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Medalha Chico Mendes | homenageados 2008

Com a Medalha Chico Mendes de Resistência, o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro – GTNM/RJ homenageia pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou internacionais, por suas lutas na defesa dos direitos à vida e à liberdade e por uma sociedade plural, fraterna e sem torturas, reafirmando sua dignidade e sua memória. Essa homenagem, prevista em seu estatuto desde a sua fundação, em 1985, vem sendo cumprida desde 1989, anualmente, no dia 1º de abril ou em data próxima.

Maria Dolores Perez – a Lola recebendo a Medalha Chico Mendes de Resistência em 2007

 

> Homenageados 2008

“(...)Eu realmente gosto dos ‘Tiras’ / Fico tão contente que eles estejam por perto / Para me acossar e me multar / Por sentar no chão./ Eu realmente amos os ‘Tiras’ / ficaria tão triste se eles fossem embora / Existe algo em um uniforme que sempre me excita (...)” (I really like the cops. Composta em 2001 durante manifestação, em Seattle/EUA contra a reunião da OMC–Organização Mundial do Comércio).

O Centro de Mídia Independente é uma rede, internacionalmente conhecida, de produtores e produtoras independentes de mídia. Busca oferecer ao público informação alternativa e crítica de qualidade, que contribuam para a construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente.

O Centro de Mídia Independente se constitui em uma alternativa consistente à mídia empresarial que, freqüentemente, produz os fatos, apresentando interpretações de acordo com os interesses das elites econômicas, sociais e culturais. A ênfase da cobertura é sobre os movimentos sociais, particularmente, sobre os movimentos de ação direta (os "novos movimentos") e sobre as políticas às quais se opõem.

Bradley Roland Will (1970-2006) foi jornalista e importante colaborador do Centro de Mídia Independente. Ligado também a movimentos sociais brasileiros, foi assassinado a tiros, em 27 de outubro de 2006, durante uma rebelião popular em Oaxaca, México.

Brad estava cobrindo o processo de resistência e repressão à Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca, uma coalizão de grupos e movimentos sociais formada após a greve dos professores naquela histórica cidade mexicana. A Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca pediu a renúncia do governador do estado Ulises Ruiz Ortiz, acusado de corrupção, fraude eleitoral, massacre de civis, defendendo a substituição do governo do estado por assembléias populares.

‘Quando os paramilitares dão um tiro de fuzil no peito de Brad, a câmera cai, mas continua gravando. Essa câmera passa de mão em mão, contando a história de Brad e um pouco desse “movimento de movimentos”, de cunho anticapitalista, conhecido como movimento de ação global. Das ocupações urbanas em Nova York a um piquete ecologista no Oregon, à batalha de Seattle, Praga, Quebec, Gênova, Quito, Oaxaca..." nos conta Miguel Bastos, seu amigo e diretor do filme-documentário ‘Brad Will – uma noite mais nas barricadas’, recentemente lançado à venda em DVD.

Por trás da câmera estão os amigos de Brad que, como ele, se dedicam a mostrar o que não aparece na TV.. Brad esteve ainda envolvido em dezenas de lutas locais de Nova Iorque e presente nas mais importantes lutas da América Latina, com a câmera na mão, divulgando a voz dos que não têm espaço nos grandes meios de comunicação atrelados ao poder.

Até sempre, companheiro !!! Brad Will... PRESENTE !!!

“(...) Com a roupa encharcada / A alma repleta de chão / Todo artista tem de ir aonde o povo está/ Se foi assim, assim será / Cantando me desfaço e não me canso de viver / Nem de cantar (...)”. (Nos Bailes da Vida. Milton Nascimento e Fernando Brant)

Vanderley da Cunha nasceu no interior do Estado do Rio, em 1954. Veio para a capital com 6 anos de idade, indo morar com sua avó em uma pequena favela chamada Vila Norma, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A partir de 1966, então com 12 anos, era responsável pelo serviço de auto-falantes da Favela. Pouco tempo depois, passou a ser conhecido como Deley de Acari.

Desde 1974 já fazia teatro independente, participando de grupos nas Zonas Oeste e Norte. Grupos como o Garra Suburbana, que usava a linguagem teatral para combater a ditadura militar. Em 1977, uma peça de teatro que dirigia foi proibida pela censura. Depois de responder a uma “inquisição” na Censura da Praça Mauá, foi levado para o quartel da Barão de Mesquita, o famigerado DOI-CODI, onde ficou preso e foi torturado durante dois dias. Foi solto graças à sua mãe, que era empregada doméstica de um capitão do Exército. Desde 1975 milita no Movimento Negro do Rio de Janeiro.

Em 1978, ingressou na Ala de Compositores Antonio Candeia Filho do GRANES QUILOMBO. Foi diretor da Ala de Compositores e criou dois temas de enredo para esta Escola de Samba. Em 1982, foi um dos fundadores do grupo Negrícia, Poesia e Arte de Crioulo, primeiro grupo de escritores e cartunistas negros do Rio de Janeiro. Este grupo organizou, em 1985 e 1987, respectivamente, o 1º e o 3º Encontros Nacionais de Poetas e Ficcionistas Negros. O terceiro encontro reuniu 57 poetas e escritores negros de dezesseis estados do Brasil.

Desde 1979 está na militância comunitária. Neste ano assumiu a vice-presidência da Associação de Moradores do Parque Acari, uma das associações mais ativas da FAFERJ. Nos anos de 1981 e 1982 uniu a militância favelada com a luta contra a violência e pelos direitos humanos, período em que participou da Associação de Ex-Alunos da Funabem e da coordenação e organização dos 1º e 2º Encontros de Mulheres de Favela e Periferia e dos 1º e 2º Encontros de Jovens de Favela e Periferia.

Em 1985, foi Animador Cultural do Programa Especial de Educação do Governo do Estado do Rio, programa este que geria os Cieps-Centros Integrados de Educação Pública. Desligou-se do Estado em 1994, mas continua, até hoje, animador cultural militante no Ciep Adão Pereira Nunes. Em 2007 foi um dos fundadores e coordenadores do Pré-Vestibular Comunitário de Acari, que continua funcionando até hoje.

Desde 1993, quando se intensificou a violência nas favelas, tornou-se um dos principais militantes da luta contra a violência do Estado e contra a violação de direitos humanos.

Desde 2004, faz parte da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência e continua militando em Acari na área de direitos humanos, com literatura, cultura hip hop e esportes, voltados para luta contra a desigualdade de gênero e de raça.

“(...) Se me der um beijo eu gosto / Se me der um tapa eu brigo / Se me der um grito não calo / Se mandar calar mais eu falo (...)” (Recado. Gonzaguinha).

A Comissão de Direitos Humanos e Acesso à Justiça da OAB/RJ, do período de janeiro a julho de 2007, cujo presidente era o advogado João Tancredo, desempenhou um papel importante na luta pelos direitos humanos em nosso Estado.

Iniciou a sua trajetória com o Encontro OAB de Portas Abertas, com a participação de movimentos sociais, organizações e da população em geral. Em conjunto, aprovaram um plano de metas e propostas de ação e também um manifesto, do qual se destaca: “Rejeitamos as soluções que estabelecem exceções ao tratamento geral de respeito e dignidade que deve ser dispensado aos seres humanos, sejam eles vítimas de crimes violentos, ou seus autores. Rejeitamos o extermínio da população marginalizada, seja por grupos privados, seja pela atuação policial orientada pela letalidade. Rejeitamos discursos moralistas que clamam penas severas, violação de garantias constitucionais, linchamentos, torturas e humilhação dos criminosos, em nome da aplicação da justiça e da lei.”

A Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ passou a acompanhar a situação das penitenciárias no Rio de Janeiro, especialmente o presídio Evaristo de Moraes, cujos relatos dos presos eram de maus-tratos, torturas, sujeição a situações desumanas, fatos terríveis que não podem ser tolerados.

Assim, a Comissão participou de inúmeros atos, cumprindo um papel de interlocução dos movimentos populares com o Estado. Entre estes, destaca-se a visita ao Complexo do Alemão, no dia 28/06/07, dia seguinte à ação policial que resultou na morte de 19 pessoas. Lá, a Comissão ouviu relatos de moradores sobre abusos policiais e de que não houve confronto, pois muitos dos mortos não eram envolvidos com o tráfico de drogas. Decidiu-se então apurar os fatos e levar tais denúncias aos órgãos competentes.

Dias depois, o presidente desta Comissão, advogado João Tancredo, foi destituído do cargo pela presidência da OAB. Este fato gerou um ato político importante na história da luta em defesa dos direitos humanos no Rio de Janeiro: a demissão voluntária de 41 membros desta efêmera e combativa Comissão de Direitos Humanos da OAB, no período de janeiro e julho de 2007.

Nossa homenagem aos companheiros:

Aderson Carvalho Bussinger, Adriano de Lima, Alessandra Page, Ana Carolina Quintão Utzeri, Ana Mary da Costa Lino Carneiro, Ana Maria Muller, André Luiz Conrado Mendes, Andréa Prattes, Antônio Cláudio Cunha, Carlos Alberto Feliciano, César Augusto Dória dos Reis, Clarisse Toscano de Araújo Gurgel, Cristina Leite Cardoso, Ednéia de Oliveira Matos Tancredo, Felipe Brito, Fernanda Maria da Costa Vieira, Fernando Barjora Moura, Ignacio Cano, Jadir Anunciação de Brito, João Luiz Duboc Pinaud, João Tancredo, Joyce Enzler, Jussara Freire, Leonardo do Egito Coelho, Luciana Silva Garcia, Marcelo Braga Edmundo, Márcia Adriana Oliveira Fernandes, Marcos Antonio Silva, Maria Meira Canedo, Millena Fontoura, Moisés Muniz de Araújo, Pedro Strozemberg, Ricardo Soares, Roberta Duboc Pedrinha, Scheila Guimarães Frederico de Souza, Taiguara Líbano Soares e Souza, Thais Duarte, Thiago de Souza Melo, Thiago Bottino do Amaral, Vany Leston Pessione, Wilson Dufles de Almeida.

“(...) Hermano dame tu mano vamos juntos a buscar / una cosa pequeñita que se llama libertad / esta es la hora primera este es el justo lugar / abre la puerta que afuera la tierra no aguanta más (...)”. (Hermano dame tu mano. Damián Sanchez e Jorge Sosa)

Militante peronista, em outubro de 1977 Graciela Daleo foi seqüestrada por repressores da Escola de Mecânica da Armada, ESMA, o maior campo de concentração da Argentina, onde esteve até 1979. É uma dentre os cerca de 150 sobreviventes da ESMA, onde se registra a passagem de cerca de 5000 pessoas, a maioria desaparecida. Exilou-se na Venezuela e na Espanha, onde se integrou a agrupações políticas de solidariedade com povos latino americanos. Retornou à Argentina em maio de 1984 e, desde então, participa ativamente da luta contra a impunidade, identificando os responsáveis pelas atrocidades – como é o caso de Cavallo -, sendo testemunha em processos judiciais nacionais e internacionais que responsabilizam torturadores e genocidas, como no caso de Adolfo Scilingo na Espanha, e no recente julgamento na Argentina de Héctor Febres, seqüestrador, torturador e expropriador de bebês que nasceram em cativeiro.

Como represália a estas denúncias Graciela, várias vezes processada, foi presa em 1988 por três meses. Em 1989 lhe foi imposto um indulto com que o então presidente Menem pretendia não só tornar impunes os ditadores, mas igualar os opositores ao regime militar com os genocidas. Por razões éticas, morais e políticas rechaçou o indulto, o que fez com que se reabrissem as perseguições judiciais. Por este motivo exilou-se no Uruguai e, voltando à Argentina em 1995, incorporou-se à Associação de Ex-Detenidos Desaparecidos, organismo ao qual pertenceu até 2006.

Contestando as leis da Obediência Devida e a do Ponto Final - leis de anistia aos repressores que por força da pressão social foram anuladas - Graciela enfrentou os tribunais afirmando que na Argentina não havia repressores de primeira, segunda e terceira categorias e sim a co-responsabilidade entre os membros das Forças Armadas, das polícias, dos empresários, da cúpula da Igreja, de setores do sindicalismo e de setores políticos. Como sobrevivente, Graciela tem afirmado que os repressores mantiveram alguns poucos opositores vivos, não por um ato de bondade mas para semear o terror e multiplicá-lo através do silêncio ou da fala de alguns poucos. Ao permitirem que poucos vivessem, tinham como propósito disseminar os horrores praticados nos 500 campos de concentração no país, onde ocorreram as práticas mais perversas de tortura, morte e desaparecimento. Mas esta perversa intenção tem sido subvertida: os sobreviventes, a partir de uma postura militante, têm possibilitado a divulgação do que aconteceu na época, a identificação e o julgamento de muitos deles.

Graciela é socióloga e atualemente coordenadora da Cátedra Livre de Direitos Humanos na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires.

“(...) Mas é preciso ter força, é preciso ter raça / É preciso ter gana sempre / Quem traz no corpo a marca / Maria, Maria, mistura a dor e a alegria / Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça / É preciso ter sonho sempre / Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha mania de ter fé na vida (...)”. (Maria, Maria. Milton Nascimento e Fernando Brant).

Heloneida Studart desfilou por nossas vidas feito escola de samba, em um vitorioso enredo dedicado à ética, à coragem, à solidariedade e à firmeza das suas posições. Dedicou-se de corpo e alma à defesa das causas mais generosas e à defesa incondicional dos trabalhadores, das mulheres e dos excluídos.

Jornalista, escritora, ensaísta, teatróloga, líder feminista e deputada estadual por seis mandatos, sempre honrando o voto popular através de sua atuação incansável e de um longo acervo de leis da maior importância. Premiada como uma das mulheres que mais lutaram pela justiça social no Brasil, Heloneida foi uma das indicadas em 2005 ao Prêmio Nobel da Paz. Integra, ainda, o dicionário Mulheres do Brasil, de autoria de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, que selecionou em seus verbetes as cem mulheres mais importantes em nossos 500 anos de história.

Heloneida deu expressiva contribuição à literatura brasileira através de seus vários livros de romances, ensaios e peças de teatro. Em 1973, ao lado de outras lideranças, fundou o Centro da Mulher Brasileira, entidade pioneira na luta feminista em nosso país. Eleita deputada estadual em 1978 para o seu primeiro mandato, dedicou-se à resistência democrática, enfrentando com altivez e destemor as forças do arbítrio.

Reeleita deputada estadual em 1986, atuou como Relatora da Sub-Comissão de Direitos e Garantias Fundamentais da Assembléia Constituinte Estadual. Ingressou no Partido dos Trabalhadores em janeiro de 1990, sendo reeleita deputada estadual por mais quatro mandatos por esta legenda.

Derrotada nas eleições de 2006, dedicava-se à literatura e à organização de um projeto cultural.

Heloneida Studart faleceu no dia 3 de dezembro de 2007, às 8h30m, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, no Rio de Janeiro, onde se recuperava de uma cirurgia no coração. Sua perda deixa uma enorme saudade do seu jeito afetuoso ou de suas análises de conjuntura ricas em citações literárias de Bertolt Brecht e Émile Zola. Deixa-nos também um riquíssimo exemplo de conduta ética e de militância a ser seguido por todos nós.

Até sempre, companheira !!! Heloneida Studart... PRESENTE !!!

“(...) Sonhar / Mais um sonho impossível / Lutar / Quando é fácil ceder / Vencer o inimigo invencível / Negar quando a regra é vender / Sofrer a tortura implacável / Romper a incabível prisão (...)”. (Sonho Impossível. J. Darion, M. Leigh. Versão Chico Buarque e Ruy Guerra/1972).

No dia 31 de janeiro de 1931, na cidade de Niterói, nasceu João Luiz Duboc Pinaud. Embora filho da elite niteroiense, se algum dia for escrita a história dos direitos humanos no Brasil, certamente um capítulo estará dedicado a Pinaud, que conseguiu aliar sua formação intelectual e o exercício da magistratura à militância política de esquerda.

Sabemos que as elites brasileiras, ao longo de sua história, têm sido extremamente cruéis com aqueles que abraçaram as causas populares. Com Pinaud não foi diferente. Inimigo declarado do Golpe de 1964, foi cassado da cadeira de direito “prostitucional” – como costumava ensinar aos seus estudantes em auditórios lotados – que ocupava na Universidade Federal Fluminense. Foi impedido de lecionar até a Anistia, em 1979. Em 1968, foi também cassado do cargo de juiz de direito do Estado do Rio de Janeiro, que exercia desde 1962, pois segundo o Governador da época, Geremias Fontes, “Se ele era subversivo para dar aulas, que dirá então para exercer a magistratura”. Ao longo do governo de exceção procurou, enquanto advogado, defender os militantes da esquerda armada que foram submetidos a alguma forma de julgamento. A situação agravou-se, tendo sido obrigado a esconder-se.

Com a chamada democratização, participou ativamente dos debates da Constituinte de 1989, então como Membro da Comissão Mista da OAB-Congresso Nacional Constituinte. Ao lado de Barbosa Lima Sobrinho, Fabio Konder Comparato, Lamartine Correia de Oliveira e Evandro Lins e Silva, lutou pela implementação radical da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Em 1998, ocupou a Presidência do Instituto dos Advogados do Brasil. Como Secretário Estadual de Justiça 2000/2002, lutou incessantemente contra as práticas de tortura no sistema penitenciário. Vale destacar ainda sua presença à frente da Secretaria de Estado de Direitos Humanos-RJ quando, voltando-se contra a governo Rosinha Garotinho, denunciou a tortura como política de governo no “Caso Chang”; e sua passagem pela Presidência da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial de Direitos Humanos, da qual se demitiu por entender que o governo Lula não estava comprometido com a abertura dos arquivos da ditadura nem com a busca pelos mortos e desaparecidos.

No ano de 2005 foi representante de Direitos Humanos da América do Sul para participar da Missão de Solidariedade ao Povo do Haiti, organizada pelas entidades que integram o Jubileu Sul. Dessa viagem resultou uma forte crítica à chamada missão brasileira de paz que, em realidade, colaborava com o genocídio do povo haitiano.

É atualmente membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos-OAB-Federal.

Desde a Anistia não abandonou mais a atividade docente, acreditando que a formação do pensamento crítico é uma das ferramentas indispensáveis para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.

Possui três filhos, oito netos e dois bisnetos. Desde 1990 vive com sua companheira Kátia da Matta Pinheiro.

Seus amigos dizem que não há quem não se sinta aninhado e protegido pelo seu afável e generoso abraço.

“(...) Bem unidos façamos / Nesta luta final / Uma terra sem amos / A Internacional / Senhores, patrões, chefes supremos / Nada esperamos de nenhum / Sejamos nós que conquistemos / A terra mãe livre e comum (...) (Hino Internacional Comunista. Eugène Pottier (1871) e Pierre Degeyter (1888).

Pernambucano de Palmares, filho de pai carpinteiro e de mãe costureira, nasceu em 16 de agosto de 1919. Começou a se interessar por política ainda na adolescência. Era casado com Ecila Francisca Massena Melo, com quem teve três filhos.

Iniciou sua militância política entre os anos de 1932 e 1933, no Rio de Janeiro, quando trabalhava na Fábrica de Tecidos Nova América. Durante o Estado Novo esteve preso em Fernando de Noronha onde conviveu com Agildo Barata e Carlos Marighella. Sua liderança no meio operário possibilitou sua eleição para vereador pelo Partido Comunista em 1947, quando a capital da República era no Rio de Janeiro.

Seu mandato foi extinto em 1948 com o fechamento do Partido Comunista. Por esse motivo, Massena voltou a morar em Pernambuco. Anos depois, de volta ao Rio, trabalhou como soldador e integrou o Sindicato dos Metalúrgicos. Foi eleito deputado estadual do antigo estado da Guanabara pela legenda do Partido Social Trabalhista (PST). Teve novamente seu mandato interrompido pelo Ato Institucional número I, de 09 de abril de 1964.

Em 1970 foi preso e barbaramente torturado, enviado para a Ilha das Flores, depois para a Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.

Solto em fevereiro de 1973, vinha cuidando de se recuperar do período de prisões e torturas. Sua mulher, Ecila, avalia que sua libertação foi uma verdadeira armadilha, já que os órgãos de segurança não podiam fazê-lo desaparecer durante o cumprimento de ordem judicial de prisão preventiva. Permaneceu com a família até viajar para São Paulo, no dia 19 de março, cidade em que foi preso no dia 03 de abril de 1974, estando desaparecido desde então, no âmbito da Operação Radar, coordenada pelo DOI-CODI do II Exército, levada a efeito em vários estados. A Operação Radar prendeu centenas de pessoas e assassinou Vladimir Herzog, David Capistrano, Itair José Veloso, Orlando Boafin, entre muitos outros bravos militantes do PCB.

Nos anos de 1990, em entrevista do ex-sargento Marival Chaves ao jornalista Expedito Filho, da revista Veja, esse agente do DOI-CODI/SP afirmou que Massena era um dos oito integrantes do Partido Comunista Brasileiro que tiveram seus corpos atirados nas águas do rio Novo, em Avaré/SP.

Até sempre, companheiro!!! João Massena... PRESENTE!!!

“(...) Esta cova em que estás, com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida / É de bom tamanho, nem largo, nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio/ Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida / É uma cova grande pra teu pouco defunto / Mas estarás mais ancho que estavas no mundo (...)”. (Morte e Vida Severina. Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto)

Valmir Mota de Oliveira, o Keno, tinha 34 anos e deixou a todos o exemplo da sua militância incansável como membro da Via Campesina e do MST. Do Paraná para o Brasil, Keno organizou brigadas e acampamentos pelos estados onde passou. No Sergipe, no Maranhão, na Bahia, sua vida era na estrada. Viveu 10 anos em Brasília, quando conheceu a esposa, Íris, com quem teve 2 dos 3 filhos. Seus pais, João Mota de Oliveira e Evanir de Oliveira, que estão há 23 anos no MST, participaram de uma ocupação pela primeira vez em 1985, em Juvenópolis, no Paraná. Na época Keno tinha 10 anos de idade e desde aquele dia sentiu-se parte do movimento. Com 18 anos partiu para a militância em outros estados. Retornou ao Paraná 10 anos depois.

Por acreditar na Reforma Agrária, na defesa do meio ambiente, na resistência da agricultura camponesa e na construção de uma sociedade mais justa, sem exploradores e explorados, já havia sido ameaçado de morte várias vezes por milícias a serviço do consórcio entre a Sociedade Rural do Oeste do Paraná, o Movimento dos Produtores Rurais e a Syngenta Seeds, multinacional que faz experimentos com sementes. No dia 21 de outubro de 2007 as ameaças se cumpriram e Valmir foi executado por pistoleiros no acampamento Terra Livre, na área de experimentos ilegais da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, Paraná. Além de assassinar Keno, mais cinco trabalhadores foram gravemente feridos. O caso é um exemplo de execução de dirigentes de movimentos sociais e da conivência das autoridades com o crime e a violência no Brasil. Esse não foi o primeiro caso de assassinato de um Sem Terra ocorrido no estado; ao contrário, o Paraná é um dos estados brasileiros com maior índice de violência no campo.

Por isso, juntamos nossas vozes a milhares de outras e exigimos a responsabilização dos responsáveis e mandantes dos crimes, a desarticulação da milícia armada no Estado do Paraná, o fechamento imediato da empresa de segurança NF (que praticou o ataque), além da garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores rurais da região.

Logo após sua morte, Elcir Zen, conhecido como James assim se referia a Keno:

Keno altivo e sereno

Sorria a vitória da terra

A Terra Livre é liberdade

Até sempre, companheiro !!! Keno... PRESENTE !!!

“(...) Minha estrada, meu caminho, me responda de repente / Se eu aqui não vou sozinho, quem vai lá na minha frente / Tanta gente tão ligeiro que eu até perdi a conta / Mas lhe afirmo, violeiro, fora a dor, que a dor não conta / Fora a morte quando encontra, vai na frente um povo inteiro (...). (A Estrada e o Violeiro. Sidney Miller).

Italiano da cidade de San Lúcido, na Calábria, Líbero chegou ao Brasil com a mãe Elena Castiglia e os três irmãos, em 1955. Tinha apenas 11 anos de idade. O pai, o pedreiro Luigi Castiglia, já havia desembargado no Rio de Janeiro em 1949. Elena era filiada ao Partido Comunista Italiano e Luigi ao Partido Socialista.

A família foi morar em subúrbios do Rio de Janeiro, como Bonsucesso e Ramos. Líbero fez o curso de torneiro mecânico no Senai, e ainda muito jovem, foi trabalhar como metalúrgico.

Nos idos de 1962 seu pai deparou-se com o jornal “A Classe Operária”, estampado em uma banca do centro do Rio de Janeiro. Imediatamente se identificou com a linha política do periódico e encaminhou Líbero e seu irmão Walter para participarem das fileiras do PC do B.

Assim, o jovem italiano tornou-se membro do Partido Comunista do Brasil e grande amigo de André e Victória, filhos de Maurício Grabois.

Após o golpe militar de 1964, devido às perseguições políticas, passou a militar na clandestinidade e residiu em Rondonópolis/MT, onde teve uma oficina mecânica com Daniel Callado.

No Natal de 1967 chegou ao Araguaia, estabelecendo residência na área da Faveira, onde abriu um pequeno comércio.

No Araguaia, Líbero era conhecido como Joca. Era tão popular que virou padrinho de várias crianças. Segundo relato de seus companheiros, era solidário, estava sempre disposto a ajudar e a cumprir as tarefas mais difíceis. Foi comandante do Destacamento A; mais tarde, passou a fazer parte da Comissão Militar.

Na guerrilha, tornou-se companheiro de Lúcia Maria de Souza, a Sônia, estudante de Medicina, nascida em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Está desaparecido desde o ataque às Forças Guerrilheiras do Araguaia, no Natal de 1973.

O governo da Itália tem feito gestões formais junto ao governo brasileiro, manifestando interesse na localização dos restos mortais de Castiglia. Entretanto, até agora nada foi efetivado.

Até sempre, compenheiro!!! Libero Giancarlo...PRESENTE!!!

“(...) Me amarram, me aplicam, me sufocam num quarto trancado / Socorro! Sou um cara Normal asfixiado. / Minha mãe, meu irmão, minha tia me encheram de drogas / de levomepromazina. / Ai, ai ai que sufoco da vida. Estou cansado de tanta levomepromazina. (Sufoco da Vida. Hamilton, Meurício e Alexandre M.)

No final dos anos 70, no bojo da luta contra a ditadura, nasceram muitos movimentos sociais que contribuíram para a construção do projeto democrático brasileiro. Um deles foi o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental que denunciou a violência existente nos hospitais psiquiátricos, violência esta não apenas contra as pessoas em sofrimento psíquico, vítimas das formas mais brutais de desrespeito aos direitos humanos, mas também contra vários brasileiros que lutaram contra o regime militar de exceção. Muitas denúncias referiam-se a presos políticos que eram internados em hospícios.

No final dos anos de 1980, o movimento se consolidou como um dos mais importantes e amplos movimentos sociais do país, disseminando-se por todos os estados e assumindo mais efetivamente sua luta pela superação dos manicômios. Foi quando surgiu o lema POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS, significando o repúdio a qualquer forma de exclusão social e de violência contra as pessoas em sofrimento mental.

O manicômio, para o Movimento, não é apenas o hospício, o hospital psiquiátrico, onde a violência é certamente mais direta e opressora, mas é o conjunto de saberes científicos, de práticas institucionais, sociais e políticas que autorizam tais formas de exclusão e violência. Neste sentido, todas as formas de medicalização da sociedade são também objeto de crítica e denúncia por parte do Movimento.

Com a participação inegável do movimento, foi deflagrado no país um dos mais importantes e reconhecidos processos de reforma psiquiátrica existentes em todo o mundo. Neste processo destaca-se a participação de usuários e familiares, além dos técnicos, que atuam, todos eles, não como atores ou objetos, mas como atores reais, como protagonistas de um novo cenário, que é marcado por uma nova cultura de cuidado, de convivência e solidariedade.

Desde 1988, vem realizando comemorações no dia 18 de maio, que ficou conhecido como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. São eventos políticos, sociais, culturais, artísticos, científicos, em todos os estados, em todas as capitais, em inúmeras cidades. Tais comemorações têm como objetivo convocar e despertar a sociedade para a questão da violência manicomial no seu sentido amplo, ao qual nos referimos anteriormente. Mas o dia 18 foi ficando pequeno, e daí passou-se a organizar atividades na semana toda e agora por todo o mês de maio.

No 18 de maio apontam-se as arbitrariedades em relação à violação dos direitos humanos e cidadania dos usuários; reivindica-se a ampliação não apenas da rede de serviços territoriais, substitutivos aos hospitais psiquiátricos, mas também dos dispositivos e estratégias culturais e sociais que são fundamentais na construção de uma nova relação entre a sociedade e a loucura; luta-se pela superação do estigma, do preconceito, da segregação e da exclusão, mas luta-se, fundamentalmente, pela construção desta nova sociedade solidária para com as pessoas em sofrimento e em situação de risco social.

“(...) Pai, afasta de mim esse cálice / Pai, afasta de mim esse cálice / Pai, afasta de mim esse cálice / De vinho tinto de sangue / Como beber dessa bebida amarga / Tragar a dor, engolir a labuta / Mesmo calada a boca, resta o peito / Silêncio na cidade não se escuta / De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra / Outra realidade menos morta / Tanta mentira, tanta força bruta (...)”. (Cálice. Gilberto Gil e Chico Buarque, 1973).

Padre João Daniel de Castro era um mulato alto, forte e muito risonho. Tinha uma doçura muito peculiar. Gostava de nos abraçar, de colocar a mão em nossos ombros e nos olhava de modo franco e aberto. Sua missa era mais que um ato religioso, era um encontro, em que ele abria as portas da Igreja e só saia quando o último fiel ia embora. Não tinha pressa, nem desatenção. Todos da paróquia Nossa Senhora Medianeira, em Oswaldo Cruz (subúrbio da zona norte do Rio de Janeiro), queriam conversar com ele após a missa. Havia uma aura de admiração e de carinho que envolvia aquelas manhãs de domingo.

Muitos o consideravam o melhor padre da Igreja Católica. Foi essa a imagem que ficou em minha memória. Mais tarde, quando era ainda muito pequena, soube que havia alguma coisa em sua vida que envolvia um certo mistério. Não compreendia muito bem. Só mais tarde consegui entender que mistério era aquele.

Padre Daniel havia sido preso, junto com alguns jovens da sua paróquia, pelos aparelhos de repressão do Estado. Os militares receberam uma denúncia anônima de que ali naquela paróquia havia um “antro de comunistas’ que se reuniam e que ele não só apoiava, como também participava desses encontros. Quando ouvi esta conversa ainda estávamos em plena ditadura e até mesmo falar sobre isso era perigoso.

Dona Marlene, sua mãe, era secretária na Câmara dos Deputados, e tentou conseguir sua liberdade. Quando Padre Daniel estava saindo da prisão perguntou ao carcereiro: “onde estão os outros fiéis que foram presos comigo?” O carcereiro respondeu que eles não sairiam. Então, ele disse: “por favor, me leve de volta para a minha cela, eu não vou sair sozinho. Só saio com a minha Paróquia.” Dentre os jovens então presos com ele, podemos citar a hoje professora de História, Fátima Setúbal e seus dois irmãos, posteriormente assassinados pela ditadura, Januário e Antonio Marcos Pinto de Oliveira.

Mais tarde, quando de minha primeira comunhão, fui me confessar com ele. Embora tivesse feito dois anos de catequese não sabia direito o que iria confessar. Quando entrei, não havia confessionário. Ele me chamou para sentar em um sofá de frente para ele. E começamos a conversar. Então, eu disse que estava ainda sem saber direito o que confessar. E ele me falou: “minha filha, pecado só é pecado quando temos consciência dele. Isto é, quando fazemos na intenção de pecar”. Naquele momento, os dois anos de catequese ficaram insignificantes diante da compreensão que tive do que significa ética e respeito com o próximo.

Mais tarde, já em meados da década de 1980, quando estava com 17 anos, minha mãe pediu que ele conversasse comigo, pois me sentia muito rebelde. Ele me chamou e fomos conversar. Disse-lhe que estava militando em um partido político novo, fazendo um trabalho no morro, estudando e quase não parando em casa. Ele ficou empolgado e falamos muito sobre política. Ele era também um militante. Naquele momento me deu vários jornais que ele organizava que se chamava “Igreja Urgente”. Falou-me ainda, da necessidade mais que urgente da Igreja se abrir, de modificar sua prática. Aquele jornal tinha uma série artigos interessantes e um alerta para a Igreja tradicional. Pouco tempo depois, Padre Daniel foi transferido para uma Igreja, em Cascadura e, logo depois, junto com mais outros dois padres foi expulso da Igreja por Dom Eugênio Salles, então Arcebispo do Rio de Janeiro.

Estes fatos foram vitais para que eu compreendesse o medo que os homens da ditadura tinham dele. Em seu anonimato, em suas ações cotidianas ele era capaz de olhar, de sentir e de comungar com outros anônimos um ideal de v

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