Como experimentar Uma Vida Não Fascista

“(...) o inimigo maior, o adversário estratégico (...): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini – que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas –, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora”. (Michel Foucault – “Introdução à Vida Não Fascista”, prefácio a O Antiédipo: capitalismo e esquizofrenia, 1977)*

Que relação direitos humanos tem com este alerta que nos faz Foucualt – ao nos mostrar a importância política e revolucionária de “O Antiédipo”, a obra de G. Deleuze e F. Guattari – sobre as forças tanto conservadoras e de constrangimento quanto as transformadoras e potentes que nos atravessam e nos constituem?

Afirmar direitos humanos não é a afirmação de uma paz e harmonia abstratas em cima de discursos-ações vazios e também abstratos. Afirmar direitos a diferentes vidas e existências é sair dos marcos legais e puramente jurídicos para adentrar no campo da ética. Ética aqui entendida não como moral, como julgamento, como “dever ser” em cima de idéias abstratas de Bem e Mal. A ética, diferentemente da moral, está no campo dos encontros concretos, daquilo que nos fortalece e alimenta – o bom encontro – e que, em outro momento, poderá se transformar em enfraquecimento e envenenamento, em um mau encontro.

Pensar e afirmar os bons encontros é pensar e afirmar uma arte “de viver contrária a todas as formas de fascismo, quer sejam elas já instaladas ou próximas de ser (...)” (idem). Ou como continua afirmando Foucault:

“Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas (...)” (idem).

Que neste 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, e em muitos e muitos outros dias, possamos pensar-afirmar direitos humanos, enquanto direitos à vida, a diferentes e múltiplas existências, entendendo-os como históricos e produzidos por nossas práticas. Não como “coisas em si”, objeto natural que um dia deveremos alcançar, mas como um processo contínuo e inacabável, como movimento, como devir, que se inventa a todo momento na experimentação da vida.

Desafios poderosos que se colocam para todos nós, enquanto militantes da vida; por isto, é fundamental não esquecermos que nossas lutas, nossas resistências cotidianas são importantes! É importante, portanto, a perseguição a todas as formas de fascismo, desde aquelas, colossais, que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem a amena tirania de nossas vidas cotidianas”. (idem).

Pela Vida, Pela Paz
Tortura Nunca Mais!

 
Diretoria do GTNM/RJ Dezembro de 2009

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