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Medalha Chico Mendes |

 
- 2 de agosto de 2013

Helena Besserman Vianna

Diz Mefistófeles, o personagem do Fausto, de Goethe: “O Mal é o meu próprio elemento” . E ao designar o seu inimigo, o Demônio não menciona o Santo ou o Bom, mas Eros, a força da vida e do amor: “Do ar, da água e da terra surgem milhares de sementes; se não me tivesse reservado o fogo, nada me pertenceria” . Esse é o caso dos agentes da repressão, dos torturadores e dos assassinos engendrados pela ditadura: se não tivessem nas mãos sangrentas os instrumentos da morte e se não contassem com o execrável apoio dos cúmplices, eles não prestariam para nada.

Nesses abismos da alma, no combate pela vida e a saúde, caminha, vitoriosa, a médica e psicanalista Helena Besserman Vianna. Filha de imigrantes judeus-poloneses, Helena participou de movimentos contra o nazi-fascismo e de lutas por justiça social; ainda colegial, aluna do Pedro II, tomou parte ativa nas campanhas pelo petróleo brasileiro. Aos 16 anos, ingressou na Juventude Comunista e , mais tarde, nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro, no qual permaneceu até a Primavera de Praga, sem ter abandonado a sua formação marxista. Em 1973, Helena tomou conhecimento da participação do médico Amilcar Lobo, candidato a psicanalista pela SPRJ -Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro – Rio I, em equipes de tortura a presos políticos no Quartel da Rua Barão de Mesquita. Helena enviou a notícia, acompanhada de nota manuscrita, nomeando também o analista-didata de Lobo, Leão Cabernite, então presidente da Sociedade, a várias entidades psicanalíticas do exterior, especialmente à direção da Associação Psicanalítica Internacional – IPA. Em lugar de buscar esclarecimentos sobre a ação de Lobo como torturador, a direção da Sociedade buscou perito no IML para identificar, através de fichas de inscrição em Congressos de Psicanálise, quem havia denunciado o médico. Embora o parecer do IML não concluísse que Helena seria a autora da denúncia, o presidente da SPRJ solicitou medidas de punição para a denunciante, enquanto o presidente da IPA, conivente com Cabernite, admitiu publicamente que Lobo tinha sido caluniado. Em 1994, Helena Vianna publica o livro “Não Conte a Ninguém … ” com farta documentação sobre o caso Amilcar Lobo e a participação de seu analista-didata e de algumas diretorias da IPA. Relata também a história da fundação da primeira sociedade psicanalítica do Rio de Janeiro, cujo fundador, analista de Cabernite, fora durante a Segunda Guerra, diretor da clínica do Instituto Goering de Berlim, comprometido com o regime nazista. Publicado na França, o livro relata acontecimentos posteriores, com a formação do grupo Pró-Ética , dentro da SPRJ, que até hoje combate os diversos comunicados da IPA e da Rio I, repetidamente anódinos e reticentes quanto à história dessas sociedades de psicanálise.

A coragem e a responsabilidade de Helena Vianna destruiu a farsa da suposta neutralidade das instituições na ditadura e do pomposo saber dos barões da Psicanálise. Hoje, Helena é convidada para fazer palestras no Brasil e no exterior, e escrever sobre o tema da ética psicanalítica e da política institucional de sociedades dessa área da saúde.

Quem sabe podemos saudá-la do jeito carinhoso e definitivo do nosso Hélio Pellegrino, dizendo:

– Continue firme, Helena, o que você faz está correto !

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