Era uma vez um homem, um militar completo, um herói que vivia na selva, comandando o PARASAR, abrindo fronteiras e salvando vidas. A selva era a sua casa, com tamanha desenvoltura que lhe valeu o apelido carinhoso de macaco entre seus companheiros. Os índios o chamavam de Nhambiguá Caraíba, homem branco bom. Seu nome era Sérgio e era capitão, quando o mal lhe cruzou o caminho.
A Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, guerreiro sem medo, pediram que matasse inocentes, que derramasse sangue. Um brigadeiro assassino ordenou-lhe que explodisse um gasômetro, trucidasse estudantes, atentados terroristas que desencadeariam um verdadeiro massacre em resposta a um suposto golpe atribuído a comunistas.
A proposta desse assassino fardado não era nova nem original. Já funcionara na Alemanha, sob o nazismo, quando atrocidades inomináveis foram cometidas e justificadas por militares e civis sob a alegação de estar apenas cumprindo ordens.
Sergio era de outra estirpe. Com a coragem, determinação e desassombro de quem tem alma e caráter disse não ao criminoso e evitou o que poderia ter sido a maior tragédia humana de nossa História. A ira dos criminosos no poder caiu sobre ele como um raio. Tiraram-lhe quase tudo. Não adiantou figuras históricas como o Brigadeiro Eduardo Gomes, lutarem por ele e tomarem a sua defesa. O arbítrio e o crime mandavam naquele triste Brasil dos anos de chumbo.
Sérgio perdeu a farda, o trabalho e a alegria.
Só não puderam quebrar sua integridade e honra, sua firmeza de homem e soldado, um soldado que dizia preferir a pior das democracias à melhor das ditaduras.
Sérgio jamais pleiteou anistia por considerar que anistia é esquecimento, perdão, e julgava com absoluta razão que seu gesto de resistência, sua desobediência a uma ordem criminosa eram exemplos a serem seguidos.
Exemplos de predomínio do bem e da consciência sobre o crime e a cegueira. Se ao longo da história, tivéssemos tido mais Sérgios quantos crimes não teriam sido evitados?
Só os grandes homens tem coragem de resistir como ele resistiu.
Sergio lutou incansavelmente e até o final de sua vida pela justiça que lhe era divida. Foi derrotado pela doença e morreu sem poder ver a sua vitória, devido à pequenez de um presidente da república: Itamar Franco, que mesmo sabendo que o capitão estava ferido de morte, acometido de um câncer terminal e tendo o decreto promovendo-o a brigadeiro sobre a sua mesa, esperou a morte do herói para assiná-lo. Tal é a pequenez de alguns homens deste grande país.
É este grande homem, Sérgio, este brasileiro ímpar, este companheiro de todos nós que estamos homenageando aqui hoje. Homens como o brigadeiro Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho, o imortal Sérgio Macaco, estarão para sempre vivos nos corações e mentes da nação brasileira. Saudemos o glorioso capitão da vida. Capitão Sérgio Presente!
Fritz Utzeri
MOVIMENTO DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS/Brasil INFORMA:
SÉRGIO MACACO: O HOMEM QUE FEZ A DIFERENÇA
Dia 12 de junho de 1968, o capitão aviador Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, servindo no PARASAR, foi convocado a uma reunião, foi recebido no gabinete do ministro da Aeronáutica pelos brigadeiros Hipólito da Costa e João Paulo Burnier, que viria a se tornar conhecido como torturador e assassino.
Sérgio era admirado por indianistas como os irmãos Vilas-Boas e o médico Noel Nutels. Foi amigo de caciques como Raoni, Kremure, Megaron, Krumari e Kretire. Os índios o chamavam “Nambiguá caraíba” (homem branco amigo). Aos 37 anos, Sérgio Macaco (como era conhecido na Aeronáutica) já tinha seis mil horas de vôo e 900 saltos em missões humanitárias, de resgate e socorro em geral. Todavia, o tipo de tarefa que lhe seria proposta ali pelos oficiais não era nem um pouco digna ou solidária.
– O senhor tem quatro medalhas por bravura, não tem? – indagou Burnier.
Sérgio respondeu afirmativamente. Então o brigadeiro continuou:
– Pois a quinta, quem vai colocar no seu peito sou eu. – Fez uma pausa.
– Capitão, se o gasômetro da avenida Brasil explodir às seis horas da tarde, qu