CULTURA

Anos de Chumbo

Tempo negro, temperatura sufocante:
Estado e Sociedade no Brasil do AI-5

Org: Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas. Editoras PUC-Rio e Contraponto

Mais que a análise do AI-5, este livro busca analisar os aspectos que envolviam a sociedade e o Estado naqueles anos de violência institucional. É um livro que, sem dúvida, nos ajuda na importante tarefa de pensar criticamente sobre um tempo de dor, asfixia e desesperança.

Ao longo dos seus capítulos, verificamos como a violência institucional do Estado autoritário que se instala no Brasil a partir de 1964 atuou sobre a cultura, a imprensa, as escolas, as universidades públicas, o governo e a administração, o mundo da economia e do trabalho, o campo e a cidade.
Contato: Luiz Carlos L. Corcino
Tel.: 21 3289 4647 / fax.: 21 3289 4646 / Cel.: 21 8722 3319

 


O REPÓRTER QUE VIU O CONDOR
Livro do gaúcho Luiz Cláudio Cunha reconstitui o seqüestro de
Lilian Celiberti e Universindo Díaz, em Porto Alegre, 30 anos atrás

Em uma sexta-feira cinzenta, 17 de novembro de 1978, o repórter Luiz Cláudio Cunha deparou com um dos episódios mais horrendos da ditadura militar do Brasil. Ao conferir um telefonema anônimo, descobriu o seqüestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, mantidos reféns num apartamento da Rua Botafogo, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre.
Agora, 30 anos depois, Luiz Cláudio traz novas revelações ao lançar o livro “Operação Condor – O Seqüestro dos Uruguaios: Uma Reportagem dos Tempos da Ditadura” (L&PM).

O livro já figura na galeria dos melhores sobre os Anos de Chumbo e a Operação Condor – a aliança entre as ditaduras do Cone Sul. Nas suas 472 páginas, Luiz Cláudio conjuga o rigor dos fatos históricos com um texto que prende o leitor pela fluidez e pelo suspense.

Leia a seguir partes da entrevista de Luiz Cláudio, concedida por e-mail ao jornal Zero Hora, na qual destacamos algumas frases importantes:

“Pedro Seelig integrava o trio de ouro da repressão brasileira, junto com o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops paulista, e o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o comandante do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do 2º Exército”.

“Em todos os momentos é preciso saber escolher o lado certo. Nosso dever, como jornalista, é contar. Nossa obrigação, como cidadão, é lembrar. Lembrar e contar é uma forma de iluminar responsabilidades e prevenir a formação de nuvens”.

“Outro caso é o de três pessoas da família Telles presas e torturadas pela equipe de Ustra, em 1972, e que agora conseguiram condená-lo em primeira instância. São ações declaratórias, que não envolvem indenizações mas pretendem definir o caráter de “torturador” do réu. Ustra se defende dizendo que apenas “cumpria ordens”. Ele repete meio século depois a mesma frase padrão dos altos mandos do 3º Reich que sentaram no banco de réus do Tribunal de Nuremberg, onde se julgaram os crimes nazistas contra a humanidade. Lá esta explicação não colou, os nazistas foram condenados. A memória é nosso último refúgio. A memória julga. A memória condena. A memória salva. Lembrar é o oposto de esquecer. O esquecimento nos torna cúmplices”.


“A Grande Partida – Anos de Chumbo”

Quatro décadas após a instalação de uma cruel ditadura no Brasil, Francisco Soriano narra, em A Grande Partida: Anos de Chumbo a sua saga e a de seus companheiros vivida na clandestinidade e na “ilegalidade”, prefaciado por Modesto da Silveira, advogado de perseguidos políticos.

O resgate histórico, escrito em tom revolucionário, mas também romântico, toca o leitor porque o convida a uma caminhada pela dignificação do ser humano, aguçando a convicção de que sempre vale a pena viver, sonhar e lutar pelo que é justo, sobretudo junto a bons companheiros, ainda que não haja vitórias aparentes.

Com 424 páginas, nos passa informações preciosas para uma análise mais apurada dos últimos cinqüenta anos do Brasil, com destaque para a década de 60. Descreve o endurecimento forçado de um revolucionário em sua trajetória para libertar uma sociedade submetida ao terrorismo do Estado policial. É também um chamamento à luta, ao evidenciar que quando se equacionou a contradição predominante da ditadura versus democracia, outras passam a explicitar-se: neoliberalismo versus economia solidária, soberania nacional versus dominação norte-americana etc.

Depois do livro, o autor toma para  si  uma segunda  missão:  reunir  vários  companheiros, sobreviventes  da  ditadura  de  1964, para juntos relembrarem a saga vivida na luta legal e clandestina, buscando a libertação da sociedade brasileira submetida ao terrorismo do Estado policial, retratada no vídeo homônimo, onde relatos, antes silenciados pelos traumas do regime, nos passam  informações  preciosas  dos  últimos  cinqüenta anos do Brasil. 

O vídeo foi lançado em  dia 4 de julho de 2008 e gerou material para a produção de um longa, que juntamente com uma segunda edição do livro e a organização de palestras e debates, por todo o país, faz parte do Projeto A Grande Partida: Anos de Chumbo, em fase de aprovação pela Lei Rouanet.

No dia 11 de dezembro, o GTNM/RJ e o Centro Cultural Antônio Carlos de Carvalho (CECAC), lembrando os 60 anos  da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promovem a exibição do vídeo às 18:30h, no Anexo da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. 

Contatos com o autor do livro e do documentário pelo e-mail:
franciscosoriano@agrandepartidaanosdechumbo


A Ditadura dos Generais

A Associação Brasileira de Imprensa, por seu presidente, jornalista Maurício Azedo chamou a atenção sobre o livro “A Ditadura dos generais”, do escritor paraibano Agassiz Almeida.

O livro faz uma profunda análise da ditadura militar de 1964, mergulhando fundo nos porões das ditaduras latinoamericanas, e revolvendo as raízes do militarismo que assolou o continente sul-americano em grande parte do século passado.

Agassiz Almeida diz que não tem qualquer “sensação de ‘vendetta’, retaliação ou coisa parecida, (...) quando recordo os episódios vividos por minha geração nos tais ‘anos de chumbo’ que caíram sobre a América Latina”.

O autor nos faz pensar novamente sobre a identidade de nossos povos, agora à luz da globalização.

Faz-se importante a leitura de “A Ditadura dos generais” pelos jovens de hoje “Para que não percamos prumo e rumo”, como diz o autor.


Assim Foi (se me parece)

Joel Rufino dos Santos, doutor em comunicação pela UFRJ, lançou em 2008 um excelente livro “Assim foi (se me parece)”. É uma mistura de memórias pessoais e relatos de acontecimentos que marcaram a ferro e fogo a história do Brasil, não fosse ele inicialmente formado em História pela antiga FNFI da Universidade do Brasil.

Fala de fatos de sua infância e adolescência de menino negro, pobre, suburbano. Aos 15 anos já lia Jorge Amado, Victor Hugo e muitos autores brasileiros e estrangeiros. Podemos afirmar que essas leituras foram fundamentais para sua formação e luta política.

Sempre esteve contra toda e qualquer discriminação, injustiças e violências contra as camadas mais pobres da população, que marcam até hoje os nossos noticiários. Fala com muita dor e coragem de seu sofrimento na prisão. Diz ele que “a tortura é inenarrável e que (...) a sobrevivência é um pecado (...). Sob tortura se fala muito, pouco ou mais ou menos (...). Tudo isso volta até hoje em sonhos por anos a fio. Quanta dor!”

Sua formação marxista e isebiana deu-se sob a coordenação de Nelson Werneck Sodré, formador de muitos historiadores da época.


VÍDEOS POPULARES
Enxergando na linguagem audiovisual um meio dinâmico e de grande alcance e compreendendo a necessidade de um debate pedagógico sobre temas alicerces da nossa sociedade, o Mandato Estadual Marcelo Freixo tem produzido anualmente filmes documentários a serem apresentados como instigadores de discussões.

O primeiro deles, “Elas da Favela”, retrata, sob o ponto de vista feminino, o que significa uma ocupação policial no dia-a-dia da favela. O segundo, “Brasil 8.069” – realizado no ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente completou 18 anos em 2008 – acompanha a rotina de jovens na Escola João Luiz Alves, unidade de internação do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (DEGASE), apontando para inúmeros desrespeitos ao ECA.

Ambos lançam um olhar crítico sobre a histórica criminalização da pobreza em nosso país ao darem passagem a segmentos da sociedade que, embora os mais atingido por políticas públicas irresponsáveis, raramente são ouvidos.