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Medalha Chico Mendes | homenageados 2002

Com a Medalha Chico Mendes de Resistência, o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro – GTNM/RJ homenageia pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou internacionais, por suas lutas na defesa dos direitos à vida e à liberdade e por uma sociedade plural, fraterna e sem torturas, reafirmando sua dignidade e sua memória. Essa homenagem, prevista em seu estatuto desde a sua fundação, em 1985, vem sendo cumprida desde 1989, anualmente, no dia 1º de abril ou em data próxima.

Maria Dolores Perez – a Lola recebendo a Medalha Chico Mendes de Resistência em 2007

 

> Homenageados 2002

Há 52 anos um povo resiste. Resiste à ocupação militar de sua terra, resiste à tomada e à destruição de seus bens materiais e culturais, seus valores e direitos humanos mais fundamentais; resiste à perda do seu direito à nacionalidade, à cidadania, à autodeterminação e à própria vida; resiste à mais longa e cruel opressão exercida sobre um povo e uma nação na era contemporânea; resiste ao genocídio e ao apartheid a que lhe submete Israel.Torturas, tratamento degradante ou humilhante, racismo, a todo o tipo de opressão têm resistido os palestinos, sejam mulçumanos ou cristãos – a opressão israelense é contra todo um povo - e, ao longo de décadas, de luta em luta, de Intifada em Intifada cada geração, seja de pedras ou armas na mão, seja politicamente ou com o sacrifício da própria vida, assombra o mundo com a tenacidade que anima os lutadores de uma causa justa; uma causa que já é de todos aqueles que lutam pela justiça e pela libertação da humanidade.

Essa resistência tem sido vitoriosa, vitoriosa sim, pois a luta palestina, que já foi desqualificada como terrorista por lideranças políticas mundiais e pela grande mídia internacional, tem vencido a indiferença e a cumplicidade do ocidente com Israel, avançando até ao limiar da conquista do direito à constituição de seu próprio estado independente. Nessas décadas de sofrimentos e vitórias, consolidou-se o papel da OLP na liderança dessa resistência, papel esse reconhecido, tanto internacionalmente quanto pelo povo palestino.

Convidamos, portanto, o embaixador palestino no Brasil, sr. Musa Amed Odeh, militante histórico da OLP, um legítimo representante de seu povo para, em seu nome, receber a homenagem que hoje se lhes faz; apenas mais uma pequena pedra simbólica para ser usada na Intifada.

Frente à política de Ariel Sharon, que tem contado com o apoio de Bush, política que une o terror político ao assassinato de um povo, o povo palestino cada vez mais se une e resiste e resistirá até a vitória final.

* Na foto, Embaixador da Palestina Musa Amer Odeh

Aldanir Carlos dos Santos foi assassinado no dia 22 de novembro do ano passado. Ele foi morto em Bangu às dez horas da noite, com um tiro, dentro de um carro onde estava com um amigo. O caso foi registrado na 34a. DP como latrocínio mas tudo leva a crer que foi um crime político.

Santos era membro da Executiva Nacional da CUT e seria candidato a Deputado Estadual pelo PT . Ele estava há três anos à frente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia Elétrica do Rio de Janeiro. Era conselheiro do Instituto Light, e também um dos dirigentes do Movimento Negro Unificado. Era membro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e fundador do Coletivo Anti-Racismo da CUT.

Os criminosos continuam impunes. Aldanir tinha 39 anos, era casado com Margareth e deixou dois filhos de outro casamento: Aldanir de 18 anos e Vinícius de 16.

Sindicatos trocam assembléias pela força bruta

O Globo 25/05/03

Chico Otavio

Pesquisa do IBGE sobre os sindicatos brasileiros mostra uma curiosa situação: embora o número de trabalhadores sindicalizados tenha caído de 1991 a 2001 (o número médio de sindicalizados encolheu de 2.104 para 1.720 por entidade), a quantidade de sindicatos de trabalhadores cresceu 49%. Em muitos casos, sindicatos esvaziados representam um bom negócio, criados apenas para devorar a contribuição sindical e investir na promiscuidade das relações entre os seus sindicalistas e empregadores.

Dos 18 assassinados, dez eram rodoviários

Dos 18 dirigentes sindicais assassinados desde 1994, dez eram rodoviários, mortos na maioria dos casos em brigas pelo controle da máquina sindical. Outra representação de categoria marcada pela violência é a dos estivadores. Há meio século, os sindicatos da categoria controlavam os serviços de embarque e desembarque de cargas nos portos brasileiros. Em 1993, a Lei de Modernização dos Portos (Lei 8630-93) mudou o sistema, levando os sindicatos a uma violenta reação.

Em nove anos, 18 assassinatos

ALDAMIR: Em 24 de novembro de 2001, um motociclista atirou e matou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Energia do Rio, Aldamir Carlos dos Santos. Ele voltava para casa dirigindo, após reunião, e foi atingido ao parar num sinal.

FÉLIX E CANHOLA: Em 1 de novembro de 2001, o estivador Luiz Félix da Silva, principal oposicionista do sindicato da categoria no Porto de Paranaguá (PR), foi morto a tiros. Em 7 de março de 2000, outro integrante da oposição, Paulo Henrique Canhola, também fora assassinado. A polícia conseguiu prender os pistoleiros e chegar aos mandantes, os dirigentes do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá Antônio Carlos Bongato e Hélio Alves dos Santos.

MAURÍCIO: No dia 1 de novembro de 2001, o presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários de Guarulhos, Maurício Alves Cordeiro, foi baleado quando voltava do almoço.

BOTELHO: Em março de 2001, o então presidente do Sindicato dos Ferroviários, José Mendes Botelho, foi envenenado em sua sala, tomando um copo de água com cianeto, que teria sido colocada numa garrafa em sua geladeira.

SEBASTIÃO: No dia 20 de abril de 1998, o motorista de ônibus e membro da diretoria da CUT-RJ Sebastião Francisco de Lima, foi assassinado no ônibus da linha 760 (Curicica-Madureira), em que trabalhava. Tião Sem Medo, como era conhecido, costumava denunciar a máfia das empresas de ônibus nas assembléias do sindicato dos rodoviários.

RONALDO: No dia 15 de março de 1995, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Belford Roxo, Ronaldo Ferreira Pereira, foi morto com cinco tiros na sede do sindicato, disparados por Milson Laureano da Conceição. A polícia acusou o vice-presidente da entidade, Rubens Gonçalves Belo Júnior, de ter ordenado o crime.

DORVALINO: No dia 17 de março de 1995, o diretor do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de São Paulo, Dorvalino José dos Santos, foi assassinado em frente à garagem da empresa onde trabalhava. Era o mais atuante militante da Zona Sul.

OSWALDO: Em 6 de janeiro de 94, o ex-presidente do Sindicato dos Condutores do A

Batistinha

Em 5 de julho de 1993, dois homens armados com metralhadoras mataram um dos nossos mais antigos líderes sindicais – o ferroviário e ex-deputado federal pelo PCB, Demisthóclides Baptista, o Batistinha.

Quem não se lembra do famoso aviso de greve dos ferroviários? – a frase cunhada pelo grande agitador ainda antes da ditadura: Quando os ponteiros do relógio da Central cruzarem a zero hora, os trens vão parar.

Ele nasceu em 18 de outubro de 1925 em Cachoeiro do Itapemirim, caçula de 12 irmãos dos quais 8 morreram de tuberculose e fome. Vindo de uma linhagem de ferroviários, Batistinha cedo ingressou no movimento sindical e em 1954 liderava a primeira greve após o suicídio de Vargas. Formado em Direito, a lista das greves lideradas por Batistinha inclui a histórica paralisação pela paridade dos salários dos marítimos, ferroviários e portuários em 1960.

Membro fundador do Pacto de Unidade e Ação (PUA) e do antigo Comando Geral dos Trabalhadores, ele foi deputado federal, cassado em 64, e exilado no Uruguai. De volta ao Brasil, foi preso em 66 e condenado em 68. Solto em 1971, Batistinha em 1986 foi candidato a senador pelo PT, partido que ajudou a fundar. Aposentado, ele lutava contra a privatização da RFFSA e contra a estadualização da CBTU.

Batistinha foi assassinado enquanto dormia em seu quarto, ao lado da esposa, de uma filha e quatro netos. Os criminosos permanecem impunes.

Em algum lugar, por entre as folhagens da selva amazônica, se prestarmos bastante atenção, podemos até hoje ainda ouvir o vento murmurando respeitosamente um nome: Maria Dina ......, Diná ......., Dinorá ........

Mas a baiana Dinaelza foi calada há muito tempo, e a resposta ao chamado somos nós que assobiamos: Dinaelza presente !

Como uma sinfonia que não pode ser interrompida, com seus momentos de suavidade e suas passagens trágicas, a vida de Dinaelza não acabou num dia duvidoso de 1973 ou 1974, prossegue vigorosa em nossas atitudes de denúncia das injustiças sociais que ainda permanecem entre nós, no meio rural e nas cidades.

Dinaelza Soares Santana Coqueiro nasceu em Vitória da Conquista, Bahia, em 22 de março de 1949. Foi assassinada aos 25 anos e teria agora 53. Filha de Antônio Pereira de Santana e Junília Soares Santana. Concluiu os cursos primário e secundário no Instituto Regis Pacheco, em Jequié e, em 1969, iniciou o curso de Geografia na Pontifícia Universidade Católica de Salvador. Participou do movimento estudantil pertencendo à Comissão Executiva do Diretório Central dos Estudantes de sua Universidade. Trabalhou na Sadia, hoje Transbrasil, até o início de 1971. Como militante do Partido Comunista do Brasil – PC do B – ingressou no movimento guerrilheiro, indo para o Araguaia com seu marido Vandick Reidner Pereira Coqueiro, também lá desaparecido.

Seus companheiros a viram viva e em liberdade pela última vez em 30 de dezembro de 1973.

Em depoimento recente a procuradores federais, um morador da região do Araguaia, ex-guia das forças federais, revelou que Dinaelza foi presa e levada para uma base militar, onde sofreu torturas para que informasse onde se encontravam seus companheiros. Foi descrita como "uma mulherzinha muito bruta, que xingava os doutores e cuspia em suas caras". Foi fuzilada por um pistoleiro que cumpria ordens do Coronel Sebastião de Moura Curió e sepultada perto da Serra das Andorinhas. Bem junto de onde o vento canta.

Um relatório do Ministério da Marinha diz que ela foi morta em 8 de abril de 1974. Não diz tudo o que sabe, e principalmente, pela natureza de sua crosta, não percebe a nossa verdade: pois mulheres guerreiras não são mortas simplesmente. Elas se retiram do cenário concreto no momento adequado, dentro de uma estratégia lógica, e retornam etéreas, com força, multiplicadas, diversificadas, com mil faces e os mesmos ideais.

Dinaelza está presente.

Uma parte está comigo, outra parte com você.

Dinaelza é um presente.

* Na foto, Lorena Moroni entrega a medalha à irmã de Dinaelza, Diva Santana

Dom José nasceu no Estado do Rio de Janeiro, em 1926. Foi professor de português no Seminário de Aparecida (SP), e entre 1966 e 1968 fez o Curso de Especialização em Catequese e Pastoral em Bruxelas. Voltando ao Brasil, trabalhou nas Missões em São Paulo, Minas, Paraná e Amazonas.

Em 1970 foi eleito Superior Provincial dos Missionários Redentoristas de Goiás e Distrito Federal.

Em 1975 foi ordenado Bispo e nomeado para a Diocese de Juazeiro.

Na ocasião, a construção da Hidroelétrica de Sobradinho tinha desalojado 72.000 pessoas. Dom José entrou logo na luta em defesa dessas pessoas. Foi a primeira das muitas lutas pelos direitos dos pobres do sertão na qual ele se envolveu, enfrentando inclusive a ferocidade da ditadura militar.

Sua capacidade de luta, seu sentimento de solidariedade com o povo excluído e sua intransigência na defesa dos direitos humanos, fizeram que ele fosse freqüentemente acusado (pelos mais favorecidos, é claro,) de ter uma atuação mais política que religiosa.

Desde que chegou a Juazeiro promoveu nove Pastorais Sociais (da Terra, da Criança, da Juventude do Meio Popular, da Mulher Marginalizada, da Saúde, dos Pescadores, Carcerária); criou o Setor Diocesano da Comunicação Audiovisual, com uma Biblioteca com 45.000 volumes, equipamentos de produção de rádio e televisão, jornalismo impresso, uma locadora com 2.000 títulos de vídeos para escolas e professores além de 3 programas de rádio semanais. Foi o criador do projeto Cisternas Caseiras (para armazenar água de chuva), de tanto sucesso que o Ministério do Meio Ambiente pretende copiá-lo.

Dom José já prestou depoimento em numerosas CPIs, como aquela - sobre a grilagem na Bahia em 1977; na Comissão da Bacia do São Francisco em 1978, quando falou nos problemas causados pela construção da Barragem de Sobradinho – e na do Terror em 1981 entre outras.

Dom José participou de numerosos debates sobre a seca e a fome no nordeste.

Membro da Associação Bahiana de Imprensa durante seis anos seguidos Dom José recebeu o Troféu Mandacaru de Ouro, criado por um grupo de jornalistas da Bahia para homenagear os destaques do ano em política, economia, arte, cultura e religião.

Em 1992 publicou-se sua biografia em alemão, já traduzida e publicada e sob o título “O Bispo dos Excluídos: Dom José Rodrigues.”

Dr. Luiz Francisco Fernandes de Souza desde 1995 é Procurador da República, reconhecido por sua luta contra a corrupção e a impunidade.

Nasceu em Brasília e antes de ingressar no Ministério Público, foi funcionário do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Fez um ano e meio de Química e História, e também um ano de noviciado com os Jesuítas. Militou no DCE do Centro de Ensino Unificado de Brasília e no Movimento Negro Unificado/DF, onde foi secretário geral do Grupo de trabalho Olho Africano; no movimento dos bancários e no Partido dos Trabalhadores. Participou também do movimento de associações de bairro, em 1981. E da Pastoral da Juventude e das CEBs, em São Leopoldo e Cascavel.

Como membro do Ministério Público impetrou ações contra as privatizações da Vale do Rio Doce, do Banespa, Sistema Telebrás e de Furnas; ações de improbidade contra o Procurador Geral da República Geraldo Brindeiro, o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso e seu filho, Paulo Henrique Cardoso, General Alberto Cardoso; o Ministro Raul Jungmann, o Ministro Sérgio Amaral, o governador Joaquim Roriz; o ex Ministro Rafael Grecca, o ex-Ministro Eliseu Padilha, e mais uns dez ministros. Investigou Hildebrando Pascoal (investigações que levaram à sua cassação e prisão); Luiz Estevão (cassado e presos três vezes) e Orleir Cameli, governador do Acre.

Muitas repercussões tiveram suas investigações sobre a violação do painel de votação da cassação do senador Luiz Estevão, onde foi confirmada a fraude, o que gerou a renúncia de ACM e de Arruda, Senador do DF. Fez também investigações sobre os bingos, evidenciando o envolvimento do Ministro Rafael Grecca que acabou tendo que renunciar.

Há faz dois anos e meio o bárbaro assassinato dos enfermeiros Marcos e Edma Valadão permanece impune e suas motivações não foram apuradas pelas autoridades policiais competentes. O casal foi morto durante uma emboscada no Engenho Novo, no dia 20 de setembro de 1999.

Marcos Otávio Valadão, presidente da Seção Rio da Associação Brasileira de Enfermagem, e sua mulher, Edma, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio, denunciavam irregularidades financeiras da direção do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Foram vítimas de um crime hediondo, quando se dedicavam, sempre de forma incansável à luta por uma enfermagem ética e por sua representação democrática, por condições de trabalho e remuneração mais dignas para o profissional enfermeiro.

A enfermeira Edma Rodrigues Valadão, que até hoje é lembrada no bairro da Saúde onde trabalhou no Centro Integrado S.Sebastião, foi presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Rio de Janeiro.

Sindicatos trocam assembléias pela força bruta

O Globo 25/05/03

Chico Otavio

Há quase quatro anos, um duplo homicídio desafia a polícia do Rio. O casal de sindicalistas Marcos e Edna Valadão seguia para casa, no dia 20 de setembro de 1999, quando foi baleado por dois motoqueiros em Riachuelo, Zona Norte. Marcos presidia a Associação Brasileira de Enfermagem no Rio e Edna, o Sindicato dos Enfermeiros. Embora todas as pistas indiquem execução premeditada, pois nada foi roubado e o casal fazia denúncias contra outras entidades da categoria, as investigações não conseguiram até hoje apontar um único suspeito.

Num setor onde as divergências costumam ser resolvidas em assembléias, pela vontade da maioria, o caso de Marcos e Edna mostra o lado obscuro e violento do sindicalismo brasileiro. Os registros policiais contabilizam, desde 1994, 18 assassinatos de dirigentes de sindicatos de trabalhadores urbanos no Sul e no Sudeste, a maioria sem solução. Semana passada, porém, a barreira de impunidade que protegia essas ações começou a ser rompida com a prisão de 17 diretores do Sindicato dos Motoristas de São Paulo. Entre outras acusações, eles vão responder pelo assassinato de sindicalistas adversários.

Pesquisa do IBGE sobre os sindicatos brasileiros mostra uma curiosa situação: embora o número de trabalhadores sindicalizados tenha caído de 1991 a 2001 (o número médio de sindicalizados encolheu de 2.104 para 1.720 por entidade), a quantidade de sindicatos de trabalhadores cresceu 49%. Em muitos casos, sindicatos esvaziados representam um bom negócio, criados apenas para devorar a contribuição sindical e investir na promiscuidade das relações entre os seus sindicalistas e empregadores.

Nesses lugares, onde sindicalistas circulam protegidos por capangas, a força da palavra é muitas vezes substituída pela força bruta. Marcos e Edna podem ter sido vítimas desse método violento de manter o controle. O crime está, desde 1999, entregue à Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).

— Não agüentamos mais ir até lá e contar sempre a mesma história — diz Marta de Fátima Barbosa, atual presidente da Associação Brasileira de Enfermagem no Rio, que esteve com o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, no dia 16, quando mais uma vez cobrou a apuração do crime.

Dos 18 assassinados, dez eram rodoviários

Dos 18 dirigentes sindicais assassinados desde 1994, dez eram rodoviários, mortos na maioria dos casos em brigas pelo controle da máquina sindical. Outra representação de categoria marcada pela violência é a dos estivadores. Há meio século, os sindicatos da categoria controlavam os serviços de embarque e desembarque de cargas nos portos brasileiros. Em 1993, a Lei de Modernização dos Portos (Lei 8630-93) mudou o sistema, levando os sindicatos a uma violenta reação.

O sistema de escala de trabalhadores avulsos nos portos era um foco de corrupção e exploração da mão-de-obra. Os sindicatos escolhiam apenas apadrinhados para fazer o serviço. Estes, por sua vez, criavam um mercado secundário de estivadores ao contratar terceiros para executar o serviço por um valor, em certos casos,

O frade dominicano, ameaçado de morte no sul do Pará, que defende os trabalhadores em sua luta pela terra, contra a violência e a justiça corrupta nasceu em Paris em 18 de fevereiro de 1930.

Frei Henri ao fazer o serviço militar na África, entendeu a luta dos países em processo de descolonização, apoiou a independência da Argélia e se indignou com o racismo da sociedade francesa. Formado em direito em Cambridge, com tese de doutorado premiada em Paris, Henri parecia ter o destino previsível dos membros da família, embaixadores e grandes advogados. Mas Henri des Roziers foi ser dominicano, ordenado em 1964.

No Centro Saint Yves ele apoiou os estudantes em maio de 68 e em 69 sai do convento, radicaliza sua opção e vai morar na periferia, ser operário. Logo começa a lutar contra a terceirização. Ao se engajar na luta dos trabalhadores árabes ele recorre ao diploma de advogado para solucionar legalmente a situação dos emigrantes sem visto de permanência.

Frei Henri des Roziers veio para o Brasil durante o governo Médici, logo dirigindo-se para Conceição do Araguaia onde descobriu um povo totalmente escravizado. Sua luta jurídica contra a violência das milícias privadas dos fazendeiros deu credibilidade às denúncias, fortaleceu os sindicatos e deu respaldo às ações das entidades solidárias.

Em 1991, Frei Henri conseguiu uma vitória que marcou sua luta na transformação da conduta da Justiça Brasileira em processos de violência contra trabalhadores rurais e criou jurisprudência. No julgamento de Jerônimo Alves do Amorim, fazendeiro que em 1991 mandou matar o sindicalista Expedito Ribeiro de Souza, Frei Henri foi um dos advogados de acusação e conseguira o feito inédito no país: Jerônimo foi condenado a dezenove anos e seis meses de prisão.

Janio de Freitas escreve uma coluna de informação e comentário para a Folha de S.Paulo há 20 anos. Conduziu a famosa reforma do Jornal do Brasil, quando jovem jornalista no final dos anos 50 e início dos 60. No período imediatamente anterior ao golpe de 64, foi redator-chefe e superintendente do Correio da Manhã, repondo-o na posição de primeiro jornal do país. Por breve período foi diretor-geral de Última Hora, mas nos demais anos da ditadura, até 82, não conseguiu emprego como jornalista, ocupando-se na indústria de livros.

A posição de Janio de Freitas em relação à mídia brasileira é muito crítica, particularmente para com a imprensa. Isso tem dado ao seu trabalho, como deu aos jornais quando os dirigiu, uma atitude de combate permanente às causas da pobreza, à violência implícita nas políticas da classe dirigente, à grande trama das negociatas contra os cofres públicos, pelo respeito à soberania e pelas aspirações da cidadania brasileira.

Os vários prêmios recebidos por Janio de Freitas incluem, entre outros, o Crônica, o Prêmio Esso, o Troféu Samuel Wainer e o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha.

Luiz Antônio Santa Bárbara nasceu na Bahia em 1947.

Trabalhou como tipógrafo na Gazeta do Povo, onde começou sua prática política e foi presidente do Grêmio do Colégio Municipal de Feira de Santana. Em 1967 passa a militar na Dissidência do PCB. Luiz Antônio foi o primeiro militante do MR-8 a ser deslocado para o sertão da Bahia. Chegou no Buriti Cristalino como Roberto, o professor. Hospedado na casa de José Barreto, pai de Zequinha, Otoniel e Olderico, trabalhava diariamente com eles na roça. Era um bom jogador de futebol, e se tornou um craque que entusiasmou o Buriti Cristalino e Brotas de Macaúbas. Tinha uma vida semilegal.

Sua tarefa era formar a escola de alfabetização do povoado carente, onde poucos sabiam ler. Todas as tardes a casa de José Barreto se enchia de crianças e velhos para ouvir o professor Roberto. Percebendo o peso dos impostos e o sofrimento desta gente para pagá-los, o professor criou um teatrinho com os alunos representando os trabalhadores, os fiscais e a escolta armada que os acompanhava. Lamarca ajudou Santa Bárbara a escrever o texto que foi ensaiado com grande entusiasmo por crianças e adultos.

Santa Bárbara foi morto dentro da casa de José Barreto, em 28 de agosto de 1971, quando a repressão invadiu o Buriti Cristalino, literalmente caçando Lamarca e seus companheiros.

Sua morte é mais uma que a repressão apresenta como suicídio. No entanto, a arma recolhida com Santa Bárbara era um revólver calibre 32 e as balas que o mataram saíram de um calibre 38. Outra contradição está no próprio documento da Polícia Federal na Bahia que afirma que Otoniel e Santa Bárbara foram “abatidos (...) quando reagiram à bala contra a equipe encarregada de capturá-los”.

Até hoje permanece a fictícia versão oficial.

Há faz dois anos e meio o bárbaro assassinato dos enfermeiros Marcos e Edma Valadão permanece impune e suas motivações não foram apuradas pelas autoridades policiais competentes. O casal foi morto durante uma emboscada no Engenho Novo, no dia 20 de setembro de 1999.

Marcos Otávio Valadão, presidente da Seção Rio da Associação Brasileira de Enfermagem, e sua mulher, Edma, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio, denunciavam irregularidades financeiras da direção do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Foram vítimas de um crime hediondo, quando se dedicavam, sempre de forma incansável à luta por uma enfermagem ética e por sua representação democrática, por condições de trabalho e remuneração mais dignas para o profissional enfermeiro.

Marcos Otávio Valadão, mineiro de Belo Horizonte, nasceu no dia 09 de agosto de 1955 e Edma Rodrigues aos 22 de maio de 1953, no Maranhão. Eles se conheceram no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro e nunca mais se separaram.

Marcos, que também era advogado, vinha se dedicando ao Curso de Mestrado em Enfermagem, onde defenderia sua dissertação em dezembro de 1999. Combativo e criativo, Marcos foi eleito, em 1995, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem, Seção Rio de Janeiro (ABEn-RJ) e reeleito para uma segunda gestão, mandato este, que não chegou a concluir.

Sindicatos trocam assembléias pela força bruta

O Globo 25/05/03

Chico Otavio

Há quase quatro anos, um duplo homicídio desafia a polícia do Rio. O casal de sindicalistas Marcos e Edna Valadão seguia para casa, no dia 20 de setembro de 1999, quando foi baleado por dois motoqueiros em Riachuelo, Zona Norte. Marcos presidia a Associação Brasileira de Enfermagem no Rio e Edna, o Sindicato dos Enfermeiros. Embora todas as pistas indiquem execução premeditada, pois nada foi roubado e o casal fazia denúncias contra outras entidades da categoria, as investigações não conseguiram até hoje apontar um único suspeito.

Num setor onde as divergências costumam ser resolvidas em assembléias, pela vontade da maioria, o caso de Marcos e Edna mostra o lado obscuro e violento do sindicalismo brasileiro. Os registros policiais contabilizam, desde 1994, 18 assassinatos de dirigentes de sindicatos de trabalhadores urbanos no Sul e no Sudeste, a maioria sem solução. Semana passada, porém, a barreira de impunidade que protegia essas ações começou a ser rompida com a prisão de 17 diretores do Sindicato dos Motoristas de São Paulo. Entre outras acusações, eles vão responder pelo assassinato de sindicalistas adversários.

Pesquisa do IBGE sobre os sindicatos brasileiros mostra uma curiosa situação: embora o número de trabalhadores sindicalizados tenha caído de 1991 a 2001 (o número médio de sindicalizados encolheu de 2.104 para 1.720 por entidade), a quantidade de sindicatos de trabalhadores cresceu 49%. Em muitos casos, sindicatos esvaziados representam um bom negócio, criados apenas para devorar a contribuição sindical e investir na promiscuidade das relações entre os seus sindicalistas e empregadores.

Nesses lugares, onde sindicalistas circulam protegidos por capangas, a força da palavra é muitas vezes substituída pela força bruta. Marcos e Edna podem ter sido vítimas desse método violento de manter o controle. O crime está, desde 1999, entregue à Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).

— Não agüentamos mais ir até lá e contar sempre a mesma história — diz Marta de Fátima Barbosa, atual presidente da Associação Brasileira de Enfermagem no Rio, que esteve com o secretário de Segurança, Anthony Garotinho, no dia 16, quando mais uma vez cobrou a apuração do crime.

Dos 18 assassinados, dez eram rodoviários

Dos 18 dirigentes sindicais assassinados desde 1994, dez eram rodoviários, mortos na maioria dos casos em brigas pelo controle da máquina sindical. Outra representação de categoria marcada pela violência é a dos estivadores. Em nove anos, 18 assassinatos

MARCOS E EDNA: No dia 20 de setembro de 1999, a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio, Edna Rodrigues Valadão, e o presidente da Assoc

“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”

Este lema cunhado por Margarida Maria Alves em seu último discurso antes de ser morta, expressa e explica a motivação para a luta do trabalhador rural brasileiro que optou pela resistência ao latifúndio e à exploração do trabalho. Assim ela viveu, lutou e morreu assassinada a mando de um latifundiário.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), foi covardemente alvejada no rosto no dia 12 de agosto de 1983, em frente à sua casa e ao lado de seu filho, por ordem de José Buarque de Gusmão Neto, usineiro de Alagoa Grande, detentor de grande poder político e econômico no estado e, inclusive, no Colégio Eleitoral que elegia o Presidente da República na época da Ditadura Militar. Julgado somente 18 anos depois do homicídio, o usineiro e chefe político paraibano foi absolvido em junho de 2001 de seu covarde, hediondo e notório crime; mais um dos que seguem impunes entre os milhares perpetrados direta ou indiretamente pelos poderosos.

Na sua trajetória militante, Margarida Maria Alves se destacou sobremaneira na luta pelos direitos trabalhistas dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande e do Brejo Paraibano, incentivando-os a fazer valer de fato o que lhes era negado pelos donos do poder econômico e político na região. À época, como resultado de sua liderança, foram movidas setenta e três reclamações trabalhistas contra engenhos e contra a Usina Tanques, de propriedade do mandante de seu assassínio, o que, em pleno período ditatorial, produziu uma grande repercussão e atraiu sobre si o ódio dos latifundiários locais que passaram a ameaçá-la e a tentar intimidá-la. Margarida, além de se não deixar abater por essas ameaças e intimidações, tornava-as públicas e fazia questão de respondê-las.

Margarida Maria Alves, nome de flor mas fibra de aço, mulher sertaneja, trabalhadora rural e líder sindical, morreu na luta, mas de fome a classe dominante não a matou.

A revista Caros Amigos, dirigida pelo jornalista Sérgio de Souza, é a resposta editorial aos anseios e necessidades de informação de um público leitor permanentemente preocupado com os rumos de nossa sociedade, da nossa cultura e disposto a influir de alguma forma nesses rumos.

Desde seu lançamento, em abril de 1997, Caros Amigos traz, a cada edição, as diferentes opiniões e idéias de importantes personagens da vida brasileira, além de profundas reportagens, compondo um quadro rico e variado nos planos político, social, econômico, das artes, das ciências, da ética e da cultura em geral.

Essa maneira corajosa de fazer jornalismo tornou Caros Amigos um sucesso editorial, sendo eleita em 1997, um dos três melhores lançamentos editoriais do ano pela Meio & Mensagem. Recebeu também menção honrosa do Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo “pelo conjunto de matérias dedicadas a cidadania, dignidade e direitos humanos”, outorgada em outubro de 1998. Três honrarias do XVI Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog conferidas à revista em 1999: o prêmio de reportagem, para “Terror no Paraná”, de José Arbex Jr. e Marco Frenette, publicada na edição nº 27 (junho/1999); menção honrosa, também na categoria reportagem, para “Isto é possível – você está vendo cenas de um presídio de verdade no Brasil”, de Carlos Azevedo, publicada na edição nº 23 (fevereiro/1999); e o prêmio da categoria artes para a seção de Claudius publicada na edição nº 28 (julho/1999). A revista ganhou dois dos quatro prêmios Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos - 2001 na categoria imprensa escrita - o de Reportagem, pelo conjunto de matérias publicadas no especial MST nº 6 (outubro/2000), de João de Barros, e o de Arte, para ilustração "Regresso", de Jorge Arbach, publicada na edição nº 52 (julho/2001).

* Na foto, Jornalista Wagner Nabuco de Araújo, representando a revista Caros Amigos

Tião Sem-Medo

Já se passaram quatro anos do assassinato do motorista de ônibus Tião Sem-Medo, em 20 de maio de 1998 e até hoje ninguém foi punido. Sebastião Francisco de Lima foi assassinado a tiros, por dois motoqueiros, ao estacionar no ponto final o ônibus em que trabalhava.

Sebastião, o Tião Sem-Medo, como seu apelido mostrava era um combativo militante na defesa de sua categoria. Líder da Oposição Sindical, Tião foi ainda diretor da CUT Rio e do Departamento Nacional dos Trabalhadores em Transportes da CUT.

Um crime premeditado: os bandidos chamaram Tião e o atingiram quando ele descia os degraus da porta da frente do veículo. As suspeitas recaíram sobre a diretoria do Sindicato dos Rodoviários do Rio.

Sindicatos trocam assembléias pela força bruta

O Globo 25/05/03

Chico Otavio

Pesquisa do IBGE sobre os sindicatos brasileiros mostra uma curiosa situação: embora o número de trabalhadores sindicalizados tenha caído de 1991 a 2001 (o número médio de sindicalizados encolheu de 2.104 para 1.720 por entidade), a quantidade de sindicatos de trabalhadores cresceu 49%. Em muitos casos, sindicatos esvaziados representam um bom negócio, criados apenas para devorar a contribuição sindical e investir na promiscuidade das relações entre os seus sindicalistas e empregadores.

Dos 18 assassinados, dez eram rodoviários

Dos 18 dirigentes sindicais assassinados desde 1994, dez eram rodoviários, mortos na maioria dos casos em brigas pelo controle da máquina sindical. Outra representação de categoria marcada pela violência é a dos estivadores. Há meio século, os sindicatos da categoria controlavam os serviços de embarque e desembarque de cargas nos portos brasileiros. Em 1993, a Lei de Modernização dos Portos (Lei 8630-93) mudou o sistema, levando os sindicatos a uma violenta reação.

Em nove anos, 18 assassinatos

ALDAMIR: Em 24 de novembro de 2001, um motociclista atirou e matou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Energia do Rio, Aldamir Carlos dos Santos. Ele voltava para casa dirigindo, após reunião, e foi atingido ao parar num sinal.

FÉLIX E CANHOLA: Em 1 de novembro de 2001, o estivador Luiz Félix da Silva, principal oposicionista do sindicato da categoria no Porto de Paranaguá (PR), foi morto a tiros. Em 7 de março de 2000, outro integrante da oposição, Paulo Henrique Canhola, também fora assassinado. A polícia conseguiu prender os pistoleiros e chegar aos mandantes, os dirigentes do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá Antônio Carlos Bongato e Hélio Alves dos Santos.

MAURÍCIO: No dia 1 de novembro de 2001, o presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários de Guarulhos, Maurício Alves Cordeiro, foi baleado quando voltava do almoço.

BOTELHO: Em março de 2001, o então presidente do Sindicato dos Ferroviários, José Mendes Botelho, foi envenenado em sua sala, tomando um copo de água com cianeto, que teria sido colocada numa garrafa em sua geladeira.

SEBASTIÃO: No dia 20 de abril de 1998, o motorista de ônibus e membro da diretoria da CUT-RJ Sebastião Francisco de Lima, foi assassinado no ônibus da linha 760 (Curicica-Madureira), em que trabalhava. Tião Sem Medo, como era conhecido, costumava denunciar a máfia das empresas de ônibus nas assembléias do sindicato dos rodoviários.

RONALDO: No dia 15 de março de 1995, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Belford Roxo, Ronaldo Ferreira Pereira, foi morto com cinco tiros na sede do sindicato, disparados por Milson Laureano da Conceição. A polícia acusou o vice-presidente da entidade, Rubens Gonçalves Belo Júnior, de ter ordenado o crime.

DORVALINO: No dia 17 de março de 1995, o diretor do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de São Paulo, Dorvalino José dos Santos, foi assassinado em frente à garagem da empresa onde trabalhava. Era o mais atuante militante da Zona Sul.

OSWALDO: Em 6 de janeiro de 94, o ex-presidente do Sindicato dos Condutores do ABCD, Oswaldo Cruz Júnior, o Oswaldão, foi assassinado com quatro tiros, na sede do sindicato, pelo também sindicalista José Benedito de

Os Piqueteros surgem ao final da década de 90 e são um dos resultados diretos do aumento do desemprego provocado pelo programa de privatizações de empresas estatais, da abertura da economia e dos chamados ajustes do gasto público, que foram as políticas adotadas durante os dez anos de governo de Carlos Menem.

Os primeiros Piqueteros apareceram nas Províncias de Neuquén e Salta, após a privatização da exploração do petróleo que, em 1989, passou às mãos da empresa espanhola Repsol. Os espanhóis priorizaram a exportação do petróleo e fecharam refinarias, eliminando assim milhares de postos de trabalho.

Os desempregados e suas famílias, depois de anos de reivindicações, fizeram, como forma de protesto, piquetes com barricadas, para bloquear estradas de importância estratégica na região. A partir daí, essa prática se estendeu ao País inteiro e se transformou numa eficaz arma de luta para conseguir alimentos e os “Planos Trabalhar”, que consistem em tarefas comunitárias com o pagamento de cerca de 75 Dólares por mês.

Os Piqueteros têm sido reprimidos violentamente, em diversas ocasiões, tendo ocorrido dezenas de mortes. Muitos estão presos, dentre eles, dois dos seus líderes: Raul Castell e Emilio Ali, que foram processados por delito de intimidação pública e condenados a cinco anos de prisão. Dessa maneira, o Governo transforma em crime o direito fundamental de protesto.

À medida que sua luta se desenvolvia e se estendia, os Piqueteros foram se politizando e alcançando novos níveis de organização e de coordenação. Hoje, formam uma rede que se agrupa por zonas nos MTD – Movimentos de Trabalhadores Desempregados.

Em Mosconi, pequena cidade petroleira da Província de Salta, na Região Norte da Argentina, os trabalhadores desempregados se organizam em meio à crise provocada pelas privatizações, especialmente a da YPF. Para eles, o MTD se orienta na direção da satisfação das necessidades populares, como resposta à falência das instituições do Estado.

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