JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS / RJ - ANO 22 - N° 66 - DEZEMBRO 2008 |
MEMÓRIA Em nosso primeiro jornal virtual estamos homenageando os companheiros: Fernando Santa Cruz cuja irmã, Márcia Santa Cruz, faleceu no último dia 09 de outubro; Eduardo Collier que desapareceu na mesma data que Fernando e Idalísio Soares Aranha Filho que a FAFICH/UFMG, em um gesto lamentável, retirou seu nome do Diretório Acadêmico. FERNADO AUGUSTO SANTA CRUZ Nasceu a 20 de fevereiro de 1948, em Recife, Pernambuco, filho de Lincoln de Santa Cruz Oliveira e Elzita Santos de Santa Cruz Oliveira. Desaparecido desde 1974, quando contava 26 anos de idade. Era casado com Ana Lúcia e teve um filho: Felipe. Foi preso junto com Eduardo Collier Filho, em 23 de fevereiro de 1974, em Copacabana, no Rio de Janeiro, por agentes do DOI/CODI-RJ. Logo em seguida, seu apartamento foi invadido pelos órgãos da repressão. Em 14 de março de 1974, buscando saber do paradeiro de Fernando e Eduardo, as duas famílias foram ao DOI-CODI/SP, cujo carcereiro de plantão, conhecido como “Marechal”, confirmou que os dois jovens estavam presos ali, só podendo receber visitas no domingo, dia 17. Foram deixados, então, para eles, objetos de uso pessoal. Posteriormente, esses objetos foram devolvidos, com a justificativa de que se tratava de um engano, pois os dois não estavam presos ali. A família e os advogados de Fernando apelaram a várias autoridades nacionais e internacionais e nada conseguiram. No Arquivo do DOPS/SP, a ficha de Fernando consta: “Nascido em 1948, casado, funcionário público, estudante de Direito, preso no RJ em 23/03/74”. No Relatório do Ministério da Marinha, consta que “foi preso no RJ em 23/02/74, sendo dado como desaparecido a partir de então.” EDUARDO COLLIER FILHO Desaparecido desde 1974 quando contava 26 anos de idade. Natural de Recife, Pernambuco, nasceu a 5 de dezembro de 1948, filho de Eduardo Collier e Rizoleta Meira. Era estudante da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, cassado pelo Decreto-lei 477. Foi indiciado em inquérito policial pelo DOPS, em 12/10/68, por ter participado do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna Preso no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1974, juntamente com Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, por agentes do DOI-CODI/RJ. Desde, então, está desaparecido. No Arquivo do DOPS/PR, pesquisado em 1991 pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, o nome de Eduardo aparece em uma gaveta identificada como: “falecidos”. O Relatório do Ministério do Exército diz que, “conforme reportagem veiculada no Jornal de Brasília, em sua edição do dia 31 de outubro de 1975, o nominado teria sido preso em 23 de janeiro de 1974, no estado do Rio Grande do Sul, após permanecer por um longo período foragido da Justiça Militar. Em setembro de 1972 foi condenado a 2 anos de prisão pela Auditoria do Conselho de Justiça da Aeronaútica.” Já o Relatório do Ministério da Marinha diz que “desapareceu quando visitava parentes na Guanabara. Na época respondia processo por atividades políticas na 2ª Auditoria Militar de São Paulo.” IDALÍSIO SOARES ARANHA FILHO Nasceu em Rubim, Minas Gerais, no dia 27 de Agosto de 1947, filho de Idalísio Soares Aranha e de Aminthas Rodrigues Pereira. Desaparecido desde 1972 na Guerrilha do Araguaia quando tinha 25 anos. Afetivo, carinhoso, observador e de pouca conversa – assim era o Idalísio cantador, seresteiro e tocador de violão. Era o penúltimo de nove irmãos. Fez o curso primário em Rubim e o ginasial em Teófilo Otoni/MG, no Colégio São José. Em 1962, foi para Belo Horizonte, onde estudou até o 2° ano no Colégio Estadual e o 3° ano no ex-Colégio Universitário da UFMG. Em 1968 participou da “luta dos excedentes” por mais vagas nas universidades públicas federais. Neste mesmo ano, iniciou o Curso de Psicologia na UFMG. Em 1970 casou-se com Walkíria Afonso Costa, também desaparecida na guerrilha do Araguaia. Em janeiro de 1971, Idalísio e Walkíria decidiram mudar para o Araguaia, região da Gameleira. Como violeiro e cantador, conquistou rapidamente a simpatia daqueles com quem ele convivia. Pouco tempo viveu no Araguaia. Em julho de 1972, seu grupo entrou em combate com uma patrulha do Exército, perto da Grota Vermelha, em decorrência do qual Idalísio perdeu-se do grupo. Em 12 de julho de 1972, em Perdidos, a 9 léguas a Oeste de Caianos, foi emboscado e morto, segundo documento dos Fuzileiros Navais entregue à Comissão de Representação Externa da Câmara Federal, em 1992. O Relatório do Ministério da Marinha diz que Idalísio foi morto em uma localidade de nome Peri, “por ter resistido ferozmente”. Na mesma época em que Idalísio foi morto no Araguaia, a casa de seus pais em Belo Horizonte foi invadida por policiais que acusavam ele e Walquíria de pertencerem ao PC do B. Em julho de 1973, depois de morto foi condenado à revelia, à pena de prisão pela Justiça Militar. Foi eleito presidente do Centro de Estudos de Psicologia de Minas Gerais e do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas em 1971. Em uma homenagem póstuma, foi dado o nome de Idalísio Aranha ao Diretório Acadêmico da Faculdade, posteriormente trocado pelo do Prof. Arthur Versiane Velloso, falecido em 1986. (dados encontrados no site: www.fafich.ufmg.br/fil/dep histórico.htm). O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ lamenta a falta de respeito da universidade por ter trocado o nome de Idalísio pelo de um professor, apesar da importância da trajetória deste, que foi um dos fundadores do curso de Filosofia da UFMG. Fica aí um fato a pensar sobre o direito que temos à memória e a verdade do período da ditadura militar.
SUELY ALMEIDA
MÁRCIA SANTA CRUZ
As necessárias memórias póstumas de Fausto Wolff Quando Fausto nos deixou, os grandes órgãos de imprensa noticiaram sua morte apenas de passagem, lacônicos e frios. Foi como se as corporações de mídia admitissem: Fausto Wolff incomodava. Ele construiu uma história incomum no jornalismo. Combativo, veemente e, sobretudo, parcial. “Fausto foi quase um oásis no jornalismo de nosso dias, pois nunca compactou com a mesmice, o senso comum e o pensamento único, deformadores da profissão”, disse o jornalista Mário Augusto Jakobskind. E Wolff dizia:
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