EDITORIAL

21 Anos da Medalha Chico Mendes de Resistência e
45 anos do golpe Civil-militar

“Mostravam-se na Grécia antiga lugares pelos quais se podia descer aos infernos. Também nossa existência desperta é um país onde há vários pontos que descem aos infernos, um país cheio de lugares pouco visíveis, onde deságuam os sonhos (...)”.

Walter Benjamin

“Descer aos infernos” e “desaguar nossos sonhos”, expressões presentes neste pequeno texto do filósofo, podem nos apontar não as dicotomias/oposições, mas os combates entre forças vitalizantes e forças mortificantes.

Os 45 anos do golpe civil-militar, neste 1º de abril, nos remetem à descida aos infernos, ao terrorismo de Estado, então implantado, como expressão da “fúria solta da máquina do Estado contra aqueles que o desafiaram”. Atitudes desafiadoras que continuam, ainda hoje, habitando nossos sonhos libertários. Os 21 anos da Medalha Chico Mendes de Resistência – criada em 1989, como afirmação de outras memórias, histórias, embates e insurgências ocorridas naquele período e ainda hoje – afirma essas duas experiências: a descida aos infernos e a potência dos sonhos nas lutas libertárias de nosso cotidiano.

Continuamos, ainda hoje, descendo aos infernos, sendo atravessados, dos mais diversos modos, por violências de diferentes ordens. Violências que vão sendo produzidas para se tornarem cada vez mais necessárias e, portanto, naturais. Entretanto, nossos sonhos libertários continuam em nossas práticas, nas lutas pouco visíveis – como no texto do filósofo – mas potencializadas por novas forças e parcerias. Apesar da fúria do Estado, os movimentos insurgentes não param de acontecer, desafiando os “choques de ordem” dos autoritarismos de plantão. Por isso mesmo, são incessantemente rotulados e carimbados como perigosos, são criminalizados, justificando toda e qualquer violência contra eles, até mesmo o extermínio.

Se no contemporâneo, o poder é exercido cada vez mais sobre a Vida – o biopoder de que nos fala Michel Foucault – há, sem dúvida, o poder da Vida, sua expansão apesar de todos os controles – fechados e a céu aberto – cada vez mais sofisticados e capturantes. Entretanto, a “Vida Sempre Vaza” no ínfimo que segue incomodando e desafiando.

 

Pela Vida, Pela Paz
Tortura Nunca Mais!

 Rio de Janeiro, outono de 2009
Diretoria do GTNM/RJ