GTNM

 
 
 

Dossiês | militantes-politicos-mortos

Dossiês de Mortos e Desaparecidos Políticos

Triste memória a de um povo que tem que lembrar dos que morreram ou desapareceram sob o jugo de torturadores não confessos, não publicizados, não responsabilizados!

 

Cecília Coimbra e Flora Abreu consultando dossiês no Arquivo Público do Rio de Janeiro

 

> Militantes políticos Mortos

1975

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

Foi preso no dia 7 de julho de 1975 e morto no dia seguinte, sob tortura.

Tenente-Coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Segundo a versão oficial, José Ferreira teria se enforcado em sua cela. As circunstâncias da morte de José são idênticas às de Wladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI/SP a 25 de outubro do mesmo ano. O corpo apresentava sinais evidentes de tortura e, tal como Herzog, trazia dois sulcos no pescoço, para justificar a versão oficial, o que foi comprovado pela família e pelo advogado Luís Eduardo Greenhalgh ao abrirem o caixão entregue pelo DOI-CODI/SP.

Nos arquivos do DEOPS/SP foi encontrada uma única folha com o carimbo do DOPS e datada de 04 de novembro de 1975, que era um relatório sucinto de enfermaria com datas, prescrições e horários que se iniciam no dia 08 de julho de 1975, nome e idade do paciente sem referências a clínica, quarto ou leito. Acrescido ao impresso: “II Exército”. Nesta ficha, no dia 06 de agosto de 1975, na coluna medicamento lê-se: “entorse no tornozelo direito” e na coluna tratamento: “enfaixamento” e no dia 08 de agosto de 1975, na coluna medicamento, lê-se “suicidou-se”.

Isto só vem confirmar as suspeitas de que tenha sido morto após as torturas.

No relatório do Ministério da Marinha se lê: “foi morto em ação de segurança no dia 07de agosto de 1975. Era 2° T (RRn - PMSP), pertencia ao PCB”.

Sua necrópsia feita no Instituto Médico Legal/SP, em 12 de agosto de 1975, pelos drs. Harry Shibata e Marcos Almeida, confirma aversão oficial.

Depoimentos de presos políticos em Auditorias Militares, como os feitos por Carlos Gomes Machado e Atílio Geromin, à época, denunciaram as torturas sofridas por José.

Buscar no material digitalizado

Pedro Jerônimo de Souza

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).

Nasceu em 30 de junho de 1914, em Mutamba, município de Icapuí (CE), filho de José Gerônimo de Souza e de Catarina Evangelista de Souza.

Ainda jovem, foi residir em Fortaleza, trabalhando como viajante-vendedor a serviço de vários laboratórios farmacêuticos e em outras atividades ligadas ao comércio.

Nos anos 40, ingressou no PCB, tendo papel importante a partir de 1948 na reestruturação do Partido, após a cassação de seu registro. Foi da direção municipal e do Comitê Estadual do Ceará. Após o golpe Militar de 1964, já clandestino, Pedro foi tesoureiro do Partido durante vários anos.

Foi membro do Diretório do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em Fortaleza.

Em 11 de setembro de 1975, quando viajava em um ônibus num bairro de Fortaleza, foi preso e levado para o DOI-CODI/CE. Um amigo que viajava no mesmo ônibus, comunicou o fato à família. Depois de alguns dias seus familiares conseguiram visitá-lo.

No dia 17 de setembro de 1975, seus familiares foram informados por agentes do DOPS de Fortaleza de que teria se suicidado, dentro da cela em que se encontrava. O corpo apresentava diversos hematomas que, segundo os policiais, foram em conseqüência do modo como se suicidou: enforcou-se com uma toalha de rosto, que foi amarrada em um lugar de pouca altura, o que o forçou a debater-se contra as paredes e o chão da cela, para conseguir finalmente o seu intento.

Seis meses após sua morte, a família solicitou exumação do cadáver e o exame pericial constatou torturas, fazendo cair por terra a farsa do suicídio.

Outro fato significativo que desmascara a versão oficial foi apresentado pelo advogado Pádua Barroso ao mostrar a autópsia realizada no corpo de Pedro, que registra a existência de inúmeras fraturas ósseas, que não poderiam ter sido ocasionadas com o corpo se debatendo contra as paredes e o chão.

O deputado Alfredo Marques, do MDB, denunciou da tribuna da Assembléia Legislativa de Pernambuco, o tenente Horácio Marques Gondim, como um dos assassinos de Pedro.

Buscar no material digitalizado

Wladimir Herzog

Nasceu em Osijsk/Iugoslávia, filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog.

Foi morto aos 38 anos em São Paulo.

Jornalista, professor da Universidade de São Paulo e teatrólogo.

Acatando intimação feita pelo DOI-CODI/SP para que se apresentasse naquele departamento, Wladimir foi preso no dia 25 de outubro de 1975, acusado por possíveis ligações com o PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).

Nesse mesmo dia, Wladimir morreu em conseqüência das torturas sofridas.

Segundo a versão oficial, Herzog teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário que vestia desde sua entrada no DOI/CODI.

Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Leandro Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/CODI, Wladimir foi assassinado sob torturas. Tanto Leandro quanto Duque Estrada foram acareados com Wladimir, permanecendo logo após, próximos à sala onde ele se encontrava para interrogatório, e de onde ouviram com nitidez que Wladimir estava sendo torturado.

A morte por suicídio é também desmentida pelas próprias contradições existentes nos depoimentos dos médicos legistas Harry Shibata, Arildo de Toledo Viana e Armando Canger Rodrigues, prestados na ação judicial movida pela família. Esta ação terminou por responsabilizar a União pela prisão, tortura e morte de Wladimir Herzog.

O Relatório do Ministério da Marinha insiste na versão dos órgãos de segurança e diz que “suicidou-se no dia 23 de outubro de 1975, em São Paulo. O Relatório do Ministério da Aeronáutica afirma que “suicidou-se em 25 de outubro de 1975, por enforcamento, no interior da cela que ocupava no DOI-CODI do II Exército, segundo apurado em IPM e laudos elaborados pelos órgãos competentes da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.”

FOTOS DE HERZOG NA CÂMARA DE TORTURA PROVAM A INDIGNIDADE DA DITADURA MILITAR

VideVersus – 18/10/04

A edição deste domingo do jornal Correio Brasiliense, de Brasília, enfim apresenta provas cabais do que foi a indignidade da ditadura militar no Brasil. Agora está provado, insofismavelmente, que o jornalista Wladimir Herzog, antes de ser assassinado no Doi-Codi, em São Paulo, localizado na Rua Tutóia, foi humilhado de tudo quanto é jeito. As fotos mostram Wladimir Herzog nu, sentado em um estrado de catre em cela imunda do Doi-Codi. São três fotos que foram entregue pelo ex-cabo do Exército José Alves Firmino à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Elas registram o sofrimento de Herzog. Clarice Herzog, a viúva de Wladimir Herzog, ao ver as fotos, ficou muito emocionada e perturbada: "‘‘É ele mesmo. É o Vlado. Eu não tinha visto uma foto dele vivo na prisão. É horrível vê-lo assim, ainda mais em um situação sofrendo tanto constrangimento".

A MORTE DE HERZOG DECRETOU O FIM DA DITADURA MILITAR

A garotada de hoje, mas também muita gente adulta, não sabe o que foi a ditadura militar. Não sabe o que passaram milhões de brasileiros para liquidar com aquele período de falta de liberdade, de opressão, de total ausência de garantias individuais e sociais. A grande maioria, hoje, não sabe o que é viver em um regime em que falta a liberdade, a democracia. Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista Wladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, de São Paulo, apresentou-se na sede do Doi-Codi para prestar esclarecimentos sobre a sua atividade política. Herzog era filiado ao Partido Comunista Brasileiro. Ficou apenas uma noite nas mãos da repressão e foi barbaramente torturado. Os militares assassinos simularam seu suicídio, entregando à imprensa fotos do corpo de Herzog pendurado pelo pescoço à grade da cela por uma peça de roupa. Como Wladimir Herzog era judeu, o Shevra Kadish (comitê funerário judaico) recebeu o corpo e, ao prepará-lo para o funeral, o rabino percebeu que havia marcas de tortura no corpo do jornalista. o suicídio tinha sido forjado. Esse foi o sinal, porque Herzog foi enterrado dentro do cemitério judaico, e não do lado de fora dos muros, como a religião determina que seja feita com os suicidas.

REPRESSÃO AO PCB FOI ÚLTIMA TENTATIVA DA DITADURA PARA ESTENDER SUA DURAÇÃO

Wladmir Herzog não foi o único preso do PCB naquele período. A repressão atacou especialmente sobre os jornalistas que pertenciam ao PCB. Um dos presos, e muito torturado, foi o jornalista Paulo Markun, que era colega de Herzog na TV Cultura. Markun ainda atua lá. Outro foi Rodolfo Konder. E ainda Duque Estrada, que trabalhava na redação de O Estado de S. Paulo.

Essa onda da repressão foi desatada devido à aplastante vitória que o MDB havia conseguido nas eleições de 15 de novembro de 1974. A morte de Wladimir Herzog paralisou imediata e instantaneamente as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo. Os donos dos veículos de comunicação fizeram um acordo com os jornalistas. Todos trabalhariam apenas uma hora, para que os jornais e revistas não deixassem de circular, e as emissoras de rádio e televisão continuassem com suas programações.

O sindicato dos jornalistas, no centro de São Paulo, quase em frente à Igreja da Consolação, passou a viver em vigília permanente, sempre lotado. O enterro no cemitério judáico foi uma grande comoção. Uma semana depois, a boçalidade do general Ednardo D'Ávila Melo, comandante do II Exército, determinou o fechamento de todas as grandes avenidas de São Paulo, para que o povo não pudesse comparecer à cerimônia ecumênica na Catedral da Sé. Mesmo assim, milhares lotaram a igreja.

De todas as janelas de edifícios em torno da Praça da Sé empilhavam-se esbirros da ditadura, com máquinas de fotografia e de filmagem, tentando intimidar os manifestantes. Mal sabiam aquelas bestas que o limite do medo havia sido atingido. Ninguém mais se importava. Apesar disso, o estúpido general Ednardo D'Ávila Melo continuou dando suporte ao terrorismo da repressão. As prisões se intensificaram.

No dia 17 de janeiro de 1976, quase igual à morte de Herzog, foi assassinado também pelas bestas do Doi-Codi o operário comunista Manoel Fiel Filho. Aí, sim, deu para Ednardo, que foi demitido pelo ditador de plantão, Ernesto Geisel. Mesmo assim a ditadura dava outros arrancos de sobrevivência, com o Congresso Nacional sendo fechado em abril de 1977, e muitos parlamentares tendo seus mandatos cassados.

EX-COMPANHEIROS DE VLADO ACHAM QUE ELE FOI MORTO EM OUTRO LUGAR

Colega de Herzog na TV Cultura, onde desempenhava o cargo de Chefe de Reportagem, o jornalista Paulo Markun, também autor do livro "Vlado, retrato de um homem e de sua época", depois de olhar as fotos publicadas pelo Correio Brasiliense, declarou achar grande semelhança com seu antigo parceiro de redação: "Ele de fato tinha essa altura. As mãos são parecidas. Os cabelos. O nariz, não sei. É muito parecido. A única coisa que estranho são as circunstâncias dessas fotos". Ele acha que as fotos podem ter sido feitas fora da sede do Doi-Codi paulistano.

É o que também pensa o Secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda: "O Doi-Codi tinha celas com grades, não quartos, o que havia em um aparelho da repressão na periferia conhecido como Sítio 31 de Março. Ali, na sede do Doi-Codi, era possível aos demais presos ver quem entrava e saía. Quando se queria matar alguém, eles levavam para o sítio. Lá tinha uma casa com quartos, como esse das fotos".

JORNALISTA QUE FOI TORTURADO POR 15 DIAS CONTA COMO ERA O RITUAL

O jornalista Genivaldo Matias, preso no mesma ocasião, foi torturado durante 15 dias no Doi-Codi. Quando foi sequestrado, Genivaldo dividia o apartamento com o líder da juventude comunista José Montenegro de Lima (Magrão), dirigente do PCB assassinado depois do seqüestro, e integrante das listas de ‘‘desaparecidos’’ (não se sabe até hoje o paradeiro de seu corpo.

Genivaldo conta que os presos no Doi-Codi, antes de irem para o pau-de-arara ou a cadeira do dragão, onde recebiam choques elétricos, obedeciam a um ritual: "As pessoas chegavam, tiravam a roupa e eram obrigadas a usar um capuz. Depois disso, eles nos colocavam sentados em um banco e nos faziam esperar. A estratégia incluía esses momentos prévios de angústia, nos quais cada um esperava a sua hora". Em outra foto do arquivo entregue por José Alves Firmino aparece um homem morto, identificado como Nelson Francisco de Oliveira. As fotos estão coladas em folhas de papel, com legendas. Em uma delas, o morto aparece de corpo inteiro, ao lado de um pedaço de pau. Na legenda da foto retirada do Exército está escrito:: ‘‘Foto da vítima no local do crime em decúbito ventral. Ao lado, a arma do crime’’. Em outras duas fotos, closes do rosto. De sua boca, escorre uma grossa espuma, que desce por sua barba até o pescoço.

COMO OS DOCUMENTOS CHEGARAM ATÉ O CONGRESSO NACIONAL

Em 1994, já em pleno regime democrático (a ditadura acabou em 1985), o cabo José Alves Firmino foi incorporado à Subseção de Operações (SSop), da 2ªseção do Comando Militar do Planalto. Com uma média de 9,90 e conceito ‘‘Excelente’’, Firmino passou a atuar como agente infiltrado em partidos e movimentos de esquerda.

Com o falso nome de "Marcos Oliveira dos Santos" apresentava-se às vezes como estudante do Colégio JK, em outras oportunidades como jornalista. Já em plena democracia, ele espionava, a serviço do Exército, o PT, o PCB, o PCdoB e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em 1996 ele contraiu hanseníase e deixou de ser interessante para os arapongas do Exército. Começou então a se sentir marginalizado. No dia 13 de junho de 1997, informa em carta a sua disposição de entrar com uma representação judicial contra o Exército pelos danos físicos e morais causados pelas suas atividades: "infiltração no Partido dos Trabalhadores (PT) e infiltração no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), ligado ao PMDB".

Nesse mesmo mês, Firminou entrou nos arquivos do SSop, do Comando Militar do Planalto, e levou todos os documentos que podia carregar, e entregou-os à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Já se sabe que deputados não são, propriamente, dedicados ao trabalho. O que eles sabem fazer, e fazem muito, é conversar. Agora, manter documentos dessa ordem entocados, durante sete anos, sem sequer abrir os pacotes e as gavetas, bem, isso é o que se pode chamar de crime lesa-pátria e lesa-humanidade cometido pelos deputados. É extremamente criminoso deixar que tal documentação fosse examinada e trazida ao conhecimento da opinião pública por longos sete anos.  

Buscar no material digitalizado
Acesse também:

Mala Direta
Cadastre-se e receba informação sobre as atividades do GTNM e o movimento de luta pelos direitos humanos.

Redes Sociais
siga o GTNM