GTNM

 
 
 

Dossiês | militantes-politicos-mortos

Dossiês de Mortos e Desaparecidos Políticos

Triste memória a de um povo que tem que lembrar dos que morreram ou desapareceram sob o jugo de torturadores não confessos, não publicizados, não responsabilizados!

 

Cecília Coimbra e Flora Abreu consultando dossiês no Arquivo Público do Rio de Janeiro

 

> Militantes políticos Mortos

1973

MD_140

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN). Nasceu em 5 de outubro de 1950, em Sorocaba/SP, filho de José de Oliveira Leme e Egle Maria Vannucchi Leme.

Foi morto, aos 22 anos de idade, em São Paulo.

Fez o ginasial no Instituto de Educação Estadual Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, em Sorocaba/SP. Cursava o 4° ano de Geologia na USP quando foi assassinado. Foi preso por agentes do DOI/CODI-SP no dia 16 de março de 1973, por volta de 11 horas.As torturas inflingidas a Alexandre iniciaram-se assim que deu entrada nas dependências do DOI/CODI, tendo sido a equipe C a primeira a torturá-lo.

Tal equipe era chefiada pelo delegado de polícia conhecido pelo nome de “Dr. Jorge” e composta pelos seguintes elementos: escrivão de polícia Gaeta, tenente da PM Mário, investigador de polícia conhecido como “Oberdan” e o carcereiro do DOI/CODI conhecido como “Marechal”.

No dia seguinte, Alexandre foi torturado pelos membros da equipe A, chefiada pelo torturador de nome “Dr. José” e pelo investigador conhecido por “Dr. Tomé” e composta por: “Caio ou Alemão”, “Dr. Jacó”, “Silva”, “Rubens”, todos orientados diretamente pelo comandante daquele departamento, o então major Carlos Alberto Brilhante Ulstra.

As torturas prolongaram-se até pouco depois do meio-dia, tendo então Alexandre sido colocado na cela-forte.

Por volta das 17 horas, o carcereiro conhecido pelo nome de “Peninha”, foi retirá-lo da cela para levá-lo para mais uma sessão de tortura. Alexandre não respondia aos gritos do carcereiro que, intrigado, entrou na escura cela-forte e constatou que estava morto, saindo da cela aos gritos de “o homem morreu”. Os torturadores correram todos para ver o corpo de Alexandre e o retiraram da cela-forte, arrastando-o pelas pernas.

Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI/CODI naquele dia era brutal: Alexandre, sangrava abundantemente na região do abdômen.

A morte de Alexandre foi justificada pelos torturadores, perante a acusação dos demais presos, como tendo sido provocada por suicídio com auxílio de uma lâmina de barbear. Somente no dia 23 de março os órgãos de segurança divulgaram sua morte, com a notícia de que fora atropelado ao tentar fugir à prisão.

Tal versão foi desmentida categoricamente nos depoimentos prestados no mês de julho de 1973, perante a 1ª Auditoria Militar, pelos seguintes presos políticos: Luis Vergatti, Cesar Roman dos Anjos Carneiro, Leopoldina Brás Duarte, Carlos Vítor Alves Delamônica, Walkiria Queiroz Costa, Roberto Ribeiro Martins, José Augusto Pereira, Luís Basílio Rossi e Neide Richopo. Tais depoimentos foram citados pelo Ministro do STM Rodrigo Otávio Jordão Ramos no dia 26 de abril de 1978.

Como a nota oficial só foi divulgada vários dias após o assassinato de Alexandre, sua família só pode localizar o corpo quando este já se encontrava enterrado. Detalhe bastante significativo é que Alexandre fora enterrado sem qualquer espécie de caixão, em cova rasa e forrada de cal-virgem, a fim de que a decomposição do corpo fosse acelerada e apagadas as marcas evidentes das torturas que o levaram à morte.

Um fato importante que evidencia a farsa montada para encobrir o assassinato de Alexandre sob tortura é a declaração do delegado Sérgio Fleury à família Vanucchi Leme que, em evidente e cínica confissão de “fracasso” dizia “não ter sido possível obter de Alexandre sequer o local de sua própria residência”. Segundo o livro “Gritos de Justiça”, de Mário Simas, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, seus pais, em 20 de março de 1973, receberam um telefonema anônimo informando que Alexandre se encontrava preso no DOPS/SP. Lá e em outros órgãos da repressão onde o procuraram sempre ouviram negativas. Dias depois, quando sua morte já havia sido publicada pela imprensa, no IML/SP, foram informados que havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus.

Apesar de haverem constituído advogado imediatamente após a notícia de sua prisão, somente 10 anos depois puderam resgatar seus restos mortais. Foi instaurado um inquérito pelo DEOPS para apurar a morte de Alexandre e encaminhado para a 2ª Auditoria Militar, onde o Juiz Auditor Nelson da Silva Machado Guimarães encaminhou para o Comandante do II Exército e, como era de se esperar, foi arquivado sem solução.

A necrópsia, feita no IML/SP, em 22 de março de 1973, pelos Drs. Isaac Abramovitch e Orlando Brandão, confirma a falsa versão oficial publicada de que teria se atirado sob um veículo, sofrendo contusão na cabeça. A certidão de óbito, falsamente atesta sua morte em 17 de março de 1973, após atropelamento na Rua Bresser (SP), quando era levado ao Hospital das Clínicas.Em 1983, finalmente os restos mortais de Alexandre foram trasladados para Sorocaba, sua terra natal.

Alguns trechos de matéria sobre ele publiclado no “O Jornal do Campus/USP’:

“Desde muito cedo revelou inteligência viva, muito aberta a todos os conhecimentos humanos. Interessava-se por tudo e, assim que foi alfabetizado, foi tomado por um gosto enorme pela leitura. Não parou mais de ler. Só depois de sua morte, seus pais souberam que Alexandre fora classificado em 1° lugar no vestibular para a Geologia da USP. Era um típico sorocabano, caipirão. Andava sempre com umas botinhas de cano curto, calças curtas. Era um nativo. Cara gozador, colocava apelido na escola inteira. Tirava um sarro de todo o mundo que não se adaptava às condições de campo nas excursões da Geologia. Cara que não conhecesse passarinho, cobra e história de assombração, ele pegava no pé do coitado. Uma antiga tradição da Geologia, da USP, reza que todo calouro deve receber um apelido. Alexandre ficou conhecido como Minhoca, talvez por ser baixinho, franzino e pelo grande interesse que demonstrou pela profissão. Tinha uma coisa que ele gostava de fazer: traduzir artigos estrangeiros sobre filosofia, política, economia. Ele já estava se especializando em teorias economicas do 3° mundo, questões do subdesenvolvimento ou análise da história da pobreza. Partilhava de todas as lutas comuns aos estudantes da época: contra o ensino pago, contra a falta de verbas, contra o fechamento do CRUSP. Por outro lado, como estudante de Geologia, foi extremamente preocupado com a questão dos recursos naturais do país devastados pelo capital estrangeiro. Sobre o ciclo da exploração do ferro, editou um boletim especial do Centro Acadêmico da Escola, no qual enumerava as principais jazidas e empresas exploradoras. Tomou posição contra a Transamazônica, do modo como estava sendo feita. E passou a fazer, junto com outros colegas, exposições e palestras em outras faculdades e escolas do 2° grau. Ninguém viu Alexandre ser preso, mas no dia 16 de março de 1973, ele já estava sendo torturado na Operação Bandeirantes (DOI-CODI/SP). Seus gritos o testemunhavam. Para a cela, voltou carregado da sala de torturas. Ainda pode dizer aos outros presos: “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme, sou estudante de Geologia, me acusam de ser da ALN... eu só disse meu nome... No final da tarde do dia 17, os presos foram obrigados a ficar no fundo das celas, de costas. Mesmo assim, puderam ver um corpo ser arrastado, espalhando sangue por todo o pátio da carceragem. Alexandre fora assassinado. No dia 30 de março de 1973, foi celebrada uma missa, na Catedral da Sé, por D. Paulo Evaristo Arns com a presença de 3 mil pessoas que chegaram até a Igreja, apesar da intensa repressão policial. No dia seguinte, 31 de março, o governo comemorou o aniversário do Golpe de Estado de 64, a seleção brasileira jogou, as Forças Armadas marcharam e o general Médici discursou. A nota oficial de sua morte divulgada pelos órgãos de segurança nacional e publicada na grande imprensa informava que Alexandre era terrorista, membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) - dissidência do PCB que tentou a luta armada - e morreu atropelado. As práticas terroristas das quais foi acusado, ocorreram quando Alexandre convalescia de uma operação de apendicite conforme testemunhou seu médico, Dr. Cássio Rosa; ou quando assistia às aulas, como testemunharam colegas e professores. Os presos políticos na época, declararam ao Superior Tribunal Militar que foram testemunhas da morte de Alexandre Vannucchi Leme nas dependências da Operação Bandeirantes, sob torturas. Mesmo diante de tantas provas, o caso foi arquivado. O Ministro Rodrigo Otávio Jordão tentou reabri-lo em 1978, mas seu voto foi vencido por 13 a 1.”

Buscar no material digitalizado
MD_141

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO REVOLUCIONÁRIO (PCBR).

Nasceu no dia 24 de maio de 1950, em Recife, Pernambuco, filho de João Custódio de Lima e Maria de Lourdes Custódio de Lima.

Estudante secundarista da Escola Técnica Federal de Pernambuco.

No Rio de Janeiro, trabalhou como operário metalúrgico da ALUFERCO.

Foi morto em 27 de outubro de 1973, junto com Ranúsia Alves Rodrigues, Vitorino Alves Moitinho e Ramires Maranhão do Vale. Todos os quatro foram presos em circunstâncias até hoje desconhecidas, e levados para a Praça da Sentinela, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, onde foram carbonizados dentro de um carro.

O documento de informação do Ministério da Aeronáutica de 22 de novembro de 1973, de n° 575, encontrado no arquivo do antigo DOPS/SP, diz:

“Dia 27 de outubro de 1973, em tiroteio com elementos dos órgãos de segurança da Guanabara, foram mortos os seguintes militantes do PCBR: Ranúsia Alves Rodrigues, Ramirez Maranhão do Vale, Almir Custódio de Lima e Vitorino Alves Moitinho.”

Esse documento desmente, portanto, a versão oficial daquela época de que haviam sido encontrados num carro em chamas, provavelmente como resultado de briga entre quadrilhas, permitindo identificar dois desaparecidos Ramirez e Vitorino.

O corpo de Almir entrou no IML/RJ com a Guia n° 17 do DOPS como desconhecido, carbonizado, sendo necropsiado pelos Drs. Hélder Machado Paupério e Roberto Blanco dos Santos, em 28 de outubro de 1973.

A perícia de local de n°947/73, realizada pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, em 27 de outubro de 1973, dá como homicídio ocorrido na circunscrição da 32ª D.P.

O óbito de Almir, de n° 17.412, é de um homem desconhecido, tendo como causa mortis carbonização, sendo declarante José Severino Teixeira. Almir foi enterrado como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque em 31 de dezembro de 1973, na sepultura n° 29.230, quadra 23. Em 02 de abril de 1979 seus restos mortais foram para um ossário geral e em 1980/81, foram colocados em uma vala clandestina nesse Cemitério.

No arquivo do DOPS/RJ, foi encontrado documento do I Exército, informação n° 2805, de 29 de outubro de 1973, que narra o cerco feito aos quatro desde o dia 08 de outubro de 1973. Esse cerco culminou com a prisão de Ranúsia na manhã do dia 27 de outubro. Há nesse documento, interrogatório e declarações de Ranúsia no DOI-CODI/RJ. O documento fala de farta documentação encontrada com Ranúsia e da morte dos 4 militantes, dando-lhes os nomes completos. Termina da seguinte forma: “A imprensa da Guanabara noticiou o acontecimento da Pça. Sentinela, com versões colhidas na 32ª D.P. O DOPS/GB instaurou ‘investigação policial’, cuja conclusão demorará bastante, inclusive pela dificuldade de identificar oficialmente os terroristas cujos corpos foram carbonizados. Por tudo isto, e mais pela continuidade da ação, já que há mais onze subversivos cujos passos permanecem vigiados na esperança de registrar o encontro PCBR-ALN, esta Agência achou por bem não permitir a divulgação de nota alguma para o público externo sobre o fato”.

A imprensa carioca simplesmente noticiou a morte de dois casais em Jacarepaguá. O “Jornal do Brasil” de 29 de outubro de 1973, à página 4, na matéria “Polícia especula, mas nada sabe ainda sobre os casais executados em Jacarepaguᔠe “O Globo”, de 29 de outubro de 1973, à página 20, na matéria “Metralhados Dois Casais em Jacarepaguá”, não citam os nomes dos mortos. A mesma coisa ocorre na matéria da Revista “Veja”, de 07 de novembro de 1973, “Quem Matou Quem?”. Somente em 17 de novembro de 1973, tanto em “O Globo”, quanto no “Jornal do Brasil”, respectivamente, sob os títulos “Terroristas Morrem em Tiroteio com as Forças de Segurança” e “Terroristas São Mortos em Tiroteio” é que foram publicados os nomes de Ranúsia e Almir. Apesar de ter sido reconhecida oficialmente sua morte, Almir foi sepultado como indigente desconhecido.

Nos arquivos da Secretaria Estadual de Polícia Civil do Rio de Janeiro o Registro de Ocorrência da 32ª D.P., de n° 4.041, feito às 22:00 horas do dia 27 de outubro de 1973, comunica um incêndio no carro placa VW/AA-6960 e informa: “No local já se encontrava o Comissário Kalil, de plantão no DOPS, que esclareceu ser a dita ocorrência de interesse de seu Departamento e já se encarregara das providências exigidas pelo fato...”

Os Relatórios dos Ministérios da Marinha e da Aeronáutica falam de morte em tiroteio ao resistir à prisão e esquecem-se do fato de haverem sido carbonizados. O Relatório do Exército sequer cita o nome de Almir. Qual a intenção dos órgãos de repressão ao carbonizar seus corpos? Esconder marcas de tortura? Ocultar cadáveres?  

Buscar no material digitalizado

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO REVOLUCIONÁRIO (PCBR)

Nasceu em 9 de julho de 1945, em Mombassa, no Município de Martins, atual Frutuoso Gomes, no Rio Grande do Norte, filha de Nicácio Loia de Melo e Maria Pereira de Melo.

Era tímida, calada e gostava de estudar. Concluiu o curso científico no Colégio Estadual de Mossoró, cidade onde residiu até 1969, ano em que se casou com Luiz Alves Neto.

Até 1968 trabalhou na Cooperativa de Consumo Popular, revelando forte espírito de ajuda e solidariedade.

Juntamente com o marido, mudaram-se para Recife, passando a militar no PCBR.

Sua atuação política foi na Zona da Mata (PE), junto às Ligas Camponesas.

Foi presa juntamente com seu marido, no dia 17 de dezembro de 1972. Ambos foram levados ao DOPS de Recife, em 13 de janeiro de 1973,onde foram torturados desde o primeiro instante.

Foi encontrada morta, carbonizada, na cela, no dia 22 de janeiro de 1973. Não se sabe ao certo como ocorreu sua morte, a versão oficial é de suicídio.

Buscar no material digitalizado
MD_143

Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em Ouro Preto, no dia 2 de março de 1948, filho de Adolfo Bicalho Lana e Adalgisa Gomes de Lana em uma família de muitos filhos.

Fez o curso primário no Grupo Escolar D. Pedro II e o ginasial na Escola Municipal Marília de Dirceu, em Ouro Preto, onde começou o científico que não foi concluído.

Passou a atuar no movimento estudantil na década de 60, participando em Ouro Preto de um grupo de militantes formado por estudantes secundaristas, universitários e operários. Filiado à Corrente, transferiu-se para Belo Horizonte, onde morou de 1969 a 1970 e, mais tarde, passou a militar na ALN, da qual foi um dos seus dirigentes. Também conhecido como Cristiano, Cal e Mateus, Antônio Carlos dedicou-se inteiramente à luta armada.

No início de 1969, diante das prisões, torturas e assassinatos de seus companheiros, Antônio Carlos percebeu a dureza do combate em que se engajara. Firme em suas convicções, deslocou-se para o Rio de Janeiro e, mais tarde para São Paulo, por meio da ALN, cumprindo na clandestinidade várias tarefas importantes dentro da organização e em vários pontos do país. No dia 14 de junho de 1972 escapou ferido com 3 tiros de um massacre feito pelo DOI-CODI/SP, quando morreram Iuri Xavier Pereira, Marcos Nonato da Fonseca e Ana Maria Nacinovic Correia.

Foi preso em novembro de 1973, no Posto Rodoviário, no Canal 1, em Santos, junto com sua companheira Sônia Maria Moraes Angel Jones. Na hora da prisão, Antônio Carlos foi agredido por vários policiais tendo recebido uma coronhada de fuzil na boca.

A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança, no dia 30, dava a informação de que Antônio Carlos e Sônia haviam morrido em conseqüência de um tiroteio em Santo Amaro, São Paulo. Testemunhas da prisão de Antônio Carlos e Sônia atestam que os dois foram presos, em Santos, com vida, em meio à grande pancadaria para detê-los.

Conforme depoimento de Marival Dias Chaves do Canto, do DOI-CODI/SP, à revista “Veja” de 18 de novembro de 1992, Antônio Carlos e Sônia foram levados a um centro clandestino da repressão, localizado num sítio na zona sul de São Paulo, onde foram torturados e assassinados com tiros no tórax, cabeça e ouvido. Depois, seus corpos foram colocados no porta-malas de um carro e levados até o bairro de Santo Amaro, em São Paulo, onde foi encenada a farsa de um tiroteio para simular as mortes.

O corpo mutilado de Antônio Carlos foi autopsiado pelos legistas Harry Shibata e Paulo Augusto de Queiroz Rocha, que descreveram as trajetórias das balas, sem nada falar sobre os sinais evidentes de torturas, como comprovam as fotos encontradas no DOPS/S, confirmando a versão oficial. Shibata confessou que registrou em seu exame técnicas de necrópsia apenas por uma questão de praxe, sem ter realizado de fato a operação. Esse depoimento consta dos anais da CPI da Câmara Municipal de São Paulo, sobre a Vala de Perus.

Para os Relatórios dos Ministérios da Marinha e da Aeronáutica permanece a versão falsa de que morreu após tiroteio com órgãos de segurança. O relatório do Exército sequer se refere a seu nome, apesar de terem sido os seus organismos responsáveis por sua prisão, tortura e morte.

Seus restos mortais foram exumados em 1990, com o apoio do governo municipal de Luiza Erundina, identificados pela UNICAMP e trasladados para Ouro Preto, em 16 de agosto de 1991.

Buscar no material digitalizado
MD_144

Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Filho de Annette Cardoso Rocha e João de Deus Rocha, nasceu em Belo Horizonte, no dia 28 de março de 1949.

De uma família com 9 irmãos, onde reinava o respeito, o carinho e sobretudo a alegria na casa cheia de amigos, com os almoços domingueiros regados a discussão política e cerveja, quando se reuniam todos.

Foi um menino como os demais. Cursou o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginásio no Colégio Padre Machado.

Arnaldo era um garoto alegre, carinhoso com os pais e os irmãos.

Ex-soldado do exército, trabalhou no Colégio Militar, na Pampulha.

Já no Colégio, iniciou sua militância política no PCB. Não concluiu o 2° grau em razão dos rumos que o movimento estudantil tomou, a partir da repressão política.

Com relação a sua militância política era bastante reservado, segundo depoimento de sua mãe.

Ao deixar o PCB, juntamente com outros jovens, participou da CORRENTE e mais tarde integrou-se à ALN.

A partir daí foi para a clandestinidade e começaram as fugas, os paradeiros incertos. Já casado com Iara Xavier Pereira, e apesar dos momentos difíceis da luta, Arnaldo não perdeu o jeito doce de viver o cotidiano, participando e dividindo com a esposa as tarefas e afazeres de casa, cultivando, sempre que possível, os hábitos familiares e conservando o seu jeito mineiro de ser. Perseguido pela repressão, em l972 foi para o exterior, onde permaneceu pouco tempo, recusando-se a ficar longe do Brasil e da luta.

Arnaldo foi assassinado, aos 25 anos, em São Paulo, no dia 15 de março de 1973, na Rua Caquito, altura do número 300, no Bairro da Penha, juntamente com Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okano, numa emboscada montada pelos agentes do DOI-CODI/SP.

O laudo necroscópico foi assinado pelo médicos legistas Isaac Abramovitch e Orlando Brandão.

Sua família soube da notícia pela televisão, viajou para São Paulo conseguindo trasladar o corpo para que fosse enterrado em Belo Horizonte, no Cemitério Parque da Colina.

Segundo depoimento de sua mãe à época de sua morte, Arnaldo escrevia um livro, mas não sabe o que foi feito dele.

Arnaldo tinha um sonho: ter filhos, muitos filhos. Teve tempo de ter apenas um, Arnaldo Xavier Cardoso Rocha, nascido a 5 de setembro de 1973 de sua união com Iara, que com 20 anos, estudante de Engenharia Florestal em Viçosa/MG, faleceu tragicamente, em 1994.

Buscar no material digitalizado
MD_145

Militante do PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO (PCR).

Nasceu a 17 de junho de 1943 na praia de Caiçara -Município de São Bento do Norte/RN, filho de Luis Elias e Joana Elias.

Lider estudantil do Colégio Atheneu, foi presidente da Casa do Estudante. Cursava a antiga Faculdade de Sociologia, na Fundação José Augusto, onde destacou-se nos estudos do marxismo-leninismo e economia política. Organizou a bancada dos estudantes potiguares para o histórico congresso da UNE, em IBIÚNA-SP, onde foi preso com os demais companheiros. Foi enquadrado no decreto 447 da ditadura militar, e expulso da Faculdade.

Foi a principal liderança do Comitê Universitário do PCR no Rio Grande do Norte. Viveu de 68 a 73 nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Realizou viagens ao Chile e Argentina em nome do PCR.

Emanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura foram presos em Recife/PE, no dia 16 de agosto e torturados no DOPS daquele estado durante alguns dias. O policial que os prendeu e torturou, Luis Miranda transferiu-os para o delegado Sérgio Fleury, do DOPS/SP onde foram trucidados no 3° andar. As fotos do Instituto Médico Legal mostram um corte no lábio inferior produzido pelas torturas, que o legista Harry Shibata afirmou ser fruto de um tiro. Segundo denúncia dos presos políticos Emanuel foi morto sob torturas no DOI/CODI-SP, onde o mutilaram, arrancando-lhe os dedos, umbigo, testiculos e pênis.

Dois meses depois desses assassinatos, o Delegado Sérgio Fleury transfere ao torturador Luis Miranda, José Carlos Novaes da Mata Machado e Gildo Macedo Lacerda para serem torturados no DOPS/Recife, mortos em outubro de 1973.

A versão dos órgãos de segurança é de que Emanuel e Manoel teriam morrido em tiroteio com a polícia no Largo de Moema, em São Paulo, no dia 4 de setembro de 1973. Nesse suposto tiroteio, um teria matado o outro.

Assinaram o laudo de necrópsia os médicos legistas Harry Shibata e Armando Canger Rodrigues. Foi enterrado como indigente no Cemitério de Campo Grande/SP. Em 13 de março de 1992, seus restos mortais, depois de exumados e periciados pela UNICAMP, foram trasladados para a sua terra natal.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que ele “morreu no dia 4 de setembro de 1973, em confronto com agentes dos órgãos de segurança em Moema/SP. Mesmas circunstâncias da morte de Manoel Lisboa de Moura”. Já o Relatório do Ministério da Marinha afirma que foi “preso em Recife/PE em agosto de 1973. Trazido para São Paulo declarou estar aguardando a chegada de outro subversivo do exterior. No momento do encontro, os agentes deram voz de prisão, porém o recém-chegado reagiu a tiros, seguindo-se intenso tiroteio; os dois faleceram a caminho do Hospital das Clínicas.”

Buscar no material digitalizado
MD_146

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nascido a 1 de outubro de 1947, no Estado da Bahia, filho de João Gomes da Silva e Izaura Gomes da Silva.

Estudante de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, membro do Diretório Central dos Estudantes, durante o ano de 1968, e presidente do Diretório Acadêmico de sua Faculdade.

Banido do Brasil, em 15 de junho de 1970, por ocasião do seqüestro do embaixador da Alemanha, Von Holleben, com mais 39 presos políticos.

Retornando ao Brasil clandestinamente, foi morto no dia 7 de janeiro de 1973 juntamente com Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva e Soledad Barret Viedma em uma chácara no loteamento de São Bento, no município de Paulista, em Pernambuco. O caso é conhecido como Massacre da Chácara São Bento.

Os torturadores e assassinos crivaram de balas os cadáveres dos seis combatentes, jogaram várias granadas na casa da referida chácara, com o objetivo de aparentar um violento tiroteio, dizendo que lá se realizava um suposto congresso da VPR. Na versão oficial, constava que José Manoel da Silva teria sido preso e conduzido os policiais até o local onde se realizava o congresso, sendo morto pelos próprios companheiros durante a invasão. No tiroteio travado, teria conseguido escapar Evaldo Luís Ferreira de Souza que, no dia seguinte, foi localizado no município de Olinda, numa localidade chamada “Chã de Mirueira” - Jatobá, e ao resistir à prisão, teria sido morto. Segundo ainda a nota, só Jarbas Pereira Marques teria morrido no local, sendo que os outros morreram, em conseqüência dos ferimentos recebidos.

Na realidade, todos foram presos pela equipe do delegado Sérgio Fleury, que os torturou até a morte, na própria chácara.

As prisões e conseqüentes assassinatos foram fruto do trabalho do informante infiltrado na VPR, ex-cabo Anselmo e, para encobrir sua ação, bem como possibilitar que ele pudesse levar à morte outros combatentes, a nota oficial falava da traição de José Manoel que teria possibilitado a localização e aniquilamento dos demais, dando ainda a notícia de que um outro “terrorista”, não identificado, teria conseguido fugir na hora da invasão. Esse fato foi noticiado exatamente para tentar dar cobertura à continuação do trabalho de infiltração do assassino ex-cabo Anselmo.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que “faleceu em 8 de janeiro de 1973, em Recife/PE, ao reagir a ordem de prisão, travando intenso tiroteio com agentes dos órgãos de segurança, vindo a falecer em conseqüência dos ferimentos. Mesma circunstância da morte de Pauline Philipe Reischstul.” Já o Relatório do Ministério da Marinha afirma que “foi morto em Paulista/PE, em 8 de janeiro de 1973 ao reagir a tiros à voz de prisão dada pelos agentes de segurança. Do intenso tiroteio resultaram vários feridos.”

Buscar no material digitalizado
MD_147

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu no Estado do Rio Grande do Sul, em 5 de junho de 1942, filho de Favorino Antonio de Souza e Maria Odete de Souza.

Muito jovem entrou para Marinha de Guerra, engajando-se no movimento dos marinheiros. Com o golpe de 1964, foi expulso pelo Ato Ministerial nº 365/64, devido à sua atuação na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil.

Foi preso e morto sob torturas juntamente com outros companheiros no dia 07 de janeiro de 1973.

Ver nota referente a Eudaldo Gomes da Silva.

Buscar no material digitalizado
MD_148

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em Taquaritinga, São Paulo, a 29 de dezembro de 1952, filho de Francisco Santa Cruz Negreiros Penteado e Nadir Pereira Pinto. Estudante secundarista.

Teve prisão preventiva decretada em 23 de outubro de 1972.

Foi assassinado no dia 15 de março de 1973, na Rua Caquito, n° 300, no bairro da Penha, São Paulo, juntamente com Arnaldo Cardoso Rocha e Francisco Seiko Okamo, por agentes do DOI-CODI/SP.

O laudo de necrópsia foi assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovitch e Orlando Brandão.

Seu sepultamento foi feito pela família no Cemitério Ghethessêmani, em São Paulo, no dia 16 de março de 1973.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que “faleceu em 15 de março de 1973, em tiroteio com agentes dos órgãos de segurança no bairro da Penha/SP”. O Relatório do Ministério da Marinha diz que “foi morto em tiroteio com agentes dos órgãos de segurança na Penha, São Paulo.”

Buscar no material digitalizado
MD_149

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nascido em São Carlos, Estado de São Paulo, filho de Masahare Okama e Nabe Okama. Era operário metalúrgico.

Assassinado aos 25 anos, no dia 15 de março de 1973, na Rua Caquito, n° 300, no bairro da Penha, em São Paulo, juntamente com Arnaldo Cardoso Rocha e Francisco Emanoel Penteado, por agentes do DOI-CODI/SP.

Francisco, apesar de ferido na emboscada, tentou a fuga, tendo sido metralhado pelas costas, poucos metros adiante do local onde tombaram seus companheiros.

O laudo necroscópico foi assinado pelo médicos legistas Isaac Abramovitch e Orlando Brandão.

Foi enterrado no Cemitério de Mauá por seus familiares.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica e o do Ministério da Marinha trazem a mesma versão, conforme descrito no caso de Evaldo Luis Ferreira de Souza.

Buscar no material digitalizado
MD_150

Militante da AÇÃO POPULAR MARXISTA-LENINISTA (APML).

Nasceu na cidade de Ituiutaba, município de Veríssimo, no Triângulo Mineiro, em 8 de julho de 1949, numa família de pequenos sitiantes.

Filho de Cé1ia e Agostinho Nunes Lacerda mudou-se muito cedo, com sua família, para Uberaba.

Estudou no Colégio Triângulo, Escola Normal e Colégio Dr. José Ferreira, onde foi presidente do Grêmio Central Machado de Assis. Foi membro ativo e diretor do Círculo de Estudos da União da Mocidade Espírita, do Departamento de Evangelização da Criança, do programa radiofônico “Hora Espírita Crist㔠e orador da Mocidade Espírita Batuíra.

Fazia o programa radiofônico “Ondas de Luz” da Comunidade Espírita de Uberaba, em que refletia sobre a obra de Allan Kardec e Francisco Cândido Xavier.

Nos anos de 1965/1966 fez teatro amador em Uberaba, participando como sócio ativo do NATA - Núcleo Artístico de Teatro Amador.

Nesse mesmo período, ainda secundarista, foi orador oficial da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil (PUE).

Em 1967, já como ativista da Ação Popular (AP) no movimento estudantil, Gildo transferiu-se do Colégio “Dr. José Ferreira” para Belo Horizonte, onde fez o 3° Científico integrado ao pré-vestibular.

Gostava de se corresponder com estrangeiros, sempre em francês. Em suas cartas descrevia a situação política do País e a luta dos estudantes contra a dominação econômica e cultural dos Estados Unidos.

Suas preferências eram: no teatro, Tchecov; na música, Antônio Carlos Jobim, Gilbert Bécaud e Frank Sinatra; na poesia, Vinícius de Moraes, Moacyr Felix, Carlos Drummond de Andrade, Thiago de Mello, Pablo Neruda, Evtuchenko e Paul Claudel.

Em 1968, prestou o concurso vestibular, ingressando na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da Universidade Federal de Minas Gerais. Pouco tempo depois, devido à intensa militância, foi excluído da Universidade com base no Decreto-Lei 477, editado em fevereiro de 1969, pelo General Costa e Silva.

Transferiu-se para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, já atuando na clandestinidade e buscando fugir às perseguições impostas pela ditadura militar.

Foi eleito Vice-Presidente da União Nacional dos Estudantes durante a gestão 69/70, na última diretoria, antes da desarticulação total da entidade pelas forças da repressão.

Deslocou-se, em 1972, para Salvador, Bahia, e fazia parte da Direção Nacional da Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Pouco antes de ser preso, Gildo esteve em Uberaba – no auge da ditadura Médici – em companhia de Mariluce, sua mulher, descansando no sítio da família, próximo a Veríssimo.

A sua última carta para os familiares foi datada de 17 de setembro de 1973. Nesta missiva, ele manifestou sua preocupação por não receber cartas da família, acreditando em extravio de correspondência. Falou, ainda, de seu trabalho, do salário melhor, da saudade de todos e de uma próxima ida a Uberaba, no final do mês, despedindo-se com um até breve.

Gildo e Mariluce Moura, sua mulher, foram presos no dia 22 de outubro de 1973, em Salvador, no Quartel do Barbalho, pelo Exército e, imediatamente, conduzidos às câmaras de tortura. Malu, grávida, foi libertada alguns dias depois, e não mais o viu. Gildo foi transferido para o DOI-CODI de Recife onde foi torturado até a morte, no dia 28 de outubro de 1973, quando tinha 24 anos de idade.

Os órgãos de segurança noticiaram, no dia 19 de novembro de 1973, que Gildo, ao ser interrogado, teria fornecido a informação do local onde se encontraria com José Carlos Novaes da Mata Machado e com um terceiro elemento de nome Antônio. Chegando ao local do encontro, teria havido um tiroteio onde “Antônio” teria matado Gildo e José Carlos teria sido morto em conseqüência de tal incidente.

A versão oficial, além de encobrir os assassinatos sob tortura de Gildo e José Carlos, tentou encobrir a prisão e posterior desaparecimento de Paulo Stuart Wright, quando se referiu ao Antônio, que teria conseguido fugir.

Sua família luta, incessantemente, até hoje, pela localização de seus restos mortais, por um sepultamento digno e para que a União assuma a responsabilidade por sua morte. Ainda segundo a nota oficial, Gildo e José Carlos teriam sido baleados na Avenida Caxangá com a Rua General Polidoro, no Recife.

Passados 21 anos, soube-se por Gilberto Prata Soares, antigo militante da década de 70 que se transformou em informante dos órgãos de repressão, mais detalhes sobre os presos. Tessa, com 21 anos, filha de Gildo, que não chegou a conhecer o pai, mora hoje em São Paulo, com sua mãe Mariluce. No Relatório do Ministério da Marinha consta como “morto em tiroteio por agentes de segurança em Recife/PE em 1° de novembro de 1973.”

Depoimento da mãe de Gildo, Célia Garcia Macedo Lacerda:

“Meu saudoso filho, Gildo Macedo Lacerda, foi um moço notável, simpático e justo, empreendedor e dinâmico. Vivia sempre rodeado de bons amigos e por onde passava ia sempre conquistando novas amizades, isto graças à sua afabilidade, ao seu coração magnânimo, à sua grandeza de alma. Era amigo da Paz e da Justiça. Seu maior desgosto era ver alguém ser pisoteado sofrendo calamidades injustamente. Era possuidor de um coração generoso e nobre, vivia sempre dando o melhor de si em prol da comunidade. Ficamos arrasados com tudo o que acontecou com o nosso querido Gildo. Ficamos também decepcionados com o cinismo por parte dos seus algozes e pelo consentimento daquele governo déspota. Gildo morreu como morrem todos os heróis, de cabeça erguida e consciência tranquila. Seu desaparecimento foi uma perda irreparável, não só para nós os seus familiares, como para toda a nação. Sentimos até hoje uma incomensurável falta da sua presença amiga, bondosa, com toda aquela gentileza que lhe era muito peculiar. Como também sentimos a falta de seu apoio, ele era o nosso arrimo, o nosso braço direito. Era ele quem nos orientava, nos aconselhava, resolvendo os problemas com acerto, com a orientação dele, tudo dava certo. Estou escrevendo com as lágrimas a escorrer-me pelas faces, pois, até hoje eu sinto uma dor intensa, arraigante, a corroer-me as mais profundas entranhas da alma. E esta dor eu sei que me acompanhará até ao túmulo, por ter perdido o meu querido e amado filho que foi vítima fatal da sanha daqueles bárbaros desumanos, como tantos outros, brutalmente assassinado. Mas, não desejo mal a eles, entrego para Deus; somente a Deus compete dar a punição que esses pobres infelizes merecem.”  

Buscar no material digitalizado
MD_151

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Filho de Geraldo Goulart do Nascimento e de Jandira de Souza Gomes, nasceu em Mariana, Minas Gerais, no dia 19 de setembro de 1944.

Tinha duas irmãs, Maria do Carmo e Elba que se lembram, com saudades, do Helber criança: passivo, quieto, que gostava de escrever, ler, gostava especialmente, de “Quarup” e “Bar Don Juan” de Antonio Callado.

Apreciava música erudita e música popular brasileira. Estudou até a segunda série ginasial em Mariana, no Ginásio Dom Frei Manoel da Cruz, da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade/CNEC. Apesar de sua pouca escolaridade, Helber era um rapaz de vasta cultura por sua vivência e muitas leituras.

Começou a trabalhar muito cedo: aos 11 anos, entregando jornais; aos 13 anos, no escritório da fábrica de tecidos de Mariana e, pouco depois, como datilógrafo, na Prefeitura. Foi para São Paulo em 1961, com 17 anos, em busca de melhores condições de trabalho, lá permanecendo até 1963.

Iniciado na luta política através de seu pai, antigo membro do Partido Comunista Brasileiro/PCB, nesse mesmo ano juntou-se ao “Grupo dos Onze”.

Após o golpe de 1964, Helber foi julgado na Auditoria Militar, de Juiz de Fora e, em seguida, mudou-se para o Mato Grosso, para trabalhar na construção da Hidrelétrica de Urubupungá, como apontador. Revoltou-se profundamente com as péssimas condições de trabalho e segurança a que eram submetidos os operários.

Retornou a Mariana em 1968, mudando-se para Ouro Preto em 1969, quando se integrou à Ação Libertadora Nacional/ALN.

Partiu em 1971 para São Paulo, já clandestino. A partir de então, os contatos com a família foram sendo feitos através de cartas e de raros encontros. Os últimos encontros foram nos meses de março e junho de 1973, pouco antes de sua morte pelas forças da repressão.

Numa carta enviada à família, em 08 de outubro de 1971, ele brincava dizendo que trabalhava 25 horas por dia pois levantava sempre 1 hora mais cedo e não tinha tempo para “paquerar”. Dizia que os problemas não se resolveriam no plano individual e sim coletivamente; recomendava-Ihes bons livros e bons filmes: “Queimada”, “Os Estranhos Caminhos de São Tiago” e, também, a leitura do “Pasquim”. Criticava o sistema, o ufanismo exagerado, a política de massificação, despedindo-se com afeto e saudades. Sua última carta é datada de 07 de setembro de 1972.

Helber foi preso e torturado até a morte pelos agentes do DOI-CODI/São Paulo.

A versão oficial é de morte em tiroteio, às 16 horas do dia 16 de julho de 1973, nas imediações do Museu do Ipiranga, em São Paulo.

Entretanto, Helber foi visto no DOI-CODI/SP por diversos presos políticos alguns dias antes do dia 16, quando estava com a barba por fazer há vários dias. Em conseqüência das torturas sofridas, seu estado de saúde obrigou os agentes do DOI-CODI a levá-lo, para ser atendido no Hospital Geral do Exército, no Cambuci, bairro próximo ao Museu do lpiranga.

Sua famflia tomou conhecimento de sua morte no dia 18 de julho de 1973 pela TV, e no dia 19 de julho, através dos jornais. Não teve acesso aos seus objetos pessoais: documentos, roupas, livros e outros pertences.

O laudo do exame cadavérico do Instituto Médico Legal foi solicitado pelo delegado Romeu Tuma, na época chefe do Setor de Inteligência do DEOPS/SP.

O laudo necroscópico, assinado por Harry Shibata e Orlando Brandão, descreve diversos ferimentos, sem referir-se às marcas de tortura.

Foi enterrado como indigente no Cemitério de Perus/SP. Seus restos mortais foram exumados e identificados pela equipe da UNICAMP e, em 13 de julho de 1992, trasladado para Mariana, onde foram sepultados no Cemitério de Santana, após missa celebrada por D. Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB.

O Relatório do Ministério da Marinha mantém a falsa versão de morte em tiroteio.

Buscar no material digitalizado

Advogado em Arapongas, no Paraná.

Segundo nota oficial e declarações prestadas à imprensa pelo Gen. Antônio Bandeira, Henrique teria se suicidado no 8° Grupo de Artilharia Antiaérea, em Brasília, onde se encontrava preso para averiguação de possíveis ligações subversivas.

Buscar no material digitalizado
MD_153

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Filho de Antônio Pereira Marques e Rosalia Pereira Marques, nasceu no dia 27 de agosto de 1948 em Recife/PE. Ingressou no Movimento Estudantil Secundarista quando ainda estudava no Colégio Porto Carreiro em Recife. Foi preso a primeira vez em 17 de agosto de 1968, quando distribuia panfletos convocando os estudantes a comparecerem ao congresso da UBES. A polícia invadiu sua casa e encontrou livros e manifestos considerados subversivos pelos órgãos de segurança de PE. Foi torturado e contraiu tuberculose pulmonar logo após sair da prisão. Casou-se em 17 de dezembro de 1970 com Tercia Maria Rodrigues Marques e viajaram para São Paulo, regressando no final de 1971 e juntamente com o Cabo Anselmo (conhecido por Daniel) era responsável pela articulação da VPR no Noreste. Em 8 de janeiro de 1973, quando estava trabalhando na Livraria Moderna em Recife, recebeu um telefonema e deixou a livraria com “estranhos” que vieram lhe buscar deixando um recado para sua esposa, no qual afirmava que não voltaria mais. Jarbas já tinha forte suspeita do envolvimento do Cabo Anselmo com a equipe do Delegado Fleury e os órgãos de segurança de Pernambuco, e segundo informes de seus familiares Jarbas e esposa já estavam se mobilizando para deixarem o Recife o País ou entrarem para clandestinidade . No dia 11 de janeiro de 1973 os jornais locais noticiaram a morte de Jarbas e mais cinco membros da VPR na Granja São Bento em Paulista-PE. Jarbas Pereira Marques deixou uma filha, naquela época, com 10 meses de idade e muita saudades na família e entre os inúmeros amigos que tinha.

Uma indenização tardia

Jornal do Brasil 11/06/03

Família de vítima da ditadura tem direito reconhecido

BRASÍLIA - Mais de 30 anos depois da tortura e execução do comerciário pernambucano Jarbas Pereira Marques pela polícia política da ditadura militar, sua família teve confirmado, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, o direito à indenização por danos morais e materiais. A União vinha alegando, desde a primeira instância, que os ""fatos"" ocorreram em janeiro de 1973, e que a ação inicial estava prescrita.

Ao recorrer ao STJ, a União argumentou que ação foi ajuizada em 2/2/1993, ""quando o direito já estava fulminado pela prescrição"". (O prazo para a prescrição de qualquer ação contra a Fazenda Pública seria de cinco anos, de acordo com o Código Civil.)

No entanto, o relator do recurso na 2ª Turma do STJ, ministro Franciulli Netto, defendeu a tese vencedora de que o reconhecimento da morte de Jarbas Pereira Marques deu-se com a publicação da ata da terceira sessão ordinária da Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos, realizada em 8/2/1996.

Segundo o ministro-relator do processo, no caso ""o prazo de prescrição só tem início quando há o reconhecimento, por parte do Estado, da morte da pessoa perseguida na época do regime de exceção"". Além disso, ""em se tratando de lesão à integridade física, deve-se entender que esse direito é imprescritível""

Buscar no material digitalizado

Dirigente da AÇÃO POPULAR MARXISTA-LENINISTA (APML).

Nasceu a 20 de março de 1946 na cidade do Rio de Janeiro, filho de Yedda Novaes da Mata Machado e de Edgard Godói da Mata Machado.

Texto escrito por Bernardo, irmão de José Carlos, em outubro de 1993, por ocasião dos 20 anos da morte de José Carlos:

“José Carlos freqüentou o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o ginasial no Colégio Estadual de Minas Gerais, onde fez o curso clássico. Durante a adolescência, fundou, junto com amigos do bairro Funcionários, o Youth Clube, grupo de jovens unidos pela convivência em festas, atividades esportivas, namoros e conversas animadas.

Em 1964, entrou para o curso de Direito da UFMG, tendo obtido a primeira colocação no vestibular. Em 1966, concluiu o serviço militar obrigatório no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), sendo sua patente de oficial posteriormente cassada pelo Exército.

Na Faculdade, foi um dos fundadores do Grupo de Alunos da Turma de 1964 (GAT-64) que exerceu muita influência política entre os estudantes. Sua liderança foi-se consolidando até o ponto de seus colegas brincarem dizendo que José Carlos não era mais o ‘filho do professor Edgard’, mas o professor é que se tornara ‘pai do Zé’. Em 1967, foi eleito presidente do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Nessa época, já integrava os quadros da Ação Popular.

Em outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), José Carlos foi preso e condenado a oito meses de reclusão nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), de Belo Horizonte.

Solto, no segundo semestre de 1969, continua na luta, porém clandestinamente. Em 1970 casou-se com sua companheira de AP, Maria Madalena Prata Soares, e morou, por mais de um ano, numa favela de Fortaleza (CE), exercendo o ofício de comerciário.

Gilberto Prata Soares, seu cunhado e ex-membro da AP, preso em fevereiro de 1973, concordou em colaborar com o CIEx na identificação dos militantes da AP. A partir de março de 73, com a ajuda do informante, os seus passos e de Madalena foram minuciosamente rastreados pelos órgãos de repressão. Em conseqüência, militantes e simpatizantes começaram a cair como num jogo de dominó.

Pressentindo que o cerco se fechava, advogados do escritório de Joaquim Martins da Silva (companheiro de José Carlos na Faculdade de Direito), em São Paulo, fizeram contato com a família. José Carlos e Madalena já haviam confiado aos avós a guarda do filho Dorival, nascido em Goiânia, no dia 19 de fevereiro de 1972.

No dia 18 de outubro, atendendo ao apelo vindo de São Paulo, dois cunhados e um amigo da família foram encarregados de buscar José Carlos e conduzi-lo à fazenda de um tio, no interior de Minas Gerais. Madalena se encontraria com eles num sítio próximo a Belo Horizonte. No dia 19 de outubro, em São Paulo, para onde José Carlos tinha ido com o principal objetivo de providenciar cobertura jurídica para os companheiros presos, encontraram-se no escritório de Joaquim Martins da Silva. Ali combinaram novo encontro em um posto de gasolina na saída da cidade. Não percorreram mais do que alguns quilômetros e foram presos por elementos à paisana fortemente armados. Algemados e encapuzados, foram conduzidos provavelmente para o DOI-CODI/SP, onde foram submetidos a interrogatórios durante três dias. No dia 21 foram transferidos, à exceção do José Carlos, para o 12° Regimento de lnfantaria, em Belo Horizonte, onde permaneceram incomunicáveis. Na noite de 22, Madalena e seu filho Eduardo (do primeiro casamento) foram presos no sítio onde se encontravam. Nesse mesmo dia, Gildo Macedo e sua esposa foram presos em Salvador pela Polícia Federal.

No dia 31, quarta-feira pela manhã, os representantes da família foram soltos. Na noite do mesmo dia 31, os meios de comunicação transmitiram nota oficial informando sobre a morte de José Carlos e Gildo Macedo Lacerda num tiroteio em Recife. A nota dizia que ambos confessaram, durante interrogatórios, que teriam no dia 28 um encontro com ‘um subversivo de codinome Antônio’. Levados para o local, o referido ‘Antônio’ pressentiu alguma anormalidade e abriu fogo contra seus companheiros.

A morte dos dois militantes estava repercutindo nacional e internacionalmente (New York Times de 13 de novembro, Le Monde do dia 14 de novembro e Avvenire D’all Italia e Dal Mondo de 15 de novembro). No dia 7, a denúncia do Prof. Edgard ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana foi lida na Câmara e no Senado pelos líderes da oposição, Deputado Aldo Fagundes e Senador Nelson Carneiro. A repercussão, somada ao esforço dos advogados de Recife, Oswaldo Lima Filho e Mércia Albuquerque, resultou na autorização para a exumação e o traslado do corpo para Belo Horizonte. A condição imposta pelo coronel Cúrcio Neto, comandante militar da 7ª Região, foi a de que não houvesse publicidade.

Até mesmo o aviso fúnebre foi proibido. A Dra. Mércia acompanhou a exumação, realizada no dia 10 de novembro. José Carlos, assim como Gildo, foram enterrados como indigentes num caixão de madeira sem tampa e com fundo de taliscas. No dia 15 de novembro, após ordens e contra-ordens, o corpo de José Carlos foi finalmente liberado e chegou a Belo Horizonte às 13:15 h, em caixão lacrado. Às 14:30 h foi sepultado no cemitério Parque da Colina. Embora, já no dia 9 de novembro de 73 tenha sido protocolada uma representação junto à Procuradoria Geral da Justiça Militar requerendo a instauração de um Inquérito Policial Militar, até hoje não foram tomadas providências para apurar os fatos que cercaram a morte de José Carlos.

Não se sabe qual a autoridade responsável por sua prisão em São Paulo, nem se conhecem as circunstâncias de sua transferência para Recife. Sua morte, na madrugada do dia 28, foi testemunhada pela estudante Fernanda Gomes de Matos e Melânia Almeida Carvalho, que estavam presas no DOI-CODI do Recife. Fernanda reconheceu, imediatamente, quando Mata Machado chegou no dia 27 de outubro de 1973, escoltado por agentes, com uma venda nos olhos. Após várias horas de agonia, pedindo ajuda, porque estava perdendo muito sangue, a voz grave de Mata Machado silenciou.”

O nome de José Carlos Mata Machado foi dado a uma rua em Belo Horizonte no lugar de sua antiga denominação que era Dan Mitrione, torturador que veio dos Estados Unidos para o Brasil com o objetivo de ensinar “Métodos Modernos de lnterrogatório” aos policiais e militares. Suas cobaias eram mendigos recolhidos nas ruas e seu alvo eram os presos políticos.

Buscar no material digitalizado

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA da(VPR).

Nasceu em 2 de dezembro de 1940, em Toritama, Pernambuco, filho de José Manuel da Silva e Luiza Elvira da Silva.

Ex-cabo da Marinha, expulso em 1964.

Foi assassinado sob torturas pela equipe do delegado Sérgio Fleury no dia 8 de janeiro de 1973, no Massacre da Chácara São Bento. Os detalhes desse massacre estão na nota referente a Eudaldo Gomes da Silva.

Em 19 de dezembro de 1994, sua viúva Genivalda Maria da Silva exumou seus restos mortais.

À época da morte de José Manoel, Genivalda também foi presa, torturada e estuprada por soldados do Exército. Ficou, então, sem coragem para reclamar o corpo do marido. Só agora, com o apoio do Grupo Tortura Nunca Mais de Pernambuco, ela tomou a iniciativa de exumar seus restos mortais e dar-lhe uma sepultura digna.

Buscar no material digitalizado

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).

Nascido no Crato, Ceará, em 30 de dezembro de 1927, filho de Belarmino de Sá Roriz e Leonina Mendes de Sá Roriz. Casado, tinha quatro filhos.

Aos 15 anos de idade engajou-se na 9ª Companhia de Fuzileiros Navais, lutando na 2ª Guerra Mundial, onde foi ferido, perdendo um olho. Por sua coragem, recebeu inúmeras condecorações.

Em 1956, foi com a família para o Rio de Janeiro, reformado como 2° Sargento. Logo ligou-se ao PCB, participando de vários movimentos sindicais e candidatando-se a deputado federal. Participou do “Grupo dos 11” com Leonel Brizola.

Após o golpe militar de 1964, foi preso várias vezes, passando pela Vila Militar, Ilha das Flores, DOPS/RJ e Polícia do Exército.

Libertado, em 1965, conseguiu asilo político no México, onde permaneceu até 1969.

Em 1968, sua filha mais velha, Suely Roriz foi presa e levada à PE/RJ, aos 18 anos de idade, por ter dado entrevista à imprensa em defesa do pai que, exilado, era acusado pela ditadura por uma série de ações armadas.

Em 1969, Sá Roriz voltou do exílio devido à grave doença de seu filho mais novo e viveu clandestino até sua prisão e morte em fevereiro de 1973.

Em 28 de janeiro de 1973, sua casa mais uma vez foi invadida pela repressão e seu filho mais novo, Eduardo, de 17 anos, foi preso e torturado e toda a família ameaçada para que se entregasse. Apresentou-se, então, ao Marechal Cordeiro de Farias, seu filho foi libertado e Sá Roriz preso, ficando 17 dias no DOI-CODI/RJ, de onde saiu morto.

Seu atestado de óbito afirma que morreu em 17 de fevereiro de 1973, no Hospital Central do Exército e não apresenta causa mortis, afirmando “depender de exames laboratoriais solicitados”. Somente foi assinado em 11 de julho de 1973 (5 meses após a sua morte), tendo sido firmado pelo Dr. Rubens Pedro Macuco Janine.

O corpo de Sá Roriz foi enterrado no Cemitério Jardim da Saudade (RJ) por sua família, em 18 de fevereiro de 1973, após muita insistência para liberação.

O resultado do exame toxicológico das vísceras e sangue de Sá Roriz (Documento de n° 432.117, enviado pelo ofício n° 1142 de 19 de fevereiro de 1973 do Hospital Central do Exército) é negativo.

Vários pedidos de abertura de processo foram encaminhados ao Ministério da Justiça, sem qualquer resposta.

Buscar no material digitalizado
MD_157

Dirigente do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).

Nasceu em São José do Calçado no Espírito Santo no dia 25 de maio de 1945, filho de Maria Augusta Bicalho Roque e José Sarmento Roque.

Cursou o primário no Grupo Escolar Bodart Júnior de Rio Novo do Sul e o Ginásio no Colégio Estadual do Espírito Santo em Vitória, onde tirou primeiro lugar, conseguindo com isto cursar o segundo grau no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.

Foi aprovado para todas as faculdades de medicina do Estado do Rio de Janeiro, chegando a cursar um ano desta disciplina na Faculdade Nacional de Medicina. Após esse ano, trancou a matrícula, passando a cursar Sociologia também na Faculdade Nacional.

Formou-se sociólogo em 1967, quando foi contratado professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Em abril de 1968, por suas atividades políticas, foi compulsoriamente aposentado.

Trabalhou ainda como sociólogo no SESC (Serviço Social do Comércio) até passar a viver na clandestinidade em 1972. Após esta data continuou realizando trabalhos para esta e outras instituições utilizando nome de terceiros.

Antes de passar à clandestinidade, foi preso várias vezes. Participou do Programa Nacional de Alfabetização e integrou o Comitê Estadual e o Comitê Central do PC do Brasil.

Deixou marcas por toda a sua vida estudantil, profissional e política, seja por sua paciência e persuasão nas discussões intelectuais ou por sua genialidade, carinho e carisma em suas diversas e intensas relações pessoais.

Lincoln desapareceu em 13 de março de 1973. De imediato, a família percorreu os órgãos policiais à procura de informações. Após uma incansável busca, pediram ajuda à CNBB. Em 21 de março divulgou-se a notícia de que Lincoln fora morto ao resistir à prisão em um choque armado no Campo de São Cristóvão.

Após sucessivas idas e vindas ao Ministério do Exército, informaram que o corpo poderia ser encontrado no IML.

O corpo apresentava inúmeras marcas de tortura e foi mantido fora da geladeira do dia 22 para o dia 23 de março. Tais fatores, juntamente com as pressões dos órgãos de segurança, dificultaram o reconhecimento e obrigaram a família a realizar o enterro imediatamente, sem ao menos velar seu ente querido.

Os algozes da repressão não aliviaram a perseguição a Lincoln sequer na hora de seu enterro, que contou com a incômoda presença de “olheiros”, que verificavam atentamente quais dos presentes poderiam também ser enquadrados como subversivos.

Hoje se sabe que foi preso em frente à Igreja de São João de Meriti onde tinha um ponto marcado com um companheiro.

No momento, a família move um processo responsabilizando a União pelo cruel assassinato de Lincoln.

A versão oficial da repressão afirma que morreu “ao reagir às Forças de Segurança”, sendo seu corpo encontrado ao lado do Pavilhão de São Cristóvão (RJ) , em 13 de março de 1973, com mais de 15 tiros.

Seu cadáver entrou no IML/ RJ, no mesmo dia como desconhecido, pela Guia N° 15 do DOPS. A necrópsia, realizada no dia seguinte pelos Drs. Gracho Guimarães Silveira e Jorge Nunes Amorim, confirma a falsa versão oficial da repressão de que foi morto em tiroteio.

Foi reconhecido, segundo documento n° 437 do DOPS/RJ, em 16 de março de 1973, pelas impressões digitais e retirado por seu irmão, sendo enterrado pela família, em 23 de março no Cemitério Jardim da Saudade (RJ).

No laudo de perícia de local há a seguinte afirmação: “... com o cadáver, ou nas proximidades, não foram encontrados quaisquer documentos, pertences ou outros elementos materiais...”.

As fotos de perícias de local mostram claramente sinais de torturas nos olhos e lábios. O que é confirmado pelas declarações do preso político José Auri Pinheiro, em Auditoria Militar, à época, que denuncia as torturas sofridas por Lincoln.

Sua morte foi publicada pelo “O Globo” e “Jornal do Brasil”, de 22 de março de 1973, sob os respectivos títulos: “Terrorista reage à prisão e é morto a tiros na rua” e “Autoridades de Segurança informam sobre a morte de um militante do PC do B”.

Buscar no material digitalizado

Dirigente do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).

Nasceu em 1920, na cidade de Santos, São Paulo.

Operário naval, ferreiro e, posteriormente, jornalista. Casado, tinha um filho adotivo, Gino, muito querido por ele.

Em 1945, ainda na cidade de Santos, entrou para o Partido Comunista do Brasil e atuava junto aos portuários.

Em 1953 foi para o Rio tornando-se membro do Comitê Regional dos Marítimos.

Em 1962, alinhou-se com o grupo que deu origem ao PC do B e, em 1966, foi eleito membro de seu Comitê Central.

Foi morto aos 53 anos de idade no Rio de Janeiro, logo após a sua prisão. Seu cadáver foi encontrado nas Ruas Girapimirim com Turvânia (RJ).

Sua esposa, Orandina Guilhardini, narra que, em 04 de janeiro de 1973, sua casa à Rua Guararema, n° 62 (RJ) foi invadida por treze homens armados e que ali mesmo começaram as torturas. Ela, seu filho de 8 anos e Luiz Guilhardini foram colocados em cômodos separados e espancados. Levados encapuzados em viaturas diferentes para um local que presume fosse o DOI-CODI/RJ. Seu filho assistiu o pai ser torturado, ao mesmo tempo que também sofria sevícias.

No mesmo dia, Orandina e seu filho foram levados para um quartel do Exército, que supõe ficasse em São Cristóvão. Ali permaneceram três dias em uma cela exposta ao sol, o que provocou desidratação na criança. Esta foi levada para o antigo SAM (Serviço de Assistência ao Menor), no bairro de Quintino. Orandina era interrogada diariamente e, cerca de nove dias depois de sua prisão, soube por um dos torturadores que Luiz Guilhardini estava morto. “Seu homem bancou o durão e foi pro inferno e você também está a caminho para lhe fazer companhia”, lhe foi dito em um dos interrogatórios.

Somente foi liberada três meses depois, quando conseguiu encontrar seu filho. O corpo de Guilhardini entrou no IML em 05 de janeiro de 1973, pela Guia n° 14 do DOPS, como desconhecido, descrevendo-o apenas como “morto quando reagiu às Forças de Segurança”.

Sua necrópsia realizada no mesmo dia como desconhecido, é firmada pelos Drs. Salim Raphael Balassiano e Rubens Pedro Macuco Janini que confirmam a falsa versão de morte em tiroteio, apesar de descreverem que “o membro superior direito exibe sinais de lesões violentas”.

Sua esposa afirma que Guilhardini saiu de casa preso com as mãos amarradas por fios e que seus braços estavam roxos. As fotos de perícia do local, ICE n° 0078/73, mostram os pulsos de Guilhardini com claros sinais de algemas ou fios, o que a necrópsia não descreve.

Foi reconhecido oficialmente, no mesmo dia, pelo Serviço de Identificação do Instituto Félix Pacheco/RJ e, no dia seguinte foi enterrado, com seu próprio nome, como indigente, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ) na cova 22.708, quadra 21. Em 20 de março de 1978, seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral e, em 1980/81, enterrados numa vala clandestina com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.

A certidão de óbito n° 17.117, estranhamente coloca sua morte em 01 de janeiro de 1973 e é assinada pelo 2° legista Rubens Pedro Macuco Janini e não pelo 1° legista, como ocorre normalmente. Tem como declarante José Severino Teixeira.

Laudo de perícia de local (Ocorrência n° 14/73) afirma não haver arma de fogo no local e que “nos pulsos da vítima havia sinais recentes de ferimentos produzidos por algo que os prenderam. Os ferimentos embora superficiais faziam-se notar nitidamente”. Informa ainda que Luiz estava vestido com “camisa esporte azul clara e calça azul sobre cueca branca e sapato azul e branco”. Sua esposa informa que foi preso com bermudas e chinelos, mas que os homens que o levaram, pegaram um terno azul de linho, camisa e sapatos.

Buscar no material digitalizado

Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em 02 de setembro de 1943 em Recife, Pernambuco, filho de José Joviano da Cunha e Maria Madalena da Cunha.

Foi fuzilado, quando tinha 27 anos, pela equipe do Grupo Especial do DOI/CODI-SP, chefiada pelo agente conhecido como “Capitão Nei” e tenente da PM “Lott”, na altura do n° 2200, da Av. Santo Amaro, em São Paulo, no dia 13 de julho de 1973.

A emboscada montada para o assassinato de Luís José se estendia por toda a região próxima ao n° 2000 da Av. Santo Amaro. A versão oficial divulgada pelos assassinos de Luís José afirma que ele, ao ser abordado em virtude de sua atitude suspeita, teria reagido a tiros, procurando fugir ao tentar tomar à força, um carro dentro do qual havia duas moças.

Segundo o testemunho de numerosos populares que assistiram a cena, Luís José realmente tentou tomar o carro, mas antes de ter qualquer chance de defesa, foi atingido pelas costas.

Os tiros que feriram as duas moças, segundo ainda os depoimentos dos populares, seriam provenientes das balas dos agentes, que atiravam constante e indiscriminadamente.

O laudo necroscópico foi assinado pelo médicos legistas Harry Shibata e Orlando Brandão. As fotos de seu corpo evidenciam torturas, o que faz supor que ele teria sido preso e torturado antes de ser morto.

Foi enterrado no Cemitério de Perus/SP como indigente. Seu corpo, exumado em 1991, ainda não foi identificado pela UNICAMP.

"A única luta que se perde é a que se abandona."

O pernambucano Luiz José da Cunha, Comandante Nacional da ALN (Ação Libertadora Nacional), conhecido também como Comandante Crioulo devido a sua origem negra, era um militante político que defendia os ideais da Democracia e do Socialismo. Engajado na luta contra a ditadura militar, foi assassinado pelos agentes do DOI-CODI na cidade de São Paulo, no dia 13 de julho de 1973, e enterrado no Cemitério de Perus como indigente.

Nasceu em Recife, em 2 de setembro de 1943, filho de José Juviniano da Cunha e Maria Madalena da Cunha. Cedo ainda, secundarista do Colégio Estadual Beberibe, em Recife, começou sua militância no Partido Comunista Brasileiro. Por sua dedicação, seriedade e inteligência, fez o Curso de Formação Teórica e Política Marxista, em Moscou. Gostava de ler e estudar adquirindo assim uma ampla cultura geral sobre história e geografia dos povos.

Em 1965, participou do Comitê Secundarista da Guanabara, onde desenvolveu uma grande amizade com Iuri Xavier (*) e sua família, freqüentando a casa nos finais de semana, indo aos teatros e cinemas. Foi um dos primeiros a aderir à proposta de Carlos Marighela para organizar a ALN e fez treinamento em Cuba.

Desempenhou importante papel na formação de vários jovens, pois além das suas qualificações como militante experimentado, era ponderado, sabia ouvir e entender as pessoas, contribuindo muito para suportar as durezas da clandestinidade e da guerrilha. Da mesma forma que era amável, era firme e decidido em suas ações, levando até as últimas conseqüências a luta por seus ideais.

Dentro da ALN, mesmo nos momentos mais difíceis quando companheiros foram mortos e se fechava o cerco da repressão, Crioulo nunca se desesperou. Até o último momento tentou fortalecer os laços com outras organizações guerrilheiras, certo de que a tarefa era grandiosa e exigia unidade dos que tinham os mesmos ideais. A iminência da morte não lhe atemorizava nem lhe fazia recuar: morreu combatendo pela causa da democracia e do socialismo, a qual dedicou sua vida.

Foi preso numa emboscada armada pela equipe do Grupo Especial do DOI-CODI de São Paulo, chefiada pelo agente conhecido como "Capitão Nei" e tenente da PM "Lott", na Av. Santo Amaro, nas imediações do n°. 2000.

O seu laudo necroscópico foi assinado pelos médicos legistas Harry Shibata e Orlando Brandão. As fotos de seu corpo, inclusive de sua cabeça e do seu rosto, evidenciam as torturas sofridas que o levaram à morte. Na certidão de óbito, sua cor foi alterada: colocou-se branca, mais uma vez impedindo que fosse feita sua identificação. Sua morte foi reconhecida como de responsabilidade do Estado, nos termos da Lei 9.140/95, por decisão da Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos. Em 1991, ao serem exumadas sua ossada, foram encontradas apenas algumas partes do esqueleto. Contudo não havia o crânio, o que causou mais uma terrível surpresa aos familiares e amigos que buscavam seus restos mortais, pois as fotos de seu rosto haviam sido encontradas nos arquivos policiais. Assim seus restos mortais só foram possíveis de serem identificados por meio dos exames de DNA dos fragmentos ósseos de sua coxa (o fêmur). Por solicitação da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, o Ministério Público Federal de São Paulo mandou realizar os exames de DNA,com o suporte da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e da Comissão Especial de Mortos Desaparecidos Políticos. O resultado foi positivo e, após mais 15 anos de luta e espera, finalmente Luiz José da Cunha volta para sua terra natal para ser enterrado junto ao túmulo de sua mãe. (*) Yuri Xavier foi assassinado pelos agentes da Operação Bandeirantes - DOI-CODI, em São Paulo, em 14/06/72. "... é uma vitória para os familiares. Espera-se que seja o começo de uma caminhada no sentido de garantir o direito dos familiares dos desaparecidos ao reconhecimento da violência cometida pelo Estado na época." (Marco Antônio Barbosa, Presidente da Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos). "...A melhor maneira de homenagear Luís José da Cunha, Estadista da Ação Libertadora Nacional, é divulgar sua história e sua importância em tudo que ele pôs sua presença. Desde o começo, quando era do Setor Juvenil. A cura da sua tuberculose, sua tranqüilidade, quase impossível nos pernambucanos, sua fé em ver lá na frente um futuro, por mais que os tempos sombrios se abatessem sobre tudo e quase todos." (Domingos Fernandes) Ato de translado dos restos mortais de Luiz José da Cunha Dia 1º de setembro de 2006 – 09h30 Catedral da Sé – São Paulo ·Amparo Araújo, viúva. ·Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos ·Ministério Público Federal ·Comissão Especial de Desaparecidos Políticos ·Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo ·Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Est. de SP ·Comissão de Justiça e Paz ·Fórum de Entidades Sociais, Raciais e Religiosas ·Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo ·Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República RESQUÍCIOS DA DITADURA Restos mortais de comandante da ALN são trasladados Depois de mais de 30 anos do assassinato do pernambucano Luiz José da Cunha, conhecido como Comandante Crioulo, por agentes do DOI-Codi, os restos mortais do militante, encontrados no cemitério de Perus, foram entregues à sua família. Fernanda Sucupira - Carta Maior Data: 04/09/2006 SÃO PAULO – No dia 13 de julho de 1973, o pernambucano Luiz José da Cunha, conhecido como Comandante Crioulo, foi preso numa emboscada e assassinado por agentes do DOI-Codi na cidade de São Paulo. As fotos do corpo mostram que a causa da morte foram as tortura sofridas por ele. Cunha era comandante nacional da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de esquerda, fundada no fim da década de 60 por ativistas como Carlos Marighella, que adotou a luta armada como forma de resistência à ditadura militar. Sua ossada foi encontrada no cemitério clandestino de Perus, em 1991, onde ele havia sido enterrado como indigente, mas sem a presença do crânio. Por conta disso, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos iniciou uma longa jornada, com contribuição fundamental do Ministério Público Federal (MPF), até que, em junho deste ano, um exame de DNA finalmente identificou que aquela era a ossada de Crioulo. Só na última sexta-feira (1), após mais de 15 anos da abertura da vala onde ele estava, a viúva Amparo Araújo recebeu os restos mortais de seu marido, num ato ecumênico na Catedral da Sé, em São Paulo, para enterrá-lo no sábado (2). “Eu me comprometi com a mãe dele que, tão logo fosse possível, eu o levaria para ficar ao lado dela, lá em Recife. Hoje estou cumprindo esse compromisso. Quero agradecer ao Estado brasileiro por este momento porque as feridas que o Estado causa às pessoas, aos cidadãos, só ele pode reparar. Agora estou concluindo a morte do Crioulo, que já faz mais de trinta anos, já que a minha filha se casa neste mês, começando uma nova vida”, declarou Amparo, durante o ato inter-religioso de traslado dos restos mortais, que reuniu familiares de mortos e desaparecidos políticos, parlamentares, representantes do governo federal e de entidades de direitos humanos, entre outros. Além do corpo do comandante da ANL ter sido ocultado, o atestado de óbito informava que sua cor era “branca”, dificultando a identificação de Cunha. “Fomos tomados de uma triste surpresa quando seu crânio não foi encontrado. Talvez os inimigos temessem a sua cabeça, a cabeça de um negro intelectual. Crioulo, agora a sua cor também foi resgatada. De todas as formas tentaram ocultar a verdade dos fatos que envolveram sua morte, como também apagar a participação do povo negro na luta por democracia em nosso país. Mas foram muitos os militantes negros que derramaram seu sangue”, disse Amelinha Telles, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Segundo ela, para esclarecer os fatos e circunstâncias em que ocorreram esses assassinatos – e outras brutais violações de direitos humanos - e garantir que todos tenham direito a um sepultamento digno, como Cunha teve, é fundamental que sejam abertos os arquivos da ditadura militar. O Procurador Regional da República, Marlon Alberto Weichert, um dos responsáveis pela identificação de Crioulo, também afirmou que não existem mais razões jurídicas, sociais ou políticas para o sigilo dos arquivos militares. “Não se trata de rever, revisar ou proclamar vencedores. Mas sim de abrir, dar transparência, expor, iluminar. Não haverá real superação das violências que, de parte a parte, caracterizam os períodos de exceção, enquanto inexistir a abertura plena dos arquivos que permitiriam conhecer, efetivamente, os fatos vividos. Impossível o amadurecimento sem o conhecimento. O país precisa conhecer a verdade, seja ela bela ou não. A cultura do segredo traz muitos prejuízos. Utiliza-se o Estado para preservar – ou promover – biografias, impedindo-se com isso o exercício responsável da cidadania, o aperfeiçoamento das instituições e a maturidade política”, defendeu o representante do MPF, durante o ato. Segundo Weichert, a figura do desaparecido traz a incerteza, a insegurança e a injustiça, e paradoxalmente permite a esperança. Essa complexidade de sentimentos, diz ele, sempre foi campo propício para o exercício da crueldade. “Infelizmente, passados aproximadamente trinta anos do auge da repressão militar, ainda hoje o poder público parece cruel, protegendo e defendendo a ocultação em detrimento da paz que poderia ser devolvida às famílias. Privilegia-se o silêncio como forma de proteção aos agressores, em detrimento da moral, do decoro, da honestidade, da dignidade, em suma, da justiça”, completa o procurador. De acordo com a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a ditadura militar deixou um rastro de aproximadamente quatrocentos mortos e desaparecidos, na sua maioria jovens que dedicaram suas vidas à construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Desse total, apenas três pessoas tiveram resgatados seus restos mortais antes de Crioulo: Luiz Eurico Terreira Lisboa, assassinado em São Paulo, em 2 de setembro de 1972; Denis Casimiro, assassinado em abril de 1971, em São Paulo; e Maria Lúcia Petit, morta em 16 de junho de 1972, na região do Araguaia. “Esse ato é muito importante porque registra a continuidade de um trabalho histórico que se arrasta por mais de vinte anos e que seguirá adiante nos próximos anos. Marca a continuidade da organização, do trabalho, da pressão, dos vários grupos defensores de direitos humanos, da Comissão de Mortos e Desaparecidos daqui de São Paulo, do Grupo Tortura Nunca Mais, no sentido de levar adiante o trabalho, para localizar os corpos, fazer a identificação genética e fazer escavações sempre que houver indícios seguros”, afirmou o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República. Em relação às críticas sobre a demora nesse processo, Vannuchi justifica que tal lentidão ocorre porque o Estado é burocrático e não basta ter vontade política para fazer as coisas. Em segundo lugar, diz, existe a própria delicadeza evidente do tema. Ele afirma que não é verdade que o Brasil tenha aberto menos arquivos da repressão política do que Argentina, Chile e Uruguai. “Os que estão abertos à visitação pública lá são os arquivos das comissões que ouviram depoimentos de familiares, que trouxeram notícias de jornal e documentos que eles tinham. Nenhum arquivo da repressão política foi aberto nesses países como foi no Brasil”, argumenta o ministro. “Muito antes do governo Lula, foram abertos os arquivos estaduais do DOPS de estados como São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Ceará. Agora no governo Lula, em dezembro do ano passado, foram abertos os arquivos da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] e a imprensa com má vontade disse que nesses arquivos não tem nada, sem investigá-los antes, sem ir lá. Todos os jornais disseram que não tinha registro. Mas registros de papel dizendo vai lá e mate o Marighella nunca existiram. Nunca houve documentos montando uma operação e dizendo “fulano está sendo torturado, prossiga a sessão de tortura por mais três dias”, os criminosos não fazem ata das suas reuniões. Os arquivos já abertos têm um acervo enorme de dados que vão ajudar o trabalho da Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos agora”, acredita Vannuchi. Neste mês, a Comissão Especial da SEDH começa uma nova etapa de seu trabalho iniciado em 1995. Há mais de uma década seus integrantes vêm analisando casos de mortos e desaparecidos políticos e fornecendo reparação moral e indenização financeira à família das vítimas. Ainda em setembro, devem começar a coletar sangue dos familiares de mortos e desaparecidos para constituir um banco de DNA, com o perfil genético de cada um deles, que será armazenado eletronicamente, para a aguardar o desfecho dos trabalhos em curso de investigação e localização das ossadas e poder identificá-las. Depois disso, provavelmente já no início de 2007, a comissão vai colher depoimentos oficiais de qualquer pessoa que tenha informações ou indícios de possíveis sítios de localização dos mortos e desaparecidos, sejam os familiares das vítimas, os sobreviventes ou eventuais ex-agentes dos órgãos de repressão que queiram depor.

Buscar no material digitalizado

Militante do PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO (PCR).

Era líder camponês do sertão pernambucano.

Foi preso e barbaramente torturado até a morte, ocorrida no dia 29 de agosto de 1973, na cidade de Ribeirão, no interior de Pernambuco.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que ele “foi morto em tiroteio com a polícia no interior de Pernambuco (Ribeirão/PE) em 29 de agosto de 1973. Na ocasião de sua morte utilizava documento falso em nome de Antônio dos Santos Oliveira.

Buscar no material digitalizado

Militante do PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO (PCR).

Nascido em 21/02/44, em Maceió, Alagoas, filho de Augusto de Moura Castro e Iracilda Lisboa de Moura.

Estudante de Medicina na Universidade Federal de Alagoas, morto aos 29 anos, em São Paulo.

Preso no dia 17 de agosto de 1973 por agentes do DOI-CODI de Recife, em cujas dependências foi torturado pela equipe do agente conhecido como “Luiz Miranda”. Removido para São Paulo, Manoel continuou sendo torturado pelo delegado Sérgio Fleury e por “Luís Miranda”, até morrer no dia 4 de setembro de 1973.

A requisição do exame necroscópico foi assinada pelo Delegado Edsel Magnotti e o laudo pelos médicos legistas Harry Shibata e Armando Cânger Rodrigues, que confirmam a versão oficial.

A denúncia de Selma Bandeira Mendes e de vários outros presos políticos que se encontravam nas dependências do DOI-CODI/SP naquele período, diz que o corpo de Manoel estava coberto de queimaduras, estando inclusive quase paralítico.

A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança é de que Manoel foi morto devido a um tiroteio no Largo de Moema, na cidade de São Paulo, juntamente com Emanuel Bezerra dos Santos.

O capitão do Exército Carlos Cavalcanti, membro da família de Manoel tentou resgatar o corpo que, embora tivesse sido enterrado como indigente no Cemitério de Campo Grande/SP, poderia ser exumado, desde que a família se comprometesse a não abrir o caixão, que seria entregue lacrado, ao que a família se recusou, por não poder ter nem ao menos a certeza de que, no caixão lacrado, estava o corpo de Manoel.

Por ocasião do processo de exumação e identificação de Emanuel Bezerra dos Santos, o mesmo foi feito a Manoel, uma vez que ambos foram mortos e sepultados no mesmo local. Seu irmão não quis receber seus restos mortais que, então, foram colocados no Ossário Geral do Cemitério de Campo Grande, com a presença de amigos e entidades.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que foi “morto em 4 de setembro de 1973, em São Paulo/SP, após cerrado e violento tiroteio com agentes de segurança.”

SP: Desaparecido político vai ter restos mortais trasladados

Por Comissão Municipal de Direitos Humanos - SP 24/04/2003 Às 19:01

A Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo convida para o Ato de Translado dos Restos Mortais do Desaparecido Político Manoel Lisboa de Moura (1944-1973), no dia 06 de maio de 2003, às 15h, no Salão Azul da Prefeitura de São Paulo, Palácio das Indústrias, Avenida Mercúrio, s/nº, Parque Dom Pedro

Uma pequena biografia

Manoel nasceu a 21 de fevereiro de 1944, em Maceió. Desde seus tempos de escola demonstrou um interesse particular pelos problemas sociais, o que o fez se integrar, ainda bem jovem, ao movimento estudantil alagoano. Como secundarista, participou do Conselho Estudantil do Colégio Estadual de Alagoas.

Foi editor do jornal "A Luta", de circulação clandestina, que visava mobilizar a luta de combate à ditadura militar, e defender as liberdades democráticas propiciando a construção de uma sociedade livre e justa. Mais tarde, quando cursava medicina, teve que se afastar do curso por motivos de perseguição política.

Foi um dos principais dirigentes do PCR - Partido Comunista Revolucionário, fundado em 1966, e sua atuação esteve sempre voltada para a organização dos camponeses e das classes mais oprimidas.

Em 16 de agosto de 1973, Manoel foi preso numa ação repressiva da Ditadura Militar sob o comando dos policiais Luis Miranda e Sérgio Paranhos Fleury.

A partir de então, foi submetido a toda sorte de torturas tanto físicas como psicológicas. Despido, foi pendurado no "pau-de-arara", espancado no rosto, nos testículos, no abdome. Recebeu choques elétricos no pênis, nas mãos, nos pés e nas orelhas. Foi queimado a vela em todo o corpo, perdendo, logo nos primeiros dias, a sensibilidade dos membros inferiores. Os seus algozes queriam informações sobre a organização, a infra-estrutura e a localização dos militantes.

Manoel não deu nenhuma informação mesmo conhecendo bem os segredos do Partido que fundara.

Passou 19 dias sob tortura intensa. Ficou com o corpo cheio de queimaduras, semiparalítico. Aos companheiros da prisão, pressentindo que seria assassinado, falou: " Sei que a minha hora chegou; fiz o que pude; a vocês peço apenas que continuem o trabalho do Partido".

Foi assassinado em 04 de setembro de 1973 e enterrado como desconhecido no Cemitério do Campo Grande, em São Paulo. Ao seu lado, também foi enterrado seu companheiro de Partido, Emanuel Bezerra dos Santos ( 1945 - 1973) que posteriormente, foi identificado e sepultado em 1992, dignamente, na sua cidade natal, São Bento do Norte (RN).

No momento, está sendo preparado o traslado dos restos mortais de Manoel Lisboa de Moura, de São Paulo para Recife, quando será homenageado pela Prefeitura Municipal e em seguida, para Maceió, quando finalmente vai ser sepultado. Comissão Municipal de Direitos Humanos  

Buscar no material digitalizado

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu no Mato Grosso, em 04 de janeiro de 1949, filho de Domingos de Araújo e Mery Menezes.

Estudante, foi preso no dia 7 de maio de 1973, em um apartamento em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, por agentes do DOI-CODI/RJ, onde foi torturado até a morte.

A prisão de Merival pode ser testemunhada pelos moradores do prédio, contrariando a versão oficial, que repete a farsa da morte em tiroteio ao tentar fugir à prisão.

Foi morto aos 24 anos de idade, no dia 14 de maio de 1973. Seu corpo foi encontrado na Praça Tabatinga, N° 4281, próximo a um poste da Light (RJ) e deu entrada no IML/RJ pela guia N°16 do DOPS/RJ, como desconhecido.

É identificado pelo Instituto Félix Pacheco, logo após o exame necroscópio realizado pelos drs. Roberto Blanco dos Santos e Hélder Machado Paupério que descrevem algumas escoriações em seu corpo: no abdômem, no membro superior esquerdo (face posterior do cotovelo e dorsal da mão) e membro inferior esquerdo (joelhos). Entretanto, apesar disso, confirmam a versão oficial.

O laudo, ao descrever as vestes de Merival, observa que: “trajava calça de tergal cinza-azulada, trazendo preso ao cós um cordão à guisa de cinto...”. As fotos de perícia de local mostram claras marcas de torturas. Em algumas partes chegam a faltar pedaços, como nos braços e pernas. Essas violências não são descritas na necrópsia.

Seu atestado de óbito de n° 133.270 teve como declarante José Severino Teixeira e informa que foi sepultado como indigente, em 24 de maio de 1973, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na cova N° 23.274, quadra 21. Em 28 de junho de 1978, seus restos mortais foram para um Ossário Geral e, em 1980/1981, para uma vala clandestina junto com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.

Buscar no material digitalizado

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu em 18 de julho de 1947, na Tchecoslováquia, filha de Selman Reichstul e Ethel Reichstul.

Assassinada sob torturas, aos 26 anos, no Massacre da Chácara São Bento, município de Paulista, em Pernambuco, pela equipe do delegado Sérgio Fleury, com a ajuda do infiltrado ex-cabo Anselmo, em 8 de janeiro de 1973.

Juntamente com Pauline foram assassinados Eudaldo Gomes da Silva, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva, Soledad Barret Viedma e Evaldo Luiz Ferreira.

As circunstâncias do massacre que vitimou Pauline e seus companheiros estão na nota referente a Eudaldo Gomes da Silva.

Buscar no material digitalizado

Militante do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO REVOLUCIONÁRIO (PCBR).

Nasceu em Garanhuns, Pernambuco, filha de Moisés Rodrigues Vilela e Áurea Alves Siqueira.

Já na clandestinidade, teve uma filha, Vanúsia, que mora em Recife.

Estudante de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, foi presa em Ibiúna/SP, quando participava do XXX Congresso da UNE, em 1968, e expulsa da Escola pelo Decreto 477/69.

Foi assassinada em 28 de outubro de 1973, juntamente com Almir Custódio de Lima, Ramirez Maranhão do Vale e Vitorino Alves Moitinho

Teve sua morte reconhecida pelo I Exército, mas foi enterrada como indigente e foi negada a certidão de óbito à família.

Foi a única não carbonizada na Praça Sentinela, em Jacarepaguá (RJ).

Pela informação n° 2805, do I Exército, de 29 de outubro de 1973, encontrada no Arquivo do DOPS/RJ, Ranúsia foi presa na manhã do dia 27 de outubro de 1973. Desde o dia 8, ela e seus três companheiros estavam sendo seguidos. Contém, inclusive, depoimento de Ranúsia na prisão. O documento fala da farta documentação encontrada com Ranúsia e da morte dos quatro militantes citando seus nomes completos.

O corpo de Ranúsia entrou no IML/RJ pela guia n° 20 do DOPS e a necrópsia feita pelos Drs. Hélder Machado Paupério e Roberto Blanco dos Santos, confirma a versão oficial da repressão de que foi morta em tiroteio ao reagir à prisão.

Na certidão de óbito de n° 17.414 está como desconhecida, tendo como declarante José Severino Teixeira. Foi enterrada como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), em 31 de dezembro de 73, na cova n° 22.706, quadra 21. Em 02 de abril de 1979 seus restos mortais foram para um ossário geral e, em 1980/1981 para uma vala clandestina com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.

Laudo e fotos de perícia de local (Ocorrência n° 947/73 e ICE n° 6995/73) mostram Ranúsia metralhada, tendo ao fundo o Volkswagen incendiado, onde estavam carbonizados Ramires, Vitorino e Almir.

Ver mais detalhes no caso de Almir Custódio de Lima.

Buscar no material digitalizado

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em São Paulo, Capital, filho de Álvaro D’Ávila Queiroz e Elza Mouth Queiroz.

Estudante de Geologia e ex-presidente do Diretório Central dos Estudantcs da Universidade de São Paulo, na gestão 70/71.

Foi fuzilado no dia 6 de abril de 1973, quando se encontrava na Av. Angélica, em São Paulo, por agentes do DOI-CODI/SP.

A necrópsia de Ronaldo feita no Instituto Médico Legal/SP, em 11 de abril de 1973 foi firmada pelos Drs. Isaac Abramovitch e Orlando Brandão, que confirmam a morte em tiroteio.

A versão oficial, publicada no dia seguinte, é de que Ronaldo teria resistido à prisão, sendo morto em conseqüência do tiroteio travado, versão esta desmentida pelos populares que assistiram à cena.

Depoimento de Sidnei M. Queiroz enviado ao GTNM/RJ

"Quando esperava o ônibus num ponto da Av. Angélica, o Ronaldo foi assassinado por agentes do Dops: um tiro abaixo do lábio esquerdo e outro no hemitorax esquerdo.

Segundo o testemunho do sociólogo Paulo Antônio Guerra, "três homens desceram de uma perua Veraneio: um japonês, um de aparência forte e outro de barba, vestindo jaqueta azul e de arma na mão".Um deles disse: "É esse, é esse"

O de jaqueta azul friamente disparou um tiro no Ronaldo, que caiu, mas o assassino disparou outro tiro de cima para baixo, embora o estudante universitário (ex contra a vontade, como os outros) não reagisse durante toda a ação.

Uma mulher grávida gritou e um senhor protestou, sendo jogado no bagageiro da Veraneio.

Anos depois a testemunha soube que o jovem assassinado era o Queiroz, um ex-colega de Geologia. A testemunha não reconheceu o Ronaldo porque ele estava usando barba.

O Paulo Antônio Guerra ia fazer um teste no Metrô, fato confirmado pela Comissão Especial, 14 anos depois.

O covarde e vergonhoso assassinato oficial do Ronaldo aconteceu as 7, 45 h do dia 06 de abril de 1973. O agente do Dops colocou um revolver na mão do Ronaldo, outro na cintura e uma agenda pequena no seu bolso. Depois mentiram, como sempre, aos jornais que "houve um violento tiroteio".

No formulário do Dops o local de assinatura do delegado é identificado apenas como Romeu(?).

A maioria dos jovens, infelizmente, não tiveram uma testemunha para desmentir a farsa do tiroteio: morreram como bandidos. Nesses casos valeu a palavra das "autoridades", dos assassinos oficiais do governo.

O assassinato do Ronaldo contou com a ajuda do traidor João Henrique Ferreira de Carvalho, atualmente um médico que também atraiçoou o estudante Alexandre Vannuchi.Em entrevista à revista Veja o ex-estudante de medicina e traidor Dr. João Henrique contou com muitos detalhes como agia para entregar os estudantes da USP para os agentes da Ditadura Militar. A traição de João Henrique Ferreira de Carvalho levou à morte pelo menos umas vinte pessoas!

O Ronaldo Queiroz e seus colegas faziam comícios-relâmpagos (pois se demorassem seriam preso e torturados) para esclarecer o povo na rua sobre a nova situação do país.

No Dops mostraram a perigosa arma que usava: um mimeografo (copiadora antiga) muito antiga e uma pilha de folhetos.

O agente assassino demonstrou os instintos sanguinários daqueles que agiam no Dops e no Doi-Code que, com o maior prazer torturavam lentamente as vítimas até a morte ... e depois foram todos "anistiados".

Foram bestas humanas, seres infernais beneficiando-se da impunidade das leis brasileiras. Anistiaram os torturados e os mortos, para demonstrarem como a "lei era justa", mas estes não precisavam de perdão, pois não fizeram nada de errado. A anistia foi para os criminosos!

Os militares só devolveram o Brasil ao povo porque naquele período a dívida brasileira se tornou impagável e a inflação a mais alta de todos os tempos. O povo sofre até hoje as conseqüências daqueles anos que atrasaram o país em relação ao mundo."

São Paulo, 29 de agosto de 2003

Buscar no material digitalizado

Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu em 6 de janeiro de 1945, no Paraguai.

Casada com José Maria Ferreira de Araújo (desaparecido), tiveram uma filha, que hoje vive no Estado de Santa Catarina.

Foi assassinada sob torturas no Massacre da Chácara São Bento, ocorrido no dia 8 de janeiro de 1973, pela equipe do delegado Sérgio Fleury.

Juntamente com Soledad, que estava com 4 meses de gravidez, foram assassinados Pauline Reichstul, Eudaldo Gomes da Silva, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva e Evaldo Luiz Ferreira.

As circunstâncias do massacre que vitimou Soledad e seus companheiros estão na nota referente a Eudaldo Gomes da Silva.

De sua irmã Namy Barret:

“Seu nome refletia a ausência de nosso pai, que já nessa época era perseguido por suas idéias políticas, como o fora também seu pai, nosso avô, o escritor Rafael Barret.

Quando Soledad tinha apenas 3 meses tivemos que fugir para a Argentina, onde passamos a viver num pequeno povoado às margens do Rio Paraná, durante 5 anos; quatro dos quais, nosso pai esteve preso ou perseguido, tanto pela polícia paraguaia como argentina.

Regressamos ao Paraguai e Soledad, com seus cinco anos e sua maneira de ser tão doce, se converteu na adoração de quem a via. Tinha uma forma de falar pausada que lhe valeu o apelido de ‘viejita’ entre seus irmãos. Era uma criatura formosa, de cabelos cor de ouro, macios e longos, pele branca e sobrancelhas de cor castanho escuro, quase negro. Não gostava de caminhar, preferia sentar-se e inventar histórias entre longos suspiros que provocavam o riso e manifestações de carinho de todos que a ouviam...

Adolescente e exilada no Uruguai, dona de uma graça especial para a dança folclórica, se converteu pouco a pouco no símbolo da juventude paraguaia nesse país, tanto que não havia um ato de solidariedade em que ela não era a artista convidada.

Eram tempos de mudanças no Uruguai, a tradição democrática ia perdendo terreno, estava sendo minada. No dia 1° de julho de 1962, Soledad foi raptada por um grupo néo-nazista que a colocou em um automóvel e, sob ameaças de todos os tipos, quiseram obrigá-la a gritar palavras de ordem totalmente contrárias às suas idéias.

Soledad se negou. Então, com uma navalha lhe gravaram na carne uma cruz gamada, símbolo de Hitler e a abandonaram em um local escuro, atrás do parque zoológico de Villa Dolores.

Era o começo das perseguições, prisões e torturas no Uruguai.

Soledad, de vítima passou a ser ‘culpada’ para a polícia e foi de tal forma a perseguição que teve que ir-se. Esteve muitos anos longe de sua família, de sua terra. Um dia conheceu José Maria, se amaram e tiveram uma filha, mas o destino estava traçado, e ele retornou a seu Brasil.

Ela em vão o esperou por mais de um ano e decidiu vir a seu encontro. O fruto desse amor é o mais fiel testemunho do triste destino do nosso Continente. Crianças sem pais, sem o direito de serem crianças, sem o direito à felicidade.

(Namy Barret - transcrito do Boletim “Hasta Encontrarlos!”, publicação da Federação Latinoamericana de Familiares de Desaparecidos - FEDEFAM, Ano IX, n° 46, mayo-junio de 1991.)

Os Relatórios dos Ministérios da Marinha e da Aeronáutica dizem que “foi morta em Paulista/PE em 8 de janeiro de 1973 ao reagir a tiros à ordem de prisão dada pelos agentes de segurança.”

Buscar no material digitalizado
MD_167

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em 9 de novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão, Estado do Rio Grande do Sul, filha de João Luiz Moraes e Cléa Lopes de Moraes.

Foi morta aos 27 anos em 1973, em São Paulo.

Estudou no colégio de Aplicação da antiga Faculdade Nacional de Filosofia e, posteriormente, na Faculdade de Economia e Administração da UFRJ, mas não chegou a se formar, sendo desligada pelo Decreto nº477, de 24 de setembro de 1969.

No Rio, trabalhava como professora de Português no Curso Goiás.

Casou-se, em 18 de agosto de 1968, com Stuart Edgar Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Em 1° de Maio de 1969, foi presa por ocasião das manifestações de rua na Praça Tiradentes/RJ com mais três estudantes, levada para o DOPS e, posteriormente, para o Presídio Feminino São Judas Tadeu. Somente foi libertada em 6 de agosto de 1969, quando foi julgada e absolvida por unanimidade pelo Superior Tribunal Militar. Passou a viver na clandestinidade.

Em maio de 1970 exilou-se na França, onde se matriculou na Universidade de Vincennes e, para se sustentar, trabalhou na Escola de Línguas Berlitz, em Paris, onde lecionava Português.

Com a prisão e desaparecimento de Stuart pelos órgãos brasileiros de repressão política, Sônia decidiu voltar ao Brasil para retomar a luta de resistência. Ingressou na ALN e viajou para o Chile, onde trabalhava como fotógrafa. Posteriormente, em maio de 1973, retornou clandestinamente ao Brasil, indo morar em São Paulo. Em 15 de novembro de 1973 alugou um apartamento em São Vicente, junto com Antônio Carlos Bicalho Lana, com quem se unira. Seu apartamento passou a ser vigiado, sendo presa, juntamente com Antônio Carlos, no mesmo mês, por agentes do DOI-CODI/SP, tendo o II Exército divulgado a notícia de que morrera, após combate, a caminho do hospital (O globo 1º de dezembro de 1973).

Foi assassinada sob torturas no dia 30 de novembro de 1973, juntamente com Antônio Carlos Bicalho Lana.

A autópsia assinada pelos legistas Harry Shibata e Antônio Valentine, apenas descreve as perfurações das balas, sem nada mencionar das torturas sofridas. Afirmam que o crânio sofreu corte característico da autópsia e que examinaram detidamente o corpo.

Durante quase vinte anos a família investigou os fatos relacionados à prisão, tortura e assassinato de Sônia e Antônio Carlos.

Como resultado dessas investigações, a família produziu o vídeo “Sônia Morta e Viva”, dirigido por Sérgio Waismann.

A prisão do casal, em São Vicente, foi detalhadamente planejada, como constatou sua família, durante as investigações junto aos empregados do prédio em que Sônia e Antônio Carlos moravam. Ela costumava, assim que se mudou, tomar banho de sol numa prainha ligada ao prédio e, desde então era observada de um prédio próximo por agentes policiais, através de uma luneta. Dias depois, os mesmos agentes comunicaram aos empregados do prédio que moravam ali dois terroristas muito perigosos e para justificar tal afirmativa “empregaram-se” como funcionários do prédio e passaram a observá-los mais de perto. Certa manhã, bem cedo, quando Antônio Carlos e Sônia pegaram o ônibus da Empresa Zefir, já havia dentro do ônibus alguns agentes, inclusive uma senhora vestida de vermelho. Ao mesmo tempo, nas imediações da agência do Canal 1, São Vicente, já se encontravam vários agentes à espera de que um deles, pelo menos, descesse para adquirir passagens, pois as mesmas não eram vendidas no ônibus. Até hoje, a família não pôde precisar o dia exato da prisão, possivelmente num sábado, depois do dia 15 de novembro, fato este testemunhado por Celso Pimenta, motorista do ônibus, e Ozéas de Oliveira, vendedor de bilhetes, ambos da Agência Zefir.

Existem duas versões a respeito da prisão, tortura e assassinato de Sônia e Antônio Carlos.

A versão do primo do pai de Sônia, coronel Canrobert Lopes da Costa, ex-comandante do DOI-CODI de Brasília, amigo pessoal do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI de São Paulo: depois de presa, do DOI-CODI de São Paulo foi mandada para o DOI-CODI do Rio de Janeiro, onde foi torturada, estuprada com um cassetete e mandada de volta a São Paulo, já exangüe, onde recebeu dois tiros.

A versão do Sargento Marival Chaves, membro deo DOI-CODI/SP: Sônia e Antônio Carlos foram presos e levados para uma casa de tortura na Zona Sul de São Paulo onde ficaram de cinco a dez dias, até morrerem, dia 30 de novembro de 73 e foram colocados, no mesmo dia, à porta do DOI-CODI/SP, para servir de exemplo. Ao mesmo tempo, foi montado um “teatrinho” – termo usado pelo sargento – para justificar a versão oficial de que foram mortos em conseqüência de tiroteio, no mesmo dia 30 (metralharam com tiros de festim um casal e os colocaram imediatamente num carro).

Versão oficial publicada dia 1° de dezembro de 1973 em dois jornais: “O Globo” e “O Estado de São Paulo”: Morte de Sônia e Antônio Carlos, a caminho do Hospital, após tiroteio em confronto com os agentes de segurança, na Avenida de Pinedo, no Bairro de Santo Amaro, cidade de São Paulo, altura do n° 836, às 15 horas.

No arquivo do antigo DOPS/SP foi encontrado um documento da Polícia Civil de São Paulo-Divisão de Informações CPI/DOPS/SP que diz: “Consta arquivado nesta divisão uma cópia xerográfica do Laudo de Exame Necroscópico referente à epigrafada com data de 20 de novembro de 1973.” (Teve o laudo assinado antes de morrer?). Apesar de haverem identificado Sônia Maria, os seus assassinos enterraram-na, como indigente, no Cemitério Dom Bosco, em Perús, sob o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. A troca proposital do nome de Sônia, demonstra a clara tentativa dos órgãos de repressão em esconder seu cadáver.

A família de Sônia conseguiu obter através de processo de número 1483/79 na 1ª Vara Civil de São Paulo, a correção de identidade e retificação do Registro de Óbito. Oficialmente morta, a família pôde transladar seus restos mortais para o Rio de Janeiro, em 1981.

Em 1982, na tentativa de apuração das reais circunstâncias da morte de Sônia, através de processo movido contra Harry Shibata, médico do IML/SP que atesta sua morte (inclusive assinando o atestado de óbito sob o nome falso e o laudo com nome verdadeiro), o IML/RJ constatou que os ossos entregues à família, enterrados no Rio de Janeiro, eram de um homem.

Para sepultar dignamente os restos mortais de Sônia, a família teve que fazer várias exumações, que chegaram a seis. A última exumação apresentava um crânio, sem o corte característico de autópsia e a família não aceitou os restos mortais, por desconfiar que seria mais um engano do Instituto Médico Legal de S. Paulo. Em um de seus depoimentos à CPI realizada na Câmara Municipal de S. Paulo, Harry Shibata declarou que a descrição feita no laudo necroscópico de que houve corte de crânio, não corresponde à verdade, uma vez que essa descrição é apenas uma questão de praxe. Assim declarando, assumiu a farsa com que eram feitos os laudos.

Após serem identificados pela UNICAMP, seu restos mortais, finalmente, foram trasladados para o Rio de Janeiro no dia 11 de agosto de 1991. De seu pai, o Tenente-Coronel da Reserva do Exército Brasileiro e professor de matemática, João Luiz de Morais: “Sônia Maria Lopes de Moraes, minha filha, teve seu nome mudado após o seu casamento com Stuart Edgar Angel Jones, para Sônia Maria de Moraes Angel Jones. Ambos foram torturados e assassinados por agentes da repressão política, ele em 1971 e ela em 1973.

Minha filha foi morta nas dependências do Exército Brasileiro, enquanto seu marido Stuart Edgar Angel Jones foi morto nas dependências da Aeronáutica do Brasil.Tenho conhecimento de que, nas dependências do DOI-CODI do I Exército, minha filha foi torturada durante 48 horas, culminando estas torturas com a introdução de um cassetete da Polícia do Exército em seus órgãos genitais, que provocou hemorragia interna. Após estas torturas, minha filha foi conduzida para as dependências do DOI-CODI do II Exército, local em que novas torturas lhe foram aplicadas, inclusive com arrancamento de seus seios. Seu corpo ficou mutilado de tal forma, a ponto de um general em São Paulo ter ficado tão revoltado, tendo arrancado suas insígnias e as atirado sobre a mesa do Comandante do II Exército, tendo sido punido por esse ato.

Procedi a várias investigações em São Paulo, visando a aferição desses fatos, inclusive tentando manter contato, porém sem êxito, com esse General, tendo tido notícia de que o mesmo sofrera derrame cerebral, estava passando mal e de que sua família se opunha a qualquer contato e a qualquer referência aos fatos relativos a Sônia Maria. As informações sobre as torturas, o estupro, o arrancamento dos seios de Sônia Maria e os tiros, me foram prestadas pessoalmente pelo coronel Canrobert Lopes da Costa e pelo advogado Dr. José Luiz Sobral. Minha filha, em sua militância política, utilizava o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar.

Em 1° de dezembro de 1973, ao ler no Jornal “O Globo” vi uma notícia sobre Esmeralda Siqueira Aguiar. Viajei imediatamente em companhia de minha mulher Cléa, de minha cunhada Edy, de minha outra filha, Ângela, e de meu futuro genro, Sérgio, para a cidade de São Vicente, dirigindo-me diretamente para a Rua Saldanha da Gama, 163, apto. 301, local onde residia Sônia Maria. Ao chegar a esse local, à noite, encontrei-o ocupado por alguns homens, em torno de 5 (cinco) ao que me recordo, membros das Forças da Segurança. Ao me recusar entregar minha carteira de identidade, cheguei a ser agredido. Após ter sido agredido, ameaçado de ser atirado do 3°andar e de ser metralhado por esses homens, consegui comunicar-me com o superior-de-dia do II Exército, em São Paulo, quando então, após identificar-me como Tenente-Coronel, consegui deste uma determinação por telefone diretamente a um dos 5 membros das Forças da Segurança, que me libertassem, mediante o compromisso de dirigir-me para um hotel em São Paulo, onde fiquei juntamente com minha mulher à disposição do II Exército e no dia seguinte prestei depoimentos no DOI-CODI.

Durante esse depoimento, indaguei aos interrogadores a respeito do paradeiro do corpo de minha filha, sendo que um destes respondeu que o corpo só poderia ser visto com a autorização do Comandante do II Exército. Na tarde desse mesmo dia, viajei para o Rio de Janeiro em companhia de minha mulher para conversar com meu amigo, General Décio Palmeiro Escobar, Chefe do Estado Maior do Exército, já falecido, o qual me deu uma carta para ser entregue ao General Humberto de Souza Mello, carta essa em que o General Décio pedia “ao ilustre companheiro e amigo” que me liberasse, assim como minha mulher, de São Paulo, pois necessitávamos permanecer no Rio, onde dirigíamos um Colégio, bem como fosse liberado o corpo de Sônia para um sepultamento cristão.

Regressando a São Paulo em companhia de minha mulher, no dia seguinte, dirigi-me ao Quartel do II Exército para entregar a mencionada carta, sendo certo que o General Humberto não quis receber-me, e a carta foi levada pelo então Coronel Hugo Flávio Lima da Rocha, que, ao voltar do gabinete do General, deu a seguinte resposta: “o General manda te dizer que, por causa desta carta, você está preso a partir deste momento” e, como seu velho companheiro de Realengo, faço questão de, pessoalmente, levá-lo para o Batalhão da Polícia do Exército. No Batalhão da Polícia do Exército, fiquei preso durante 4 (quatro) dias, vindo a ser liberado, sem maiores explicações mas com a recomendação de que “regressasse ao Rio, nada falasse, não pusesse advogado e aguardasse em casa o atestado de óbito de Sônia que seria remetido pelo II Exército e, quanto ao corpo, não poderia vê-lo pois havia sido sepultado”.

Somente decorridos muitos anos pude entender minha prisão, ou seja, naqueles dias Sônia Maria ainda estava viva e sendo torturada e, na medida em que era mantido preso, era possível evitar minha interferência, ao mesmo tempo que, com essa prisão, buscavam amedrontar toda a família.

Apesar do desespero, das ameaças e do conseqüente apavoramento, a família continuou insistindo em conhecer os detalhes sobre a morte de Sônia Maria e, nessa procura, o referido advogado, José Luiz Sobral, que se dizia amigo comum da família e do General Adir Fiúza de Castro, então Comandante do DOI-CODI do Rio de Janeiro, prontificou-se em obter esclarecimentos diretamente com esse General.

O Dr. José Luiz Sobral, ao retornar das dependências do DOI-CODI do I Exército, claudicava um pouco, e insinuava ‘ter levado umas cassetadas’, trazendo-me um presente inusitado: um cassetete da Polícia do Exército, mandado pessoalmente pelo General Fiúza para a família, com a recomendação que não falasse mais sobre o assunto, pois ‘todos estavam falando demais’.

Na ocasião, a família guardou o cassetete sem lhe dar maior importância e só recentemente, há uns 2 (dois) anos, é que pude fazer a interligação dos acontecimentos, ou seja, conclui estarrecido que o verdadeiro significado desse presente é que o mesmo General Fiúza nos enviava, como advertência, o próprio instrumento que provocara a morte de Sônia Maria.

Este cassetete se encontra em meu poder, podendo ser apresentado a qualquer tempo. A partir da morte de Sônia, todo final de semestre, nas Declarações de Herdeiros que prestava ao Ministério do Exército, colocava Sônia Maria Lopes de Moraes como minha herdeira, assinalando sempre que ‘presumivelmente morta pelas Forças de Segurança do II Exército, deixo de apresentar a certidão de óbito porque não me foi fornecida ainda pelo II Exército, conforme prometido’.

Essas declarações causavam mal-estar entre os militares, tendo sido aconselhado pelo chefe da pagadoria do Exército a requerer a certidão diretamente ao Comandante do II Exército. Apresentado o requerimento, em setembro de 1978, recebi uma correspondência onde o General Dilermando Gomes Monteiro, então Comandante do II Exército, afirmava que ‘não cabe ao II Exército fornecer o atestado solicitado. No Cartório de Registro Civil do 20° Sub Distrito - Jardim América/SP, foi registrado o óbito de Esmeralda Siqueira Aguiar, filha de Renato A. Aguiar e de Lucia Lima Aguiar.

O requerente procure o Cartório em causa, se assim o desejar.’ O documento acrescentava, ainda, que ‘mandara retirar do Cartório referido, por pessoa indiscriminada, uma certidão de óbito registrada, que fora fornecida sem qualquer problema’. A referida correspondência, subscrita pelo Comandante do II Exército, foi o primeiro reconhecimento oficial da morte de Sônia Maria. Apesar de ter requerido o atestado de óbito em nome de Sônia Maria Lopes de Moraes, a resposta do Comandante do II Exército foi a entrega de uma certidão de óbito em nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. Tempos depois da entrega desse atestado de óbito, tomei conhecimento de um outro documento, ‘Auto de Exibição e Apreensão’, datado de 30 de novembro de 1973, em cujo verso há uma nota do DOI-CODI do II Exército, onde, no final, consta um ‘em tempo: material encontrado em poder de Esmeralda Siqueira Aguiar, cujo nome verdadeiro é Sônia Maria Lopes de Moraes. No Cemitério de Perus, consegui encontrar o registro de sepultamento de Esmeralda Siqueira Aguiar, na Quadra 7, Gleba 2, Terreno 486, com algumas rasuras, em datas principalmente.

Nessa oportunidade, os ossos de Sônia não podiam ser exumados porque estava sepultado na parte de cima um outro cadáver. Tivemos que aguardar ainda 3 (três) anos para a pretendida exumação, ocorrida em 16 de maio de 1981. Nessa ocasião reclamei das divergências existentes entre o que constava do laudo assinado pelos legistas Harry Shibata e Antônio Valentine e a realidade da ossada retirada, pois, ao contrário do que constava nesse laudo, o crânio que seria o de Sônia não apresentava nenhum orifício de entrada ou saída de projétil de arma de fogo e estava inteiro.

Apesar dessas discrepâncias, levamos os ossos para o Rio de Janeiro, sepultando-os no Cemitério Jardim da Saudade, mais precisamente no Lote 18874, Espaço B, Setor IV, e, durante um ano, todos os sábados, juntamente com minha mulher, ia ao Cemitério e levava flores em homenagem a minha filha. Além da ação proposta na I Vara de Registros Públicos para retificação de identidade, intentamos outra na Auditoria Militar de São Paulo, pleiteando a abertura de IPM para averiguar as verdadeiras causas da morte de minha filha, bem como a falsidade da certidão e laudo assinados por Harry Shibata e Antonio Valentine. Esse processo, na Auditoria Militar, teve seu curso normal até que o Comandante da II Região Militar, General Alvir Souto se negou a cumprir determinação do Juiz para a abertura de IPM, alegando insuficiência de provas.

Nessa ocasião a Juíza Dra. Sheila de Albuquerque Bierrembach determinou a exumação dos restos mortais sepultados no Cemitério Jardim da Saudade, bem como o seu exame pelo IML do Rio de Janeiro, constatando esse Instituto que aquela ossada não pertencia a Sônia, mas sim a um homem, negro, de aproximadamente 33 anos de idade. Diante do estranho resultado dessa última exumação, a mesma Juíza Sheila Bierrenbach determinou que se fizessem, no Cemitério de Perus, tantas exumações quantas fossem necessárias até serem encontrados os restos mortais de Sônia Maria. Nessa busca, participei juntamente com minha mulher, familiares e amigos ainda de mais 4 exumações nesse mesmo Cemitério de Perus.

Terminada a última dessas exumações foi encontrada uma ossada, que poderia ser a de Sônia. Porém, o crânio encontrado também não estava seccionado e os orifícios de entrada e saída de projéteis não coincidiam inteiramente com o laudo. Não tínhamos então a ficha dentária de Sônia, que havia sido perdida por seu dentista no Rio de Janeiro, Dr. Lauro Sued. Não tínhamos elementos de convicção para aceitar aqueles restos mortais como sendo os de Sônia e, por isso, tentamos impugnar as conclusões do IML de São Paulo, apresentando 11 quesitos e 10 fotografias do crânio de Sônia quando esta tinha 11 anos de idade.

A juíza, Dra. Sheila, finalmente, aceitou a conclusão do IML de São Paulo, no sentido de que aqueles eram, oficialmente, os restos mortais de Sônia Maria de Moraes Angel Jones.”  

Buscar no material digitalizado
Acesse também:

Mala Direta
Cadastre-se e receba informação sobre as atividades do GTNM e o movimento de luta pelos direitos humanos.

Redes Sociais
siga o GTNM