto tinha óleo derramado em sua cabeça, um dos atores do coletivo leu o seguinte manifesto:

“Para nós do coletivo artístico Dolores é uma honra participar deste evento e ainda ser agraciado com uma premiação.
Nosso corpo de artista explode numa proporção maior do que qualquer bomba jogada em crianças iraquianas.

Nosso coração artista palpita com mais força do que qualquer golpe de estado patrocinado por empresas petroleiras.

Nossa alegria é tão nossa que nenhum cartel será capaz de monopolizar.
É muito bom saber que a arte, a poesia e a beleza são patrocinadas por empresas tão bacanas, ecológicas e pacíficas.

Obrigado gente, por essa oportunidade de falar com vocês.
Até o próximo bombardeio…

…quer dizer, até a próxima premiação!!!”

 Contudo, o paradigma da sapiência, o apresentador da cerimônia, Sr. Marcelo Tas, apoiado e incentivado pelos esclarecidos artistas paulistanos, bradou, indignado, aos seus colegas de imprensa: “são extremistas!”

Mas, como disse Brecht: “A verdade é combativa. Não luta somente contra a inverdade, mas também contra certos homens que a divulgam”
Por isso há de se desejar vida longa ao Dolores !

 Paulo Bio Toledo

 

POESIA

Mulher

Valdelice Roriz 

Como ser
frágil
como um
cristal,

Ou forte como
a rocha
que suporta
montanhas ,
forma
alicarce.

Tarefa árdua
nas mãos
seguras, nem sempre macias
mas perfeitas
para tudo fazer
até mesmo na
bela arte de amar.

Fêmeas,
frígidas não!

Eróticas, exóticas,
brancas,
pardas ou negras.

As mesmas na
arte de ser
em tempo de
saber
que não é
fácil ser mulher.

Mulher, só tuas
vidas podem gerar
em ventres
firmes
em seios
alimentar.

Trabalhar, chorar, sorrir

E mesmo
cansada
saber com
ternura
todas as
formas perfeitas de amar.

Vivam todas
nós que acreditamos no que acreditamos,
pela vida
pela paz, tortura nunca mais.