CULTURA

 

POESIA

Agosto – 1966

(Invasão do convento em que se realizou o Congresso da UNE/66)
Honestino Guimarães

Não éramos somente
poucos mais de duzentos...
Não tínhamos apenas
Poucos anos, mais que vinte
Chegáramos de todos os lugares
trazendo na voz uníssona
o futuro de um mundo asfixiado nas horas últimas.
Trazíamos a arrogância
que a liberdade individual a cada um concedia.
Trazíamos também a fome
que consumia o povo,
bem mais de 80 milhões,
a um pouco, não tão pouco,
mais que 2 bilhões...

Trazíamos a angústia impotente
do direito que latente,
só assim prevalecia.
Mas também vinha conosco a certeza do amanhã,
pois cada um já, em sonhos,
antevira por entre a noite,
uma nesga de madrugada,
um pedaço de manhã
que regaria a terra com gotas de puro amor.
O que se constrói com justiça
é a liberdade geral,
nem mesmo que custe sangue
de quem sangue vivia sugando-o ao mundo todo.

Não éramos somente pouco mais de duzentos,
clandestinos  num convento
quando a praça tomada era negada ao povo,
onde então não só duzentos
muito mais que só duzentos
pelo povo falariam.

Não éramos somente duzentos
nem 140 mil universitários reunidos.
Éramos mais, bem mais que 80 milhões
e um pouco, não tão pouco,
mais que 2 bilhões.

Honestino Guimarães nasceu em 28 de março de 1947. Foi preso e desapareceu em 1973, quando tinha 26 anos, e os militares nada esclareceram sobre sua prisão e desaparecimento.
 Seu poema mostra os seus sonhos por um mundo melhor e mais justo.

 

 

EXPOSIÇÃO

Guerra e Paz

A exposição dos painéis Guerra e Paz, de Portinari, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, acontecerá na segunda quinzena do mês de dezembro. 


Os murais Guerra e Paz, dois dos trabalhos mais conhecidos do pintor ítalo-brasileiro Cândido Portinari, deixarão, temporariamente, a sede das Nações Unidas, em Nova York, onde estão há cerca de 50 anos.

As obras, sob a guarda do Projeto Portinari, serão restauradas no Rio de Janeiro e, após, seguirão em exposição para Brasília, Belo Horizonte e São Paulo. Os painéis ficarão expostos no salão de honra do Grand-Palais em Paris, a partir do dia da reinauguração do local, em setembro de 2010.

Projeto Portinari
O diretor do Projeto Portinari e filho do artista, João Cândido Portinari, em entrevista à Rádio ONU, do Rio de Janeiro, informou que as Nações Unidas já aprovaram o empréstimo da obra até 2013.

O acervo do Projeto Portinari é resultado do levantamento e catalogação de quase 5.000 obras e aproximadamente 30.000 documentos relacionados a estas obras. Entre estes documentos encontram-se: correspondências, periódicos, livros, fotografias de época, depoimentos, catálogos de exposição e de leilão, textos, e outros.

Os murais
Em 1952 a direção da ONU sugeriu que cada país doasse uma obra de arte para sua nova sede em Nova York. O governo brasileiro escolheu Portinari para pintar os quadros que representariam o país na entidade.

O pintor optou pelos temas Guerra e Paz e iniciou o trabalho com cerca de 180 estudos sobre o assunto. Os painéis, que têm quatorze metros de altura por dez de largura, ficaram prontos em 1956.

Portinari
Candido Portinari, natural de Brodósqui, no interior do estado de São Paulo, nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, filho de imigrantes italianos, de origem humilde. Aos quinze anos de idade, se transferiu para a cidade do Rio de Janeiro, onde passou a estudar na Escola Nacional de Belas-Artes.

No Brasil, em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, Minas Gerais, destacando-se na Igreja de São Francisco de Assis, o mural São Francisco (do altar) e a Via Sacra, além dos diversos painéis de azulejo.

A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçaram o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries Retirantes (1944) e Meninos de Brodósqui (1946), assim como à militância política – filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, sendo candidato a deputado em 1945, e a senador em 1947.

Ao longo da sua vida, fez inúmeras exposições e recebeu diversos prêmios, no Brasil e no exterior. Candido Portinari faleceu no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

Projeto Portinari – Pontifícia Universidade Católica – PUC/RJ
R. Marquês de São Vicente 225, Gávea, Rio de Janeiro
www.portinari.org.br

 

Artistas de Rua

Exposição de Sergio Ricardo

 

Projeto MEMÓRIA ARTÍSTICA SÉRGIO RICARDO

Orientado pela Prof˚ Ana Lúcia Siaines de Castro, com o objetivo de resgatar e conservar a memória da produção musical, cinematográfica e artística do Sérgio Ricardo, uma grande personalidade da cultura nacional.

Marcante em sua contribuição para a música, como compositor e cantor; para o cinema e televisão, como ator, diretor, trilheiro e roteirista; além de também apresentar uma produção ligada às artes plásticas, teve participação em momentos e movimentos importantes do país, foi um dos integrantes da Bossa Nova e da MPB, e deu sua colaboração para a luta contra a repressão da ditadura militar.

Uma importante parte da obra desse grande artista é a exposição, na qual expõe sua série de gravuras em técnica glicée: "Artistas de rua", onde explora muitas possibilidades digitais e cromáticas no computador.

Ana Amaral
Ana Katharina Essus
Carolina Alfradique
Lidiane Nascimento
Luciana Magoulas
Tatiana Aragão

CINEMA

Em teu nome


Direção: Paulo Nascimento
Elenco: Leonardo Machado, Cesar Trancoso, Silvia Buarque, Marcos Versa, Marcos Paulo.
Brasil 2009 - 100 minutos

Um dos melhores filmes sobre a luta contra a ditadura militar brasileira, o filme Em teu nome é baseado na história real de João Carlos Bona Garcia, um estudante de engenharia, de origem humilde, que adere à luta armada. Como tantos, é preso, torturado e banido do país. Vai para o Chile e após a queda de Allende mora na Argélia e na França.

 

 

 

Diario de uma busca

Titulo: Diario de uma busca
Direção, roteiro e produção: Flavia Castro
Atores: João Paulo Castro, Sandra Macedo, Flávia Castro
Duração: 105 min
Gênero: Documentário
Lançamento: 2010
Estúdio:Tambellini Filmes / Films du Poisson
Distribuidora:
Música: Mário da Silva
Fotografia: Paulo Castiglioni
Edição:Jordana Berg e Flávia Castro

Sinopse:
Celso Afonso Gay de Castro morreu aos 41 anos, em Porto Alegre. Exilado pela ditadura militar brasileira, ele percorreu Argentina, Venezuela, Chile e França, sempre carregando consigo sua família. Só que sua repentina morte jogou por terra o ideal político existente.

 

Mapuches contra o Estado

Título: Mapuches contra o Estado
Gênero: Documentário
Direção: Carlos Pronzato
Duração: 60 minutos
Exibido na Jornada Internacional de Cinema da Bahia em setembro de 2010

Sinopse
Os mapuches (gente da terra) são uma nação da região centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina. Desde a conquista os espanhóis vêm lutando duramente para subjubgá-los, mas não conseguiram.

A principal reinvidicação mapuche é a recuperação e autogestão de seus territórios ancestrais frente à invasão das transnacionais protegidas pelo Estado, ou seja, a autodeterminação de seu povo o que está garantido pelo convênio da OIT nº 169. Várias organizações e setores da sociedade chilena denunciam a continuidade das perseguições e crimes cometidos pelo Estado contra o povo mapuche

O filme é dedicado à cineasta chilena Elena Vaula presa em 07 de maio de 2008 quando filmava a luta do povo mapuche e a repressão. As autoridades realizaram a prisão para interromper a investigação e intimidar a cineasta e o povo mapuche. Seu material filmado foi confiscado bem como seus equipamentos.

 

LITERATURA

 

Horizontes da luta social – os sujeitos da política

Organizadores: Frederico Daia Firmiano e Moisés Augusto Gonçalves
Editora: BookJVRIS – Belo Horizonte – 2010
Coleção Olhares do Dissenso – Vol. II
176 páginas
Colaboradores: Silas Nogueira, Frederico Daia Firmiano, Maurício Bernardino Gonçalves, Maria Nalva R. Araújo e Cristhiane A. Falchetti

“... nada causa mais horror à ordem do que homens e mulheres que sonham”

O livro mostra as diferentes reflexões nascidas no calor da luta política, procurando fazer uma análise crítica dos movimentos sociais da atualidade. Baseando-se no pensamento de Gramsci sobre a América Latina, os autores procuram analisar o pensamento social da América Latina comparando-o com o Europeu.

Os movimentos sociais apresentam uma certa divergência entre as informações do neoliberalismo e o projeto político democrático. Alguns movimentos sociais mantêm posturas mais combativas ou revolucionárias e vêm sendo criminalizados pelo poder público e por alguns segmentos da sociedade civil. É necessário pensar, por isso, novos e mais eficazes horizontes de luta.

O trabalho é um ponto importantíssimo na vida cotidiana das pessoas. Os camelôs são de forma discriminatória associados a bandidos. Mas são, às vezes, trabalhadores desempregados. É uma vida, a luta por direitos deve fornecer uma alternativa urgente e necessária para o problema.

No posfácio há um verso de Moisés Augusto Gonçalves intitulado Minhas Saudações: é um belo poema. Na verdade um libelo contra a economia global.

 

Por um triz – Memórias de um militante da AP

Autor: Ricardo de Azevedo
Editora: Plena Editorial
2010

  

 

Direito fundamental à memória

Autora: Fabiana Santos Dantas
Ed. Juruá, Curitiba – Paraná
2010
296 páginas

 “Devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir promessas que fazemos” (Frederich Nietzsche).

Na última página do livro encontramos a frase de Nietzsche que resume para nós a importância da leitura do livro de Fabiana. A memória mantém vivos os fatos e os acontecimentos que não podem ser esquecidos, pois se os esquecermos corremos o risco de vê-los repetidos, às vezes, de forma tão ou mais violenta e trágica.

É pela memória que analisamos, compreendemos, questionamos e refletimos criticamente o que aconteceu: as ditaduras militares no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai com torturas hediondas e mortes dos presos que lutaram por um ideal. A prisão de Guantánamo que permanece até hoje sem solução. Tudo isso configura o crime de lesa-humanidade, crime que não prescreve.

É fundamental formar a consciência dos jovens para escrever a sua cidadania. Ter uma visão crítica para reconstruir o passado. Nunca devemos aceitar a frase de que “o brasileiro não tem memória”. O que ocorre é que esse esquecimento é institucionalizado, condenando-se a uma estagnação política, desconhecimento do que aconteceu e alienando-nos do que está diante de nossos olhos. É a política do esquecimento.

Será que não temos identidade, passado, presente e futuro? Tudo é parte de uma política que exime o Estado de construir a memória, a democracia e a responsabilidade por nossa história.

É um belo livro de esclarecimentos e pesquisa histórica com um embasamento jurídico – todo o nosso triste passado com citações jurídicas, filosóficas e psicológicas. Quem quiser pesquisar o assunto deve consultá-lo, pois é uma fonte rica e detalhada de nosso direito à memória.

A autora é Procuradora Federal e Doutora em Direito Público pela
Universidade Federal de Pernambuco.

 

Rebeldes

Autor: Silvio Mota
Ed. Expressão Gráfica – Fortaleza
2009
224 páginas

“É preciso não ter medo
É preciso ter coragem de dizer.” (Carlos Marighella)

O prefácio de Moema São Thiago descreve quem é Silvio Mota. Hoje, juiz aposentado começa a contar fatos e verdades, desvios e desvirtuamentos ocorridos na época em que foi o 1º comandante da ALN, em Fortaleza. Era um homem que acreditava que só a verdade liberta. Com uma firmeza ideológica, conseguida a ferro e fogo durante a ditadura militar, nunca se deixou corromper pelo poder. Sua integridade, sua firmeza aos princípios éticos e sua visão humanista nos faz acreditar que o sonho não acabou.

Relatando a história da ALN no Ceará, fala sobre os desvios, desvirtuamentos, dores, mortes, traições, torturas. É interessante a leitura do livro como pesquisa e detalhamento dessa parte da história da ALN. Todo jovem que não viveu aquela época de terror deve conhecer a nossa história já que só a verdade pode nos libertar!